O que foi a Guerra Civil Libanesa? | Laboratório de Estudos em História do Mundo Árabe e Islã

O que foi a Guerra Civil Libanesa?

A Guerra Civil Libanesa (1975-1990) apresenta extrema complexidade, sendo impossível em poucas linhas, que cabem nessa seção, dar conta de seus processos. Para tanto, o foco estará direcionado, principalmente, às suas raízes. O conflito libanês relaciona fatores intrínsecos de sua realidade política e social e interesses de potencias vizinhas (Israel, Egito e Síria). Dentre os fatores internos, a presença dos palestinos foi determinante tanto na deflagração, como na conduta da guerra. As alianças étnicas e religiosas, fugazes e paradoxais e uma política clientelista, geraram o enfraquecimento do estado libanês, cada vez mais fragmentado. Conflitos étnicos-confessionais ocorriam desde que a região estava sob controle do Império Otomano (séculos XIV-XX). 

Essas divisões sectárias, pré-existentes ao estado libanês, acentuavam os conflitos religiosos que, passo a passo, reforçavam o sentimento de pertencimento a um grupo específico, dificultando, em muito, a aceitação de uma política de Estado. Os conflitos armados, pelo menos, desde o século XIX, propiciaram uma convivência excludente entre drusos, cristãos e muçulmanos. O “Pacto Nacional” (Pacto Político Confessional, 1943), representa a base do sistema político libanês, onde o Presidente do Líbano é um Cristão Maronita; seguido pelo Primeiro Ministro, um Muçulmano Sunita e o Presidente da Câmara dos Deputados, um Muçulmano Xiita. O Pacto, no entanto, favoreceu diretamente as duas maiores comunidades, a dos muçulmanos sunitas e dos cristãos maronitas. O favorecimento destes dois grupos e as disputas de privilégios e espaços políticos entre eles, fomentaram a escalada do conflito armado.

A Guerra dos Seis Dias, em 1967, ocasionou um novo redimensionamento geopolítico do Oriente Médio. Israel venceu a aliança entre Egito, Síria e Jordânia, ocupando o Sinai e as Colinas de Golã, e os territórios palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, potencializando a migração de palestinos para o Líbano. A chegada de uma nova leva de palestinos ao território libanês, provindos da Jordânia, após o Setembro Negro (1970-1971), intensificou a instabilidade política do país. Os refugiados se assentaram no sul do Líbano, região fronteiriça com Israel. O governo logo tratou de impor limitações a esta população, marginalizando-a, confinando-a em campos, sob péssimas condições de vida e com restrições de atividades profissionais, para não competirem com os libaneses. Esta situação contribuiu para que os campos de refugiados se tornassem ambientes de intensa movimentação de guerrilha. Neste contexto, os palestinos, através da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), liderada por Yasser Arafat, passaram a combater Israel atacando-o a partir da fronteira sul libanesa. 

Em 06 de Julho de 1982 Israel invade o Líbano com a intensão de destruir a infraestrutura militar da OLP; eliminar sua capacidade de bombardear o norte de Israel; ajudar a reconstruir o governo central libanês, apoiando o aliado de Israel, o falangista maronita Bashir Gemayel (líder miliciano extremista contra a presença palestina no Líbano) e destruir a base territorial autônoma da OLP. No dia 16 de Setembro, o exército israelense foi conivente em uma da piores atrocidades ocorridas durante a Guerra Civil do Líbano, ao apoiar estrategicamente os falangistas das milícias maronitas de Gemayel (assassinado recentemente), a invadirem e massacrassem a população civil dos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila. 

O desfecho da Guerra Civil teve como principais desdobramentos a expulsão da OLP do Líbano, que se refugiou na Tunísia, a ocupação de parte do território libanês pela Síria (1975-2005), a criação de um “território tampão”, ao sul, dominado por Israel (1982-2000) e a ascensão do Hezbolla (organização islâmica xiita, que passou a oferecer resistência armada contra a presença israelense no sul do Líbano). 

REFERÊNCIAS:

MAALOUF. Ramez Philippe. Geoestratégias em confronto no Líbano em guerra (1975-90). Dissertação de Mestrado da Universidade de São Paulo (USP), Departamento de Geografia. Programa de Pós Graduação em Geografia Humana, 2011.

NETO. J, Z & SAND. E, B. Libano: nação ou agregado de grupos religiosos. Revista UECE, 2010.

RESENDE, B. T. N. (2019). Uma Guerra Quente no Líbano? O início da Guerra Civil Libanesa sob a perspectiva da revista Veja (1975). Revista Hydra: Revista Discente De História Da UNIFESP, 101), 2016. Pp. 207-225.

ZAHREDDINE, Danny. Os circulos concêntricos da política libanesa e suas repercussões para o Oriente Médio, 2011.

VELASCOS, Maria: Los palestinos en el Libano: Evolución del colectivo y análisis del impacto sobre el pais a partir de 1948. Departament de Dret Públic i Ciêncies Historico-Juridiques, 2015.

Autor: Prof. Dr. Edison Bisso Cruxen