Arnaldo Pereira Lopes

por Tamires Antunes Nunes, discente do curso de Engenharia de Software, bolsista pelo edital UNAPI 2023, em dezembro de 2023.

Homem de cabelo e barba grisalhos. Veste chapéu preto e usa camisa xadrez nas cores branca, azul e vermelha, sobre ela um colete azul marinho de gola vermelha.

Seu Arnaldo é um senhor de 73 anos, nascido em São Francisco/RS, mas morador de Alegrete/RS há mais de 50 anos. Casado e pai de família, trabalhou durante anos na área rural. Este senhor, que é seguidor dos costumes gaúchos, alegre e simpático, nos apresentou uma perspectiva enriquecedora sobre sua infância no Pampa Gaúcho. Seu relato inicia com um sorriso no rosto, nos contando como eram seus brinquedos naquela época:

[…] com carrinho de porco, fazíamos carrinho de puxar, sabugo fazíamos os bois, as carretas a gente fazia tudo de cana de milho, a gente furava para fazer as rodinhas […] de noite que a gente terminava com o serviço, se juntava dez, doze ou quinze guri e ia pro campinho que tinha lá perto de casa. Ali nós ia brincar, até de touro nós brigava, se atirava no chão, brigava de ombro, mas era brinquedo, a gente sabia que era brinquedo […] fazia umas espadinhas, geralmente usava aquelas palhas de coqueiro, o talo né, fazia umas espadinhas e jogava espada, de vez em quando a gente atava um pé no outro, se maniava, para ver quem tinha mais agilidade […] nós ia até dez ou onze horas da noite, terminava com nosso brinquedo tinha um açude logo adiante, nós ia lá, todo mundo tomava banho, se vestia e ia pra casa […]

Suas palavras demonstram a simplicidade, criatividade e forma única das brincadeiras, deixando claro o quanto as crianças podem achar formas diferentes para brincar e se divertir. Seguindo por suas lembranças, seu Arnaldo nos falou um pouco de como era a escola, e quais as normas e costumes que se tinha nela:

[…] nós chegava lá no colégio. A professora nos botava em fila por altura e nós tínhamos que cantar o hino. Ninguém entrava para o colégio sem cantar o hino. Tudo era organizado. Chegava uma pessoa no colégio, que não era do colégio, todo mundo de pé em posição de sentido, estaquiadinho. Sem o professor dar a ordem para a gente descansar, todo mundo ficava em posição de sentido quietinho […]

Por fim, ele nos apresentou sua visão sobre as tarefas do seu dia a dia, seu “trabalho” quando criança e como isso impactou sobre sua vida escolar:

[…] nós mesmo, quando ia para o colégio, sete hora era o colégio e o colégio tinha mais ou menos uns três quilômetros lá de casa. Nós, antes de sair, sete hora no inverno é noite, nois tinha que deixar porco com alimento, galinha com alimento, às vacas na mangueira para tirar leite, cavalo, já tinha que ter dado bóia para os cavalos por causa de horário e fazer aqueles quilômetros para chegar na hora. Nós chegava com os calçadinhos nas mãos, porque é pelo meio de campo […] eu mesmo só estudei até a terceira série, passei para a quarta primária e o pai disse: “Olha já sabe ler e escrever, e as quatro operação de conta, serviço”. Então, não pude mais ir pro colégio pra ajudar a criar os outros irmãos, trabalhar. Plantava de máquina. Eu não alcançava na altura da máquina pra pegar normal. Eu pegava por baixo pra plantar. Eu plantava meia bolsa de feijão soji por dia […]

Suas palavras cheias de emoção e história, demonstraram como as lembranças de sua infância ainda vivem em sua mente, e como essa infância o tornou em grande parte quem é hoje.