por Victor Lobins, discente do curso de Letras-Português/Licenciatura, bolsista pelo edital PROFEXT-UNPAMPA 2022, em novembro de 2022.
Roberto Joel Oliveira Leal, nascido em 15 de julho de 1952, na Rua Brigadeiro Olivério, em Alegrete/RS, é filho de Felício Leal, pedreiro e carpinteiro, e Henriqueta Oliveira Leal, lavadeira. Recorda-se que quando criança costumava ser muito arteiro, além de possuir musicalidade desde muito pequeno, quando batucava em latas de azeite e goiabada.
Roberto Joel, ainda criança, trabalhava vendendo limões pelas ruas da cidade, depois aprendeu a profissão de panificador, que desenvolveu durante muitos anos de sua vida. Estudou até o segundo ano do ensino médio – teve que abandonar os estudos para poder trabalhar e contribuir com as despesas domésticas.
Uma das suas principais memórias, referentes à música, remete a quando seu irmão aprendeu a tocar pandeiro. Nisso Roberto, com idade por volta de 9 e 10 anos, já cantava, mas começou a se dedicar a aprender violão, como autodidata, com instrumentos que conseguia emprestados com os amigos. Pouco depois dessa época, começou a se apresentar em bailes na cidade e, dessas apresentações, começou a surgir a inquietude do desejo de compor suas próprias canções, com influência da jovem guarda e dos ícones da bossa nova.
Com o passar dos anos, começaram a surgir festivais na cidade. Na época, Roberto Joel tinha por volta de seus 20 anos. Ao lembrar das primeiras edições do Festival Alegretense da Canção (FAC), que aconteciam ainda no clube Sete de Setembro, conta que, no primeiro em que participou, tocou um samba chamado “Namorado da Lua”, ficando entre os 5 primeiros colocados. No festival seguinte, ficou em terceiro lugar, conquistando o troféu de melhor intérprete e, em poucos anos, conquistou o primeiro lugar. Seu último FAC foi no ano de 2012, defendendo o samba de sua autoria chamado “Clarisse”.
Ainda nesse período, Roberto concorreu em vários festivais nativistas. Tinha como referência na música gaúcha grandes cantores como Teixerinha e Gildo de Freitas. Nesses festivais, também arrematou várias premiações – do Festival da Gaita Ponto, do Festival Gauderiada de Rosário do Sul e do Festival da Música Crioula de Santiago.
Ainda pela faixa dos 20 anos de idade, começou a tocar em bares na cidade de Alegrete, os quais foram seus locais de trabalho até poucos anos atrás. Recorda-se com carinho das noites de música e reflete: “toda noite é uma saudade”.
Sobre os anos 70, recorda-se que negros não podiam entrar no clube Cassino de Alegrete, local onde conta que tocou durante muitos anos consecutivos, apesar da proibição. Roberto Joel entrava e saia do clube sem nunca ser barrado ou sofrer nenhuma forma de discriminação. Nessa época, inclusive, alguns amigos ficaram “de mal” com ele devido às apresentações no clube.
O Carnaval, conta, entrou na sua vida pelo bloco do Clube União Operária 1º Maio. Desde adolescente gostava de participar e logo apareceram os convites para serem feitos sambas para os blocos. Em seguida, começou a participar da escola de samba Nós os Ritmistas, para a qual compôs o samba enredo e, pela primeira vez, foi puxador de samba na avenida. Após dois anos de experiência na escola, optou por migrar para a escola de samba Mocidade Independente da Cidade Alta (MICA), para a qual compôs o enredo “Primavera estação das flores”. Nesse período, as escolas desfilavam na rua Vasco Alves. Roberto Joel ganhou o prêmio de melhor puxador de samba e a escola venceu 13 itens dos 15 avaliados. Também puxou samba em escolas de outras cidades, como na Cova da Onça e na escola Os Rouxinóis de Uruguaiana, na Escola Vila Brasil de Tubarão/SC.
Tocando sambas, teve algumas passagens em cidades da Argentina, como Corrientes e Córdoba, assim como Clorinda, na fronteira com o Paraguai, algumas vezes com as escolas de samba que integrava e outras tocando solo com o grupo de samba que o acompanhava.
Roberto Joel mudou-se para Santa Catarina, onde residiu por cerca de 15 anos. Conta que trabalhava em um restaurante e também tocava nesse mesmo local. Depois de muitos anos fora, retornou a Alegrete para visitar amigos e familiares. Devido à situação de saúde debilitada de sua mãe, acabou ficando e nunca mais voltou.
Seus momentos mais felizes tocando, pontua, foram no FAC, quando cantou a música “Negro Meu Irmão”, e no primeiro Festival de Samba de Alegrete, quando cantou a música chamada “Amante da Madrugada”. Em ambos os festivais conquistou o primeiro lugar.
Recorda-se, com saudade, dos muitos bares em que tocou, citando alguns deles, como o Amadeus, Bar Brasil, Abrakadabra e Restaurante do Salso em Alegrete. Conta que alguns desses bares as músicas iam até o amanhecer. Hoje em dia, não toca mais em barzinhos, pois considera uma atividade muito desgastante, tendo em vista que neste ano completou 70 anos de idade, mas ainda se dedica a apresentações em aniversários e eventos.
Há mais ou menos 8 anos, Roberto Joel é figura cativa na Confraria da Praça Nova, grupo de amigos que se reúne na Praça General Osório de Alegrete, todos os sábados ao meio-dia, para confraternizar com churrasco, música e cerveja. Para quem quiser encontrá-lo, essa é a forma mais certeira.