Laboratório de Estudos de História do Mundo Árabe e Islã (LEHMAI / Universidade Federal do Pampa, Campus Jaguarão)
Nós, integrantes do LEHMAI, com o presente texto apresentamos nossa posição frente aos acontecimentos deflagrados no dia 07 de Outubro, que rapidamente conduziram a mais uma etapa do esforço genocida do Estado de Israel contra a população civil palestina.
As mídias corporativas se empenham em apresentar a ofensiva do Hamas contra Israel de forma totalmente descontextualizada. As informações veiculadas conduzem a pensar que o ataque, que infelizmente resultou na perda de vidas de civis israelenses, ocorreu sem qualquer motivação prévia, sendo uma agressão movida por pura irracionalidade e perversão terrorista árabe.
Essa versão da “história” desconsidera quase um século de violenta ação colonial sionista sobre a população árabe palestina. Em 1948, com a criação de Israel, ocorreu também a Nakba, a Catástrofe do povo palestino, submetido a um processo de limpeza étnica, silenciamento e agressões contínuas que passaram a fazer parte da lógica de funcionamento do Estado de Israel.
A convicção de certos “especialistas”, que nas grandes mídias difundem, enraivecidos, o direito ilimitado de autodefesa de Israel, mesmo que isso ocasione a dizimação da indefesa população civil de Gaza, omite que a beligerância do Hamas é fruto do brutal colonialismo israelense, que sistematicamente promove um terrorismo de Estado. Classificar a Resistência palestina como “terrorismo”, tende a justificar, indiscriminadamente, qualquer ação do Estado de Israel. Esta forma perversa de abordar a situação faz pensar que o povo palestino é o único culpado por seu próprio assassinato. Os palestinos de Gaza seriam os maiores responsáveis pela brutalidade que sofrem com os contínuos bombardeios.
O que temos diante de nossos olhos, amplamente registrado, não é um conflito, não é uma guerra. Utilizar as palavras “conflito” ou “guerra” induz a uma falsa equivalência que, de fato, não existe. Não há como comparar o poder econômico, político e militar de Israel com os parcos recursos das forças de resistência palestina. Israel controla o espaço aéreo, a costa marítima, o fornecimento de água, luz, recursos de alimentação, suplementos médicos e a possibilidade de deslocamento dos palestinos. Não existe uma guerra, há uma situação de ocupação colonialista que perdura há quase um século. Atualmente, com o apoio do governo de extrema direita de Benjamin Netanyahu, a expansão colonial continua através de colonatos ilegais que transformam o território da Cisjordânia em uma grande colcha de retalhos, inviabilizando a constituição de um futuro Estado soberano palestino.
Há 75 anos a população palestina é desumanizada e marginalizada. Com os acontecimentos recentes, também passou a ser, abertamente, animalizada e demonizada. O animalizado recebe características naturais de violência irracional, que justificam sua completa subjugação pela força. O demonizado, está além da marginalidade, da desumanização e da animalização. Este conceito oferece o direito e, mesmo, a necessidade premente de extermínio do grupo demonizado, sendo permitido utilizar qualquer recurso para alcançar esse objetivo.
Existem muitas formas de matar um povo. Bombardeá-lo, fuzilá-lo e enterrá-lo nos escombros de suas próprias casas. Mas, estes não são os únicos recursos da necropolítica do Estado de Israel. A circunscrição em guetos, que não oferecem as mínimas condições de uma vida digna, a privação da esperança, a eliminação de perspectivas futuras, a limitação ao acesso à educação e à saúde, a negação ao direito ir e vir, a supressão da utilização de recursos hídricos, a expropriação de suas terras e bens, a criação de leis que inviabilizam a integração social e promovem o racismo e a segregação, a inferiorização da sua cultura e tradições, o silenciamento e esquecimento de sua história, enfim, são formas lentas, mas extremamente efetivas, para o apagamento de um povo.
Em Gaza, Israel não está mais disposto a esperar.
Toda nossa condenação e repúdio ao estado colonial terrorista de Israel, que neste exato momento promove o genocídio de Gaza. Toda nossa solidariedade e consternação aos habitantes de Gaza. Toda nossa admiração ao povo palestino que através de sua contínua luta por sobrevivência e defesa de sua identidade, dentro e fora da Palestina, ensina ao mundo, todos os dias com sua dor, novos significados para a palavra Resistência.
Viva Palestina Livre, do Rio ao Mar!
Carta Aberta do LEHMAI, lida publicamente no encerramento do Ato “Por Uma Palestina Livre – Memorias e História da Colonização”, ocorrido no dia 10 de Novembro, no Campus Jaguarão da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)