Jesus Joel M. Antunes

por Tamires Antunes Nunes, discente do curso de Engenharia de Software, bolsista pelo edital UNAPI 2023, em dezembro de 2023.

De cabelo e barba grisalhos, usa uma boina preta. Veste camisa polo preta, sobre ela um casaco xadrez.

Seu Jesus é um senhor de 70 anos, alegretense por nascimento e criação. Um idoso com alma de criança como ele mesmo gosta de falar. Brincalhão e conversador, está sempre disposto a uma boa conversa. E foi com essa disposição que ele possui para falar, que compartilhou conosco parte de sua história.

Seu relato se inicia como os demais, nos contando brevemente quais eram seus brinquedos: 

[…] os brinquedos de hoje dos jovens, das crianças são muito diversificados. Os nosso brinquedos eram tropa de osso […] 

No meio de brincadeiras e risadas, e uma fala que se assemelhava a um discursante, seu Jesus nos apresentou algo diferente, as lembranças de como se fazia uma ligação em sua época de criança e como ele percebe as mudanças que ocorreram nos últimos tempos:

[…] as ligações quando a gente fazia para outra cidade era naquele telefone que tinha uma caixa na parede. Dava uma manivela ali, me faz uma ligação com Rosário do Sul. Dali a pouco retornava, blin, blin, blin, dava aquele barulhinho atendia o telefone […] Hoje, por exemplo, quando que eu iria imaginar de ter um telefone na mão. Então, os tempos mudaram […]

Seguindo suas recordações, ele nos relatou como eram suas tarefas e como as tinha que desempenhar apesar da pouca idade:

[…] então, dos sete até vamos dizer os quinze, eu trabalhei lá fora ajudando meu pai. Então, a gente ajudava na lida, puxava água, ajudava no banho de gado, banho de ovelha e, aliás, diga-se de passagem, o banho de ovelha não é fácil. Só quem mora para fora sabe como é que é. Eu, guri, de pé descalço, numa mangueira de ovelha, ali agarrando os capãozinho para levantar – por isso, que eu acho que tenho um pouco de força – e jogando nos banheiros para banhar. […]

Para encerrar, seu Jesus nos conta, com certa emoção, como o trabalho acabava por se envolver com sua vida escolar:

[…] bom, aí depois foram se passando, eu ia para fora, eu estudava na cidade e ia para fora nas férias. Quando eu ia para fora nas férias, entre aspas, eu ia para trabalhar, então eu não tive brinquedo. Não tive nem bicicleta […]

Seu relato termina deixando claro que os sentimentos vivenciados em sua infância seguem vivos em sua memória e em seu coração.