por Fade Hassan Husein Kanaan, discente do curso de Engenharia de Software, bolsista pelo edital PROACC 2025 e, Matheus Pinto da Fontoura, discente do curso de Ciência da Computação, bolsista pelo edital PROFEXT 2025, em outubro de 2025.

Seu Florinaldo, nascido em São Francisco de Assis em 1951, hoje com 74 anos, é um homem cujas raízes estão fincadas na vida da campanha. Foi ali que ele se criou, e ele conta com detalhes como era a vida difícil na roça.
[…] Foi criado nesse drama, nessa situação, né?
Ele inicia sua memória listando a imensa variedade do que se produzia na roça, um trabalho que começava na infância.
[…] na agricultura plantava feijão preto, vários feijão de cores, plantava cana de açúcar, fazia rapadura […] Plantava fumo, fazia fumo em corda.
Essa rotina de trabalho árduo era parte de seu cotidiano desde muito novo, e ele recorda vividamente a responsabilidade de cuidar dos animais:
[…] Desde criança. […] passava às vezes uma, um dia inteiro garoando e nós cuidando o gado pro gado pastar e não destruir a plantação de trigo.
A educação formal, nesse contexto, era um desafio logístico. Seu Florinaldo conta que seu primeiro ensino veio de uma professora particular que foi paga pelo seu pai, antes mesmo de existir um colégio por perto. Quando a escola pública foi estabelecida, a dificuldade era conciliá-la com o trabalho.
[…] o pai pagava o professor para campanha, né, que não existia colégio perto. […] O pai se baseava pelo sol, né? […] chegava muitas vezes atrasado no colégio, né, com uns calçadinhos na mão, né, antes de chegar no colégio, a gente soltava os calçados.
Ao comparar sua infância com a atual, a diferença que ele enxerga é profunda. Ele contrapõe suas memórias de brincadeiras físicas e ao ar livre com a quietude que percebe nas casas de hoje.
[…] antes de nós ir pro colégio, tinha uma sanguinha […] Nós se entretia muito brincando na água, nadando, correndo […] E hoje a, a criançada que eu vejo hoje em dia […] passa às vezes quase todo dia encerrado no telefone, né? Então a diferença que eu sinto muito grande é essa.
O relato de Seu Florinaldo é a crônica de uma infância marcada pelo trabalho na terra, onde a natureza ditava o relógio e as brincadeiras aconteciam nas “sanguinhas” a caminho de casa.