Dia do Trabalho: o trabalho como promotor de realização e de mudança social

O Dia Mundial do Trabalho é celebrado anualmente em 1º de maio e remonta à luta histórica dos trabalhadores por melhores condições de trabalho, em Chicago, na data de 1º de maio de 1886. Como forma de valorizar este importante dia, a Divisão de Atenção à Saúde e Segurança do Trabalho (DASST) vem compartilhar algumas reflexões acerca do trabalho em nossas vidas.

Quando se trata de trabalho, existem diferentes pontos de vista a respeito do tema, algumas pessoas mencionam que trabalham porque é necessário, outras declaram que o trabalho as realiza. Para Marion Minerbo, uma importante psicanalista contemporânea: “Trabalhar, quando se refere a um trabalho vivo, é diferente de executar uma tarefa mecanicamente, porque há espaço para a subjetividade e envolve alguma criatividade. Trabalhar é acrescentar um tijolinho na construção desse edifício gigantesco que é a nossa civilização. O importante é que nossa passagem pela vida deixe alguma marca e tenha valor para alguém.” Segundo ela, trabalhar envolve transformar o mundo e também a si mesmo, pois a cada nova conquista profissional, descobrimos novos aspectos do nosso Eu. Vamos nos construindo a partir da nossa relação com o trabalho e também com nossos colegas, que nos inserem na coletividade e nos permitem vínculos sociais. Nessa perspectiva, o trabalho tem um papel importante em nossas vidas e é visto com bons olhos, quando conduzido em direção ao que faz sentido para nós, quando colocamos um pouco de nós mesmos no que fazemos, e quando nos sentimos desafiados, sem que isso nos tire o sossego.

Apesar disso, é pertinente contextualizarmos como estamos conduzindo o trabalho em nossas vidas atualmente, pois isso pode ser um contraponto a uma visão mais otimista acerca do tema. Vivemos na sociedade de desempenho, imersos na cobrança por produtividade constante. Por essa razão, temos nos desumanizado cada vez mais, transformando-nos em autômatos, afastados da vida e do que dá sentido a ela. Nossos modos de viver são regidos pela lógica das aparências: queremos aparentar felicidade, sucesso e poder, mesmo que não nos sintamos verdadeiramente felizes ou que nem saibamos realmente o que nos faz feliz. Aprendemos que o importante é sermos úteis e produtivos, e por isso exploramos a nós mesmos ao máximo, sem espaço para sentirmos e elaborarmos as situações vividas, sem tempo para convivermos com pessoas queridas.

A nível institucional, quando se trata de contexto universitário, ainda que o papel do servidor público seja o de agente de mudança e de contribuição para o desenvolvimento do país – o que justifica que o trabalho seja tomado com a seriedade e o comprometimento devidos –  também é fato que estamos submetidos a alta exigência por produtividade, sendo expostos a jornadas cada vez mais extenuantes, sem contar o clima de competitividade presente nesse meio. O desafio atual está em agir com o compromisso inerente à função pública, sem que se recaia em excesso de trabalho e de cobranças.

Acontece que as demandas laborais têm invadido o tempo de descanso/repouso, sono, lazer, atividade física e alimentação dos servidores. Para dar conta de todas as tarefas, muitos precisam realizar atividades fora da carga horária formal de trabalho. Nesse contexto, sintomas de ansiedade, depressão, insônia e solidão podem advir. Também pode haver um aumento no consumo de álcool, drogas, medicações, comidas e redes sociais, como forma de apaziguar o sofrimento. Esse cenário desanimador nos demonstra que estamos nos afastando da vida e nos vinculando ao adoecimento.  

Como “virar essa chave”?

Em primeiro lugar, é fundamental que não coloquemos o trabalho como o centro de nossa vida. Tudo o que colocamos energia demais, é prejudicial, se nos dedicamos demais a apenas uma área da vida, as outras ficam prejudicadas. Naturalizamos que a dedicação extrema ao trabalho é admirável, porque essa mentalidade é reforçada em discursos como: “trabalhe enquanto eles dormem”. Somos capturados por uma romantização do trabalho, sem nos darmos conta. E, por ser endossado socialmente, acreditamos que está tudo certo trabalhar em demasia, trabalhar quando deveria se estar descansando, sonhar com o trabalho (ou não conseguir dormir por causa do trabalho). Mas a verdade é que somos humanos e não máquinas. Precisamos de descanso, de afeto, de lazer, de arte, de cultura, precisamos relaxar, trocar com outras pessoas, nos encantar com o mundo ao redor e preencher nossa vida de sentido.

Em segundo lugar, é necessário termos em mente que aceitar passivamente uma condição de trabalho excessivamente demandante pode parecer muito louvável, pois seremos bem vistos pelos outros, mas essa postura só irá prejudicar a nós mesmos. Enquanto dermos conta de equilibrar todos os pratos a duras penas, tudo seguirá acontecendo como se estivesse nos conformes, mas nossa saúde física e mental estará indo de mal a pior e, quando nos dermos conta, poderá ter levado tempo demais, então o tombo será muito grande. Não espere aprender pela dor, ou seja, chegar a um nível extremo de adoecimento para, então, tirar lições. Uma postura assertiva em relação a esse contexto não é aceitar e se resignar, mas dizer alguns nãos, colocar limites saudáveis, mesmo que para tal seja preciso cobrar por mudanças e formalizar documentos.

Caso necessário, conte com o Serviço de Psicologia da PROGEPE, para acolhimento e orientações, através do e-mail: psicologia.progepe@unipampa.edu.br.

Lembre-se que, por mais que o contexto externo esteja difícil, cada um de nós possui o papel de se comprometer com o cuidado de si – nem que para isso seja necessário adotar medidas individuais e coletivas de mudança. O trabalho pode sim ser fonte de realização pessoal e de mudança social, a questão é buscarmos ativamente formas de conduzi-lo para essa finalidade e não de sermos consumidos por ele.

Grande abraço e bom trabalho a todos(as)!