O Sionismo é um movimento político que se manifestou no final do século XIX, através da comunidade judaica europeia, que defendia a “restauração” de um Estado judeu independente. Moses Hess (1812-1875), o primeiro teórico do Sionismo, utilizou a perseguição sofrida pelos judeus para defender e justificar a necessidade da criação de uma nação judaica na Palestina.
O termo Sionismo será criado por Nathan Birnbaum (1864-1937), com intenção de fazer referência a Sião, um dos nomes bíblicos de Jerusalém. A utilização deste termo tinha como objetivo um apelo religioso, que fortaleceria o movimento político. Ilan Pappé, em seu livro A limpeza étnica da Palestina (2017), apresenta que o Sionismo secularizou e nacionalizou o judaísmo, pois utilizou o território bíblico palestino como fundamento de um movimento nacionalista.
Theodor Herzl (1860-1904), considerado o pai do Sionismo moderno, passou a se interessar pelo judaísmo após o processo de acusação de traição enfrentado pelo oficial francês judeu Alfred Dreyfus, no ano de 1894. A partir deste acontecimento, Herzl concluiu que não havia qualquer esperança de integração da população judaica em outras sociedades. Sendo assim, para ele, a única solução seria os judeus terem o seu próprio lar nacional.
Os sionistas viam a população nativa da Palestina com desprezo. Segundo Jabotinsky (1880-1940), os judeus não tinham nada em comum com aquilo que para eles significava o Oriente, e agradeciam a Deus por isto. Em sua visão o Oriente representava passividade psicológica, estagnação social e cultural e despotismo político e, embora os judeus tenham se originado no Oriente, eles pertenceriam cultural, espiritualmente e moralmente ao Ocidente. Este movimento pregava (ou ainda prega) a superioridade cultural da civilização ocidental, que deveria ser levada as terras do Oriente.
Israel Zangwill (1864-1926), para definir a Palestina, criou o slogan “uma terra sem povo para um povo sem terra”, propagado pelas principais lideranças sionista (Theodor Herzl, Ben-Gurion e Chaim Weizamann). Com este slogan os sionistas popularizaram e deram “ares de verdade” a concepção de que os árabes palestinos não eram um povo a ser considerado. Partia-se do princípio que a Palestina era uma terra praticamente desabitada, que deveria ser dada ao seu povo por direito, os judeus, que não tinham território próprio e, por isso, estavam espalhados pelo mundo. Segundo Weizmann (1874-1952) para os britânicos os árabes palestinos eram apenas centenas de milhares de negros (kushim) sem valor.
O Sionismo utilizou da sua falsa ideia de movimento de libertação nacional para incorporar uma ideologia de matriz colonial. Essa representação corresponde ao que o intelectual palestino Edward Said define como Orientalismo, um estilo de pensamento baseado na distinção ontológica e epistemológica entre o Oriente e o Ocidente. Para Said, a existência contínua de um povo árabe-palestino é fundamental para entender o impasse que existe entre o Sionismo e o Mundo Árabe. E que Israel, assim como seus defensores, tentou (e ainda tenta) silenciar os palestinos com discursos e ações, pois o Estado judeu se forma principalmente em cima da negação do povo palestino (SAID, 2012).
REFERÊNCIAS:
Misleh, Soraya. Al Nakba: um estudo sobre a catástrofe da Palestina, São Paulo, Editora Sundermann, 2017.
Pappé, Ilan. A Limpeza Étnica da Palestina. Editora Sundermann, 2017.
SAID, Edward W. A questão da palestina/ Edward W. Said; tradução Sonia Midori. São Paulo: Ed. Unesp, 2012.
SAID, Edward. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente, Companhia de Bolso, 2007.
Autora: Gabriela Almeida Abreu
Orientador: Prof. Dr. Edison Bisso Cruxen