A tecnologia aplicada na construção de tênis de corrida e quebra de recordes
Felipe P Carpes, Ph.D.
Estamos – novamente, ou nunca saímos dela? – em uma época de interessantes disputas tecnológicas entre fabricantes de tênis esportivos, que se desdobram em busca do estabelecimento de um design que conceda melhor aproveitamento da energia mecânica gerada durante a corrida, e mais que isso, um melhor desempenho em maratonas. Tudo isso pode parecer muito recente para alguns, mas em verdade, são temas debatidos faz algum tempo. Um dos debates atuais está focado na entressola do tênis (midsole). Faz algum tempo que se sabe que uma entressola mais rígida favorece o aproveitamento da energia da pisada e da própria acomodação do pé no contato com o solo. A idéia é aproveitar melhor a energia de regiões do pé que apenas a dissipam, aumentando a eficiência da corrida. Quando corremos, um pouco da energia é dispendida pela movimentação dos dedos. Diferente do que acontece nos músculos do tornozelo e nos arcos do pé, que deformam e funcionam como molas retornando à posso inicial e “devolvendo” energia em força de potência para a corrida, esse retorno da energia não acontece nos dedos e então parte dela é basicamente perdida (em termos de produção de potência, ela se dissipa em calor por exemplo… sabemos que a energia total de conserva). Isso fez com que materiais com a fibra de carbono fossem introduzidos na construção de calçados, por promover maior rigidez aos materiais da sola do tênis, principalmente. Essa maior rigidez permite transferir melhor a energia para a propulsão na corrida, especialmente para aquelas regiões do pé que acabam não transferindo muita energia. Até aqui, tem muita ciência envolvida. E não é à toa que pessoas com o Darren, que tive o prazer de ter como supervisor e até hoje colaboro com estudos (eu e muitos outros brasileiros que estudaram em Calgary; Darren palestrou no nosso SNA de Santa Maria em 2011) e o Wouter (um grande amigo que fiz durante meu pós doc na Bélgica; Wouter também palestrou no nosso SNA de Curitiba, em 2016) são alguns dos nomes citados na reportagem. São biomecânicos que tem se dedicado muito ao estudo do calçado esportivo e a melhor compreensão do desempenho na corrida de longa duração.
Nessa disputa por achar o material ideal, uma série de patentes vem sendo registradas (podem conferir no link da postagem, são muitas, somente vendo as depositadas pela Nike), uma corrida tecnológica gigante entre diferentes marcas, e muita inovação sendo gerada, a qual acaba por ser aplicada em vários outros contextos do nosso dia a dia e que muitas pessoas nunca perceberão.
O texto termina com a discussão de que esses calçados afinal poderiam ter entressolas consideradas molas, e por isso – quem sabe – poderiam ser banidos do esporte. E aí, como fica?
Não acho que é para tanto, mas como é legal ver a ciência aplicada, e principalmente, ver que o movimento humano ainda é algo tão complexo de ser compreendido.