O fim de semana de Páscoa foi de coletas para o estudo inédito sobre a disseminação do novo coronavírus na população do Rio Grande do Sul. Em Uruguaiana, a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) fez a aplicação de 500 testes rápidos na população ao longo do sábado, 11, e domingo, 12. A pesquisa irá estimar o percentual da população gaúcha infectada pelo vírus causador da Covid-19. O estudo é coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e conta com a colaboração de pesquisadores da Unipampa, UFRGS, UFSM, UCS, UNISC e UFCSPA.
A coleta de dados e testes rápidos são realizados em Uruguaiana por 25 discentes dos cursos de Medicina, Enfermagem, Farmácia e Fisioterapia, os quais foram treinados na sexta-feira, 10, pela equipe do Instituto de Pesquisa de Opinião (IPO) em conjunto com os docentes da Unipampa e profissionais da Secretaria Municipal de Saúde. Está prevista a aplicação de mais 1.500 testes nos próximos dias.
O objetivo da pesquisa é auxiliar na identificação do perfil da população infectada pelo SARS-CoV-2, o novo coronavírus, e em quais regiões do Estado a prevalência é maior. O trabalho será realizado por meio de coletas – amostragens epidemiológicas sequenciais – e de aplicação dos questionários nas regiões previstas pelo estudo: Caxias do Sul, Grande Porto Alegre, Ijuí, Passo Fundo, Pelotas, Santa Cruz do Sul/Lajeado, Santa Maria e Uruguaiana.
Na Unipampa o estudo é coordenado pelas professoras Débora Pellegrini, que participa do Comitê Científico do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Jenifer Harter, coordenadora do curso de Enfermagem, e Sandra Elisa Haas, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF).
Os resultados irão orientar o governo do estado na tomada de decisões e na adoção de políticas específicas como, por exemplo, a continuidade pelo distanciamento social e o reforço no atendimento hospitalar em regiões específicas.
Testes em casa
Os estudantes estão indo de casa a casa e se identificam como aplicadores do estudo, informando que aquela residência foi sorteada para a realização de um teste rápido e um questionário. Após o consentimento da pessoa, inicia-se a preparação do teste e aplicação do questionário, um processo que está sendo bem recebido pela população, conforme avalia Débora Pellegrini. “Fui em 23 casas com uma aluna da Farmácia e apenas duas pessoas se negaram a participar (o que é direito do cidadão). Em todas as casas fomos muito bem recebidas e acredito que as pessoas ficaram felizes pela oportunidade e pelas informações recebidas”, afirma.
O teste rápido utilizado é um teste de imunocromatografia (semelhante ao teste de gravidez) que detecta a presença de anticorpos para o SARS-Cov-2 (IgM e IgG), e foi devidamente validado pela equipe da UFCSPA para aferição dos parâmetros descritos na bula (sensibilidade, especificidade e acurácia). O teste, como o nome diz, é bastante rápido e o resultado é apresentado para o participante na hora.
Porém, quem testa negativo não deve descuidar das medidas de proteção amplamente divulgadas e atualizadas. “Se o teste der negativo, recomendamos que a pessoa continue realizando as medidas preventivas de distanciamento social e higiene. E quando ela informa que não é possível fazer o distanciamento por questões de trabalho, alertamos para utilizar máscaras de tecido e redobrar os cuidados com a higiene, principalmente ao retornar para casa (tomar banho assim que chegar e ter um calçado para usar em casa apenas, sempre procurando lavar as mãos e utilizar álcool 70)”, ensina a docente. Caso o teste obtenha resultado positivo, todas as pessoas que residem no local serão testadas e a Vigilância Epidemiológica será informada para realizar a notificação dos resultados, pois trata-se de doença de notificação compulsória.
Ser sincero ao responder o questionário também é muito importante para que seja possível compreender qual é a realidade do Rio Grande do Sul nesse momento, lembrando que os pesquisadores não julgam as respostas obtidas. “Acho muito importante [responder com sinceridade]. O ideal seria todos terem a oportunidade de estarem em casa nesse momento, mas sabemos que muitas infelizmente não podem. O diálogo e a confiança das pessoas é imprescindível para o sucesso das medidas de mitigação e supressão da doença”, afirma a pesquisadora.
Pellegrini ainda ressalta como as medidas de prevenção estão mostrando resultados positivos para a população. “Acreditamos que os resultados negativos expressam que o distanciamento está impedindo que as pessoas se exponham ao vírus, ou seja, está justamente cumprindo o seu objetivo. Por isso, não podemos relaxar agora, no início do período mais frio”.
Por Aline Reinhardt da Silveira – Assessoria de Comunicação Social (ACS)