Em março de 2020, a COVID-19 chegou ao Brasil e, com isso, a vida dos brasileiros mudou drasticamente. O sistema de saúde e a economia entraram em caos, leitos de hospitais e farmácias lotados, pessoas isoladas em suas casas, comércio fechando e o medo se espalhando entre a população. Então, eis que surge um novo (não tão novo assim…) problema: como fica a situação da educação no Brasil?
O sistema de ensino remoto foi a solução mais viável para a situação, pois pouco se sabia sobre o tempo de duração da pandemia. Escolas, faculdades e universidades começaram a se adaptar a esse novo meio e muitos empecilhos surgiram: será que o aprendizado nesse novo formato seria efetivo? Como incluir os alunos de baixa renda que não possuem acesso a tecnologias adequadas para participarem das aulas? Quais dificuldades os alunos e professores encontrariam nesse processo?
Para entendermos um pouco melhor sobre a situação, questionamos algumas discentes e o docente Fabrício Mozzaquatro do curso de Medicina Veterinária na Universidade Federal do Pampa acerca do ensino remoto, suas qualidades e desvantagens, e obtivemos as seguintes respostas:
“Acredito que o ensino remoto foi uma ferramenta de ensino importante durante este período de pandemia. No início, tínhamos muitas dúvidas de como iriam funcionar as estratégias de ensino, atividades síncronas e assíncronas, trabalhos e avaliações. O aprendizado foi mútuo entre docentes e discentes nesta nova realidade que nos foi imposta. Todos nós entendemos a importância de continuarmos as nossas atividades acadêmicas mesmo a distância. Algumas áreas do conhecimento, contudo, ficaram muito prejudicadas com este tipo de modalidade de ensino. E agora neste momento, é consenso entre os professores, que as atividades práticas devem retornar. A graduação em Medicina Veterinária pertence às áreas das agrárias e também da saúde e apresenta na sua essência aulas com conteúdo prático. Além disso, o ensino remoto priva o aluno a vivenciar o ambiente acadêmico como um todo, não oportunizando o engajamento na pesquisa e na extensão.” Fabricio Mozzaquatro – Docente da Universidade Federal do Pampa.
“O ensino remoto foi útil até o primeiro momento, onde não havia chance nenhuma de ter aulas presenciais. Foi de grande importância, professores e alunos se adaptando a uma nova fase em prol de todos.
Eu encontrei dificuldades no primeiro instante onde tudo era novidade, onde não sabia muito como funcionava as plataformas, oportunidades de realizar mais disciplinas, oportunidade de realizar estágio tendo o ensino remoto.”
Fernanda Quintana de Mello – Discente do oitavo período.
“Minha opinião é que para o momento que estávamos vivendo no auge da pandemia era uma das únicas saídas para não ter que parar completamente com o ensino, acho que uma das maiores dificuldades é o ambiente, pois como estamos nas nossas casas, muitas vezes nos distraímos e não prestamos atenção na aula, a maior perda que tivemos mediante ao ensino remoto foi não poder ter aulas práticas, assim então acarretando dificuldades futuras para nossa carreira.”
Rafael Willers – Discente do oitavo período.
“Na minha opinião, o ensino remoto, da forma que foi ofertado durante os últimos semestres, têm sido uma experiência muito válida e satisfatória em muitos aspectos. Não acho que haja a mínima possibilidade de substituir aulas ofertadas presencialmente, mas oferece a possibilidade de continuarmos estudando mesmo durante uma época que o ensino presencial seja inviável.
A maior dificuldade e defasagem, em minha opinião, são as áreas que requerem aulas práticas, pois mesmo o professor usufruindo de outras técnicas para ensinar o conteúdo, nada substitui as experiências que estaríamos tendo no campus, e dessa forma foi mais complicado para mim relacionar e compreender certas matérias, como anatomia, por exemplo. Além disso, o desvio do foco é algo que acontece frequentemente durante o ensino remoto, e muitas vezes me esforço mais do que o normal para continuar concentrada e motivada durante as aulas.” Clara de Carvalho, discente do terceiro período.
Após os relatos obtidos, é possível compreender melhor o importante papel que o ensino remoto teve em um momento onde o isolamento social era essencial para a sobrevivência. Mas, em um país que, antes mesmo da pandemia, teve 620 mil evasões escolares em 2019, não teria sucesso em um sistema dependente de tecnologias que nem todo brasileiro tem acesso. Durante a pandemia da COVID-19, mais de 5 milhões de crianças e adolescentes abandonaram a escola, segundo a UNICEF.
Além dos fatos anteriores, podemos observar, através dos relatos, que mesmo os alunos que conseguiram acesso a esse novo sistema de ensino, tiveram grandes dificuldades como a falta de um ambiente propício aos estudos, problemas de concentração devido ao fato de que ficar muito tempo em frente a uma tela de computador/celular é estressante e, principalmente, pela falta de contato prático dos estudantes com os conteúdos ministrados durante as aulas.
O retorno presencial já está acontecendo em diferentes esferas e localidades no Brasil, várias escolas do ensino básico e faculdades particulares já voltaram com suas atividades, universidades públicas estão, aos poucos, retornando também. A Universidade Federal do Pampa, cujo docente e discentes foram alvos da entrevista, voltará de forma híbrida em janeiro de 2022 e 100% presencial em abril. O ensino remoto está ficando no passado, mas será que suas consequências ainda farão parte de nosso futuro?
Autoria: Iago Portela e Thayanne Machado