Feministas no meio digital¹
Por Nicole Costa de A.
O movimento feminista enfrenta diferentes desafios ao longo de sua trajetória, sendo cercado de tabus devido à carência de conhecimento do que é realmente a luta. Além do preconceito em cima do movimento e a associação da palavra “feminismo” com ódio, há desigual oportunidade de participação política nos poderes. Mesmo sendo a maioria da população, na política as mulheres são sub-representadas, o que limita as ações do movimento. Como apresentado por Maria Betânia Ávila, doutora em sociologia, em uma entrevista ao Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), publicada no site oficial em 2014: “Sem a participação das mulheres nos processos de discussão e definição de leis e políticas públicas, os direitos femininos ficam ameaçados.”
Por outro lado, mesmo em meio aos desafios, as mulheres feministas, que por milênios foram oprimidas, estão lutando por novos espaços e ampliando o alcance do seu discurso. Uma vez que, para atingir os seus objetivos, não se abatem com obstáculos, em vista do avanço do movimento feminista em novos cenários. Desta forma, possui uma longa trajetória dividida em ondas, momentos históricos em que questões específicas são a essência de seus discursos e ações.
A primeira onda se identifica pela luta da igualdade política, tendo como destaque o movimento das sufragistas. Já a segunda, caracteriza-se por discussões em relação a liberdade sexual, se estendendo à questões culturais. Com isso, a terceira onda possui críticas internas que permitem a redefinição das estratégias que apresentaram falhas nas ondas anteriores, questionando o padrão branco e de classe média-alta do movimento. Por fim, atualmente, o movimento vive a sua quarta onda, o momento digital das discussões.
A luta é de suma importância para o avanço da sociedade, pois modifica o modo de pensar e viver do ser, quebrando os padrões antiquados. Tendo em vista que o feminismo tem como objetivo a igualdade entre os gêneros, há uma preocupação em desfazer a soberania masculina. Para isso, o feminismo apresenta inúmeras reflexões e discussões sobre a sua complexidade, não possuindo uma fórmula de como praticá-lo, mas sim, proporcionando o diálogo e visibilidade sobre o assunto. O movimento dá voz e empodera mulheres a conquistarem o seu espaço.
Logo, o meio digital se torna uma excelente ferramenta para “quebrar” esses tabus. A apropriação do movimento às novas plataformas digitais gera avanços na busca por equidade, pois rompe barreiras e renova as formas do movimento se manifestar. Proporcionando às mulheres o seu lugar de fala, tendo um discurso cada vez mais democrático, aproximando-se do seu objetivo de ser uma luta de todas e para todas as mulheres.
Conforme Pinto, em sua obra “Uma história do feminismo no Brasil” de 2003, o movimento desde cedo reconhece a importância dos meios de comunicação na sociedade, como fonte de visibilidade das mulheres. Ainda mais os meios digitais, que supera barreiras da distância, facilitando o alcance de muitas mulheres que, anteriormente, não tinham acesso ao conteúdo. Dessa forma, foge do padrão de que somente mulheres brancas e no ambiente acadêmico poderiam informar-se sobre o assunto.
É importante ressaltar como a plataforma Youtube é uma das poderosas ferramentas que auxilia no desenvolvimento do movimento, havendo diversos canais feitos por mulheres que possuem o objetivo de trabalhar essa temática ao mostrar as suas realidades. Estas vloggers, denominadas youtubers, apesar de apresentar simplicidade ao expor situações cotidianas, são inovadoras ao abranger o conteúdo em seus vídeos. Elas conscientizam outras mulheres divulgando novos olhares sobres as suas realidades, expondo e criticando o machismo.
Nesta perspectiva, o canal “Jout Jout, Prazer” é um grande exemplo de uma vlogger, de destaque no Brasil, que produz um conteúdo voltado para a luta feminista. Seja qual for o assunto, “Jout Jout”, Julia Tolezano, segue a mesma dinâmica para a produção de seus vídeos, com simplicidade e didática. A vlogueira afirma que, mesmo quando apresenta temas polêmicas e reflexivos, segue a filosofia de que é possível mudar o mundo ao som do riso fácil. Com isso, busca conscientizar e criar um ambiente seguro para o debate feminista para os seus dois milhões de inscritos.
Mas será que esse conteúdo não é apenas consumido por mulheres?
Bom, a facilidade de acesso ao conteúdo já é um grande avanço para a luta, mas não é o bastante. Os movimentos, suas causas e avanços, precisam chegar a novos públicos. Afinal, a igualdade é para todos e todas, é preciso que esta esteja no trabalho, nos direitos, no discurso, em casa, na rua ou no lugar que ela ou ele quiser. Então, essa luta ainda está caminhando e, talvez, sempre caminhará.
É inegável que o meio digital dá voz às mulheres. De passo em passo vai se tirando o peso que esta denominação carrega, abrindo portas, levando mulheres a posições de destaque e influência, uma oportunidade para quem quer e precisa ser ouvida. É essencial poder lutar e buscar avanços, não se render e desanimar porque ainda nem todos as escutam. Afinal, com um grito mais forte, fica difícil de ignorar.
¹Artigo de opinião produzido em 2019/1 no componente curricular Redação em RP II, ministrado pela Profa. Dra. Paula Daniele Pavan, do Curso de Relações Públicas da Universidade Federal do Pampa.