O convívio entre o homem e a população canina se dá há aproximadamente 400 mil anos, na época em que a espécie humana ainda vivia unicamente da caça. Através desse contato, acabou-se criando um vínculo afetivo entre ambas espécies, tornando o canino dependente dos humanos. Dentro desse período, inúmeros benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais foram adquiridos pelos seres humanos a partir dessa interação. Contudo, o comportamento reprodutivo desses animais associado à falta de medidas políticas eficazes e à baixa orientação sobre a importância da guarda responsável, propicia inúmeras condições que levam ao abandono e, com isso, aumentam os riscos que esses animais podem apresentar no âmbito de saúde pública e equilíbrio ambiental.
Pelo costume com a ideia de domínio e exploração dos animais e da natureza, o homem, muitas vezes, age de forma irresponsável em relação aos cuidados com os animais de companhia. Ainda que a prática de criação de animais seja uma tradição para a sociedade brasileira, quando as condições de manejo tornam-se inadequadas, o descontrole populacional abre possibilidades para a disseminação de enfermidades que afetam a qualidade de vida tanto dos seres humanos quanto dos animais. A falta de conhecimento dos responsáveis sobre as necessidades fisiológicas e psicológicas dessas espécies, o manejo inadequado, questões sociais e culturais e, ainda, condições socioeconômicas da população e falta de políticas públicas competentes são os pontos principais para a persistência do abandono e riscos relacionados a essas atitudes.
Quando uma população que se reproduz rapidamente e em grande quantidade têm números tão altos que nos fogem do controle, fica impossível assegurar que os preceitos do bem-estar animal estejam de acordo com o adequado. Ou seja, estes animais acabam passando fome e sede, sofrem com doenças não tratadas, além de todo medo e estresse ao qual são submetidos. Além disso, uma população de cães errantes está diretamente ligada a um alerta de perigo para a saúde pública, trazendo o risco de zoonoses à tona. Dentre as doenças capazes de serem transmitidas através do contato humano-animal podemos destacar a leptospirose, raiva, leishmaniose, endo e ectoparasitoses.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a forma mais eficaz para lidar com o problema, a longo prazo, é a implantação de medidas para a educação sobre guarda responsável em conjunto com o controle da reprodução por métodos cirúrgicos como a castração. Contudo, sabemos que na realidade política em que vivemos, este ainda é um desafio a ser superado. Há a necessidade da criação de políticas legislativas efetivas que busquem garantir a saúde pública e maior dignidade para os animais, levando em consideração um trabalho que envolva mais de uma esfera, ou seja, seria interessante que o poder público atuasse em conjunto com universidades, instituições privadas e população em geral, possibilitando um trabalho mais abrangente e efetivo.
Autoria: Larissa Capelari e Lorena Alves