Por Alessandra Troian e Mitali Maciel
Na última quinta-feira, dia 13 de abril, ocorreu a quarta reunião do Círculo de Estudos em Desenvolvimento e Ruralidades. A atividade, como vem ocorrendo corriqueiramente, foi realizada no formato híbrido, presencialmente na sala de reuniões da Unipampa, campus Santana do Livramento e de forma remota via Google Meet. O encontro aconteceu das 14h às 16h e contou com a presença de onze integrantes.
A reunião visou a discussão da temática “Indicadores de sustentabilidade em Sistemas Pecuários no Bioma Pampa: uma proposta metodológica NEXUS-MESMIS”. O tema elencado para o debate do círculo de estudos, contou com a apresentação e a condução do pesquisador João Garibaldi Almeida Viana, professor titular da Pós-Graduação em Administração (PPGA) da UNIPAMPA e do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural (PPGEXR) da UFSM.
O professor João Garibaldi iniciou a sua exposição, apresentando as preocupações em nível global do World Economic Forum (Fórum Mundial Econômico), em relação às disparidades econômicas e falhas de governança nos países, com graves riscos e impacto mundial. Assim, foi evidenciada a importância de políticas e ações em três grupos de riscos, a saber: 1) o nexo “desequilíbrios macroeconômicos”; 2) nexo “economia ilegal”; e 3) nexo “água-alimento-energia”.
Com a Chamada MCTI/CNPq nº 20/2017 – Nexus II – o projeto “Os sistemas de produção pecuários na Bacia do Ibirapuitã e suas relações com a água e a energia na produção de alimentos – Nexus Pampa” foi um dos sete aprovados para serem desenvolvidos com foco no Bioma Pampa. O projeto foi idealizado e realizado através da coparticipação e integração de diversas instituições, tais como: UNIPAMPA, UFSM, UFRGS, URCAMP, IFSUL, EMATER-RS, IRGA, entre outras.
Nesse sentido, foi exposto que a segurança hídrica, alimentar e energética das populações passa pela interdependência entre os eixos supracitados. Por isso, o projeto preocupou-se em propor ações articuladas, especialmente, para o nexo 3. O professor João Garibaldi foi o responsável pela coordenação da equipe, que pesquisou sobre a produção de alimentos e a sustentabilidade.
Devido ao vasto território que compreende o Pampa Gaúcho, o projeto realizou um recorte pelos critérios de dimensões e especificidades, sendo a Bacia Hidrográfica do Rio Ibirapuitã, o espaço empírico estudado. A bacia foi dividida em seis sub-bacias para o desenvolvimento da pesquisa.
Com o objetivo de contribuir ao debate sobre sistemas pecuários e sustentabilidade no Bioma Pampa, utilizou-se a proposta metodológica NEXUS-MESMIS, para a elaboração de indicadores de sustentabilidade. Para o estudo, as dimensões MESMIS (social, econômica e agroecológica) foram substituídas pelas dimensões do nexo água- alimento-energia. A construção da metodologia com indicadores para a análise, contou com uma interdisciplinaridade e abordagem participativa, abrangendo mais de 70 integrantes em todas as fases do ciclo NEXUS-MESMIS.
Na fase da pesquisa de campo, foram encontrados 2685 estabelecimentos pecuários (sistemas pecuários extensivos, integrados (arroz e/ou soja) e de produção de leite). Para a pesquisa, estatisticamente, foi extraída uma amostra estratificada de 121 estabelecimentos, a qual levou, aproximadamente, 1,5 anos na construção dos indicadores.
O professor João Garibaldi contou que o grupo realizou a análise em diferentes níveis (dimensões, âmbitos e atributos) e em diferentes escalas (propriedade, sistema de produção, sub-bacia hidrográfica e bacia hidrográfica). Como principais resultados, sintetizou-se que: os índices de sustentabilidade para a dimensão água foi de 87,89; energia 63,52; e alimentos 50,47, respectivamente. Cabe destacar que quanto mais próximos de 100 mais sustentável (perfeitamente sustentável), e mais próximo de 0 mais crítico (perfeitamente insustentável). Na dimensão alimento, o menor valor foi no âmbito da comercialização e consumo, gerando um índice de 42,81. E na dimensão energia, o menor valor encontrado foi a energia térmica, com 41,49 – ambos geraram um índice de alerta. A dimensão água foi a que gerou maiores índices de sustentabilidade, em patamares elevados, acima de 85,39, caracterizando-se como ideal.
Ainda, o professor comentou que a metodologia MESMI se baseia na premissa de que a sustentabilidade deve ser definida por cinco atributos gerais: produtividade, estabilidade, adaptação, equidade e autogestão. Assim, como índices de sustentabilidade para esses atributos, encontrou-se o maior índice no valor de 72,31 para a autogestão e o menor índice 62,75 para a equidade (ambos no limiar de aceitável).
Diante dos resultados apresentados, o professor João Garibaldi destacou que os indicadores servem como ferramenta de apoio à decisão pública e privada. Além disso, os indicadores auxiliam na mensuração do potencial de preservação dos sistemas pecuários, bem como na agregação de valor aos produtos. Ressaltando Destacando-se também como subsídio para políticas públicas, de extensão e de desenvolvimento rural e para a discussão de serviços ecossistêmicos.
O professor finaliza a explanação agradecendo o espaço destacando que diversos são os dados coletados e obtidos no decorrer dos mais de quatro anos de pesquisa e que muitos deles ainda não foram analisados. O professor ainda convidou os pesquisadores do Círculo, que se vinculam à linha de pesquisa Estudos rurais, agropecuária familiar e sustentabilidade e que possuem interesse em trabalhar com a temática, a se juntarem a ele na escrita e publicitação dos seus resultados de pesquisa.
Por fim, o CEDER agradece a participação e a presença de todos, em especial o professor João Garibaldi que, gentilmente, apresentou o processo e os resultados da sua pesquisa.