Os campos da História Social da Escravidão e do Pós-Abolição tem consolidada produção acadêmica no Brasil e atualmente muitos grupos de trabalho com as temáticas têm sido construídos nas universidades brasileiras, como o exemplo do Grupo de Estudos do Pós-Abolição, o GEPA da UFSM. A Escravidão como campo de estudos sofreu importantes transformações no final do século XX ao sofrer os impactos das reflexões historiográficas da Micro-História Italiana, da Nova História Francesa e do revisionismo britânico sobre o campo do Marxismo. Fundamentalmente, a historiografia passou a buscar a experiência histórica do povo negro no Brasil, entendida e realizada por suas próprias visões de mundo, pelo seu próprio protagonismo. Esta mudança na perspectiva de abordagem da História Social foi fundamental para que surgissem diferentes estudos que evidenciaram inúmeras práticas de resistência e luta por cidadania ao longo do tempo histórico. Neste processo de revisão historiográfica, também foi problematizada uma visão que tornava a experiência social livre da comunidade negra invisível durante a escravidão. Ainda, foi problematizada a premissa da invisibilidade da comunidade negra no após 13 de maio, que teria se dissolvido na massa de trabalhadores/as livres nacionais. O que percebemos é que a comunidade negra em plena vigência do sistema da escravidão já experimentava diferentes experiências de liberdade e a construção de instituições e práticas sociais que buscavam lutar contra o racismo e por políticas de cidadania. A agência social do povo negro durante e depois da escravidão legou uma ampla rede de experiências e trajetórias de vida que hoje são objetos de pesquisa. O tema dos clubes sociais negros, é basilar neste sentido, pois evidenciou a construção de redes associativas que disseminaram a afirmação de uma identidade racial negra positiva e a luta por cidadania.
Recentemente, no ano de 2012 foi criado o Grupo de Trabalho Emancipações e Pós-Abolição da Associação Nacional de História-ANPUH, o que representa o crescimento do campo de pesquisa que se propõe a problematizar a exclusiva análise da escravidão, negligenciando as experiências de liberdade no período, vivenciadas pelo próprio povo negro e as formas como esta comunidade conduziu suas organizações sociais pautando o racismo e a cidadania.
Desde 2011, o Laboratório de História Social e Política (LAHISP), vinculado ao curso de História-Licenciatura, tem gerado pesquisas sobre as experiências em escravidão e liberdade de africanos e descendentes na região de Jaguarão. Projetos de pesquisa foram construídos neste sentido, como “Mapeamento de fontes para a história dos africanos e afro-descendentes na região fronteiriça que compõe a cidade de Jaguarão”, “A fronteira policiada: um estudo sobre Polícia e Prisão na cidade de Jaguarão”, o PET História, e o “Clube Social 24 de Agosto: memórias negras”. Todos estes projetos alimentaram a produção de TCCs, e muitos/as de seus/suas autores/as hoje continuam tocando adiante suas pesquisas em formatos de dissertações e teses nos programas de pós-graduação do país.
O projeto do GEESPA, justificava-se pela demanda gerada pelos/pelas próprios/as estudantes que reivindicaram uma sistematização do debate a respeito dos dois campos. Desde 2011, portanto, muitos/as estudantes se formaram agregando estas experiências de pesquisa que hoje são fundamentais para compreender a experiência histórica da comunidade negra do lugar. Egressos do curso que passaram por estes projetos, hoje estão cursando seus mestrados e doutorados nos programas de pós-graduação do país. Uma nova geração adentrou na universidade buscando realizar projetos que registrassem e visibilizassem as histórias do povo negro de Jaguarão, Arroio Grande e região. A partir da provocação e do engajamento dos/as próprios/as discentes, este projeto vem se realizando desde o último semestre de 2019, agregando debates e trocas de saberes fundamentais para a formação na universidade e para a luta antirracista.