Vislumbra-se pelo LIFE-Unipampa-Caçapava do Sul possibilidades de que licenciandos, professores universitários e da Educação Básica descubram e construam novos modos de aprender-ensinar e de transformar aspectos da realidade local/regional. Nessa mesma perspectiva, pretende-se que o LIFE constitua-se um DISPOSITIVO* capaz de criar condições para que a equipe o construa intervindo-pesquisando através das experiências nas escolas; das experiências de que compartilham nas aulas do curso de licenciatura (ensino); das experiências nos grupos de estudo, que transformam o que se captura nas intervenções em produção teórica e metodológica (pesquisa); das experiências que disponibilizam os conhecimentos para os demais professores, na forma de oficinas práticas e cursos (extensão).
Para aproximar-se deste movimento de construção de conhecimentos e saberes originados entre o macro-e-o-micro, entre o local-e-o-global, entre o comum e o específico, entre a universidade-e-a-sociedade, o LIFE assume o caráter dialógico e sistêmico/complexo da construção do conhecimento interdisciplinar e contextualizado, enquanto pressuposto metodológico. Por essa perspectiva, assume-se que, questionar certa realidade (educacional), numa ótica interdisciplinar complexa, produz um nó problemático num duplo sentido: (i) métodos convencionais de inserção na pesquisa e na formação, tratados isoladamente, não fornecem respostas adequadas em um contexto onde as diferenças nos modos de pensar e de produzir, em interação, são privilegiadas; (ii) reciprocamente, a pesquisa aliada à formação (extensão) requer que esta seja vista em situação de intervenção, enquanto interface indissociada desse mesmo contexto. Nesta linha, um primeiro ponto aponta para a relevância de situar a pesquisa e o locus de sua problematização nos próprios contextos de existência da ação educativa e não mais segundo experimentos bem delimitados e assépticos feitos do “exterior”. O recorte metodológico a ser efetuado implica em um operar, ao mesmo tempo, pelos planos do pensamento investigativo, do pensamento conceitual e da criação. Um segundo ponto é o entendimento de que a pesquisa em Educação tem como condição a Dialogia (Silveira, 2010). Trabalhar com o pressuposto dialógico em pesquisa é, antes, considerar múltiplas vozes em relação de tensão entre si. Tanto as vozes dos participantes da experimentação, quanto às vozes dos autores de referência teórica e a dos membros do LIFE, tensionam-se na construção de um comum na diversidade e na multiplicidade das ações. As estratégias, por esse viés metodológico, alinhadas aos objetivos do LIFE, podem ser descritas como:
i) constituição de um espaço-tempo para a mobilização de saberes de diferentes áreas do conhecimento e para a produção interdisciplinar, tendo em vista o pressuposto dialógico e sistêmico/complexo. Entende-se a mobilização de variados e múltiplos conhecimentos como condição essencial para o desenvolvimento das atividades que estão a serviço de um processo educativo com relevância social. As ações educativas geradas e/ou potencializadas pelo LIFE têm como pressuposto básico a convergência (tensionada) com o campo de atuação dos sujeitos (envolvendo suas produções de sentidos e significação) e o compromisso com a construção de conhecimentos com relevância social e humana.
ii) aproximação dos sujeitos participantes do LIFE: grupos de docentes da licenciatura (Ensino Superior) e das escolas (Educação Básica); grupos de estudantes (de graduação e da Educação Básica). Busca-se interação no ato de ensinar-aprender, promovendo um trabalho cooperativo entre as diferentes esferas da educação pública e seus atores. Aposta-se na possibilidade de construção de trabalhos por projetos, em redes, em equipes, nas quais predominem o compartilhamento de experiência e construção de saberes através destas interrelações. O sentido de aproximação também está entendido como possibilitar o “encontro” dos diferentes atores do/no processo ensino-aprendizagem, numa relação de (em)redamento de saberes.
iii) transversalização do espaço-tempo do LIFE-Unipampa-Caçapava do Sul com as tecnologias da informação e da comunicação, submetendo o uso das tecnologias na formação docente (inicial e continuada) à intenção maior do ato educativo – o de produzir espaços-tempos favoráveis à construção-criação do conhecimento interdisciplinar em rede e à constituição de autorias coletivas durante os processos de ensino-aprendizagem. Essa proposta sustenta-se na ideia de que o conhecimento sempre está em movimento, possuindo fronteiras difusas e em construção, possuindo um caráter coletivo-cooperativo, não-estático e não-estanque, interdisciplinar e interdisciplinarizando-se.
iv) formação do “professor-pesquisador-reflexivo”: propor que o espaço-tempo de exploração de possibilidade de ensinar-aprender, constitua-se em movimentos que busquem a construção coletiva de novos sentidos e significações para a prática docente, numa perspectiva investigativa, reflexiva e de valorização dos saberes docentes constituídos (Schon, 1992). Essa formação busca proporcionar um espaço-tempo de superação da rotinização das práticas e de reflexão sobre as ações cotidianas (Tardif, 2007) e fazer emergir os diversos saberes utilizados no cotidiano de trabalho: os saberes curriculares, os experienciais e os disciplinares (Alarcão, 1996; Tardif, 2007) como fonte de experiência e aprendizado. Explorar a noção de saberes docentes, por sua vez, é uma possibilidade de abrir espaço para a problematização da prática docente e proporcionar a superação da dicotomia acadêmica teoria x prática.
Para atingir os objetivos do LIFE Unipampa, o subprojeto Caçapava do Sul, tem se dedicado a promover ações como: i) Elaboração e experimentação de materiais didáticos em atividades de ensino e extensão; ii) Envolvimento de acadêmicos/bolsistas em atividades de produção, conservação, organização, catalogação do acervo e empréstimo de recursos didáticos para uso cooperativo de acadêmicos e profissionais da educação; iii) Organização de oficinas para utilização das TIC com o objetivo de incentivar o uso dessas tecnologias em escolas de Educação Básica; iv) Produção de vídeos, simuladores, hipertextos, e outros recursos didáticos a partir de abordagens interdisciplinares dos objetos de conhecimento escolares e acadêmicos; v) Integração com os subprojetos PIBID da Licenciatura em Ciências Exatas; vi) Integração do LIFEUnipampa com a Feira de Ciências realizada no campus Caçapava do Sul; iv) Estabelecimento de parcerias com as Secretarias Municipais de Educação e com as Coordenadorias Regionais de Educação, buscando investir na formação permanente dos professores da Educação Básica. Espera-se promover ações cada vez mais integradoras do LIFE com o curso de licenciatura em Ciências Exatas e os professores de Educação Básica por meio de ações como: i) Estudos e produções orientados pelos componentes curriculares do curso de licenciatura; ii) Organização de grupos de estudos orientados, com características investigativa e interdisciplinar, a partir da interação entre
licenciandos e alunos da Educação Básica; iii) Interação entre acadêmicos da licenciatura, professores universitários e professores da Educação Básica dos municípios abrangidos pelo subprojeto, através da organização de grupos de estudos, oficinas, cursos, seminários; iv) Divulgação das atividades realizadas pelos integrantes do LIFE (acadêmicos e professores) em eventos e artigos científicos, para partilhar as ações desenvolvidas; v) Organização de revista digital e de um portal institucional para veiculação das produções do LIFE-Unipampa; vi) Organização e dinamização de seminários integradores que reúnam os quatro subprojetos do LIFE-Unipampa.
*O filósofo Frances Gilles Deleuze (1996), propõe um dispositivo como um conjunto multilinear, composto por linhas de natureza diferente e essas linhas do dispositivo não abarcam nem delimitam sistemas homogêneos por sua própria conta (o objeto, o sujeito, a linguagem), mas seguem direções diferentes, formam processos sempre em desequilíbrio, bifurcando-se continuamente. São máquinas de fazer ver, de fazer falar, para além de máquinas de simular ou apenas máquina que faz. Poderíamos pensar em máquinas que fazem pensar, que forçam o pensamento a pensar, porque não “resolvem problemas”, mas criam problemas, são geradoras de problemas, ou seja, máquinas problemáticas. Sendo assim, os dispositivos “não são nem sujeitos, nem objetos, mas regimes que é necessário definir pelo visível e pelo enunciável, com suas derivações, as suas transformações, as suas mutações. E em cada dispositivo as linhas atravessam limiares em função dos quais são estéticas, científicas, políticas, etc.” (Deleuze, 1996, p. 10).