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Nota em Apoio ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Laboratório de Estudos de História do Mundo Árabe e Islã (LEHMAI / Universidade Federal do Pampa, Campus Jaguarão)

Com o presente texto o Laboratório de Estudos da História do Mundo Árabe e Islã (LEHMAI/UNIPAMPA), apresenta seu apoio a declaração do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada no último dia 18, na coletiva de imprensa da 37º Cúpula da União Africana.

A declaração do presidente Lula, ainda que possa ser debatida por eventuais contradições conceituais, cumpriu uma necessidade urgente de chamar a atenção para a Causa Palestina de forma contundente e provocativa. A retórica de afrontamento abordou uma temática tabu, as possíveis aproximações entre a política do estado colonialista sionista de Israel, contra a população palestina, e as políticas existentes na alemanhã nazista, quando da perseguição da população judia.

Comparações entre as políticas nazistas e a política colonial sionista do Estado de Israel, não são novidade, já foram feitas em 1948, pela intelectual judia Hanna Arendt e o cientista judeu Albert Einsten, em carta aberta, no jornal The New York Times e, recentemente, pela escritora judia estadunidense Masha Gessen, que publicou um ensaio na revista New Yorker, comparando aberta e diretamente Gaza ao Gueto de Varsóvia. Em ambos os casos o objetivo era clamar publicamente, causando revolta e indignação.

Cada processo genocida tem suas particularidades históricas, tornando o exercício de comparação uma tarefa melindrosa. Uma das acusações recorrentes contra a fala do Presidente Lula é a comparação direta nos números de vítimas, entre 6 milhões de judeus exterminados em toda Europa, contra “apenas” 30 mil palestinos mortos em Gaza. Vale chamar a atenção que este é o número de palestinos mortos (até o momento) somente nesta ofensiva israelense. Não há outra palavra, além de genocídio, para definir a execusão de 30 mil pessoas, incluindo cerca de 10 mil crianças, que estão encurraladas em um minúsculo território, sem possibilidade de fuga e sem capacidade de defesa. Se nada for feito, caminhamos a passos largos para a normalização do extermínio da população de Gaza. É inegável que presenciamos uma forma de holocausto palestino.

A palavra Holocausto, apropriada pela historiografia para definir um dos acontecimentos mais terríveis da História humana, o extermínio em lógica industrial da população judáica da Europa pela política nazista alemã, tornou-se sinônimo da Shoa judáica. Entretanto, o conceito de holocausto, muito antes das funestas consesquencias da “Solução Final”, foi amplamente utilizado para definir diferentes massacres, mortandades e aniquilações de povos. A palavra holocausto provem da raiz grega holokauston, que pode ser entendida como “sacrifício consumido em chamas”. Definição que, ao nosso ver, é apropriada para definir o sacrifício indiscriminado de milhares de vidas, em sua maioria esmagadora de civis indefesos e crianças, que têm suas existências consumidas pelo fogo das bombas do exército de Israel.
Pelo menos desde 1948, a população palestina, sob ocupação colonial, vive seu próprio holocausto, com características particulares, suportanto segregação, humilhações, deslocamentos, desenrarizamentos, limpeza étnica, invisibilização, silênciamento, apagamento, violência de Estado (através de leis discriminatórias), subordinação a leis marciais, punições coletivas, desapropriações, sanções econômicas, toques de recolher, circunscrição territórial (com negação de livre movimentação), racionamento sobre recursos básicos para sobrevivencia (alimentação, água e medicamentos) e eliminação fisica sistemática (sempre que possível, em grandes proporções). De fato, cada genocidio tem suas particularidades, existem muitas formas de se matar um povo e nem todas passam pelo acelerado extermínio em escala industrial.

O governo de Israel recorre constantemente à estratégia de colocar-se no lugar de ofendido, provocando ruído, exigindo retratações, definindo toda e qualquer forma de contestação de sua política assassina de ocupação como antissemitismo. Trata-se de uma manobra evasiva, uma forma de desviar a atenção do verdadeiro problema, a verdadeira ofensa, a terrível crise humanitária hora vivida em Gaza, levada às últimas consequências pela política de extrema direita de Netanyahu, que insiste em tratar toda população palestina – homens, mulheres, idosos e crianças – como integrantes do Hamas. A confusão intencional entre antissemitismo e antisionismo transforma críticas à política genocida do Estado de Israel em um ataque a todos os judeus, tática que se apresenta como uma eficiente chantagem que atua através do constrangimento. Enquanto isso, acumulam-se denúncias contra a brutalidade da política de estado israelense, em sua grande maioria ignoradas, naturalizando a banalidade da violência contra os palestinos.

O presidente Lula, em nenhum momento, em sua declaração, demonstrou postura negacionista ou banalizou o Holocausto, pelo contrário, chamou a atenção para a violência incomensurável e à injustiça vivida pela população judáica européia nesse traumático acontecimento histórico. O incômodo causado pela sua fala, que gerou tanta polêmica, foi comparar esse sofrimento com o vivido pelos palestinos em Gaza atualmente. Não houve a desconsideração de uma brutalidade, mas a constatação de duas.

Toda nossa solidariedade ao Povo Palestino! Palestina Livre!