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Nota dos NEABIs em repúdio à manifestação ocorrida durante a sessão solene Honoris causa para Oliveira Silveira

Nota de repúdio NEABIS ADAFI (PDF)

Os Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Unipampa dos campis de Bagé, Uruguaiana, Itaqui, São Borja, Jaguarão e Alegrete, vêm por meio desta Nota, lamentar e repudiar o violento ataque ocorrido durante a Cerimônia de entrega do título de Doctor Honoris Causa ao poeta da Consciência Negra, Oliveira Silveira. A manifestação ocorreu durante a 50ª Reunião Extraordinária do CONSUNI realizada em Bagé, no dia 11 de janeiro de 2023, sendo promovida por estudantes dos campi Jaguarão e Livramento, os quais interromperam o ato solene para protestar contra a gestão da Universidade. Tal ato causou constrangimento ao conjunto dos conselheiros e conselheiras presentes, à filha e representante do homenageado, bem como, aos convidados e convidadas presentes de outras instituições.

Tal incidente provocou tristeza e indignação em membros da comunidade negra, a qual vê neste título um reconhecimento a um militante da luta antirracista, algo incomum em Universidades permeadas pelo racismo estrutural presente na sociedade brasileira; trata-se de um desrespeito aos Neabis e suas lutas antirracistas, autores, inclusive, da proposta de conceder o título honorífico para o poeta Oliveira Ferreira da Silveira. É uma afronta às ações afirmativas enquanto conquista dos movimentos sociais.

Lamenta-se e repudia-se que estes e estas estudantes tenham se aproveitado do transporte concedido pela instituição para prestigiar a solenidade em Bagé, mas visando outro propósito. No transcorrer do ato cerimonial, os discentes manifestaram sua insatisfação com o reitor e a instituição de forma inapropriada, atrapalhando a transmissão da cerimônia para os participantes via ambiente virtual.

A partir deste ato desrespeitoso, interrompeu-se a transmissão, ocasionando efetivo prejuízo à solenidade, pois a 50ª Reunião Extraordinária do CONSUNI tinha como pauta única a concessão do título de Doctor Honoris Causa ao poeta Oliveira Silveira. Independente das motivações dos protestos entende-se que este não era o momento adequado, pois poderiam ter sido realizados após a solenidade ou em outros momentos, se o objetivo era confrontar a gestão da Universidade.

Posteriormente, os estudantes continuaram os ataques em frente ao local de almoço de confraternização, mesmo após já ter sido marcada uma reunião com a Próreitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários e com a presença do Reitor. Houve então a prática de atos hostis em relação a uma docente negra e ao Magnífico Reitor, o qual também é um homem negro. Isto demonstra não perceberem que ao atacá-los e desconstituírem publicamente esses docentes, estão reforçando o preconceito racial do qual sempre foram vítimas. O comportamento observado desvaloriza o fato de que as posições que hoje estes docentes negros ocupam reforçam a luta de negros e negras por espaços iguais na sociedade.

Nós dos NEABIs acima mencionados afirmamos que, simbolicamente, tal ato de desrespeito à homenagem de um militante negro, quando tem como agentes estudantes negros, assume mais gravidade; entendemos que houve incompreensão da relevância deste título honorífico para a luta contra o racismo, fazendo que esses manifestantes contribuíssem para menosprezar esse momento solene e, portanto, simbólico. Ao comportar-se desse modo, afrontaram uma luta antirracista na qual deveriam estar inseridos, pois são vitimados cotidianamente por uma sociedade marcada pela hegemonia branca e de práticas de inferiorização dos descendentes de africanos escravizados. Entendemos que não basta ter a pele preta, é preciso assumir-se como “negro” ou “negra” e lutar contra a desigualdade racial e o racismo. Nas palavras da filósofa e militante Angela Davis: “Numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.

Repelimos este acontecimento e, diante do peso emocional causado para docentes, servidores, estudantes negros e negras, além da sociedade civil, entendemos ser necessário uma retratação pública dos envolvidos, bem como da gestão dos campi de Jaguarão e Livramento, os quais viabilizaram transporte para os envolvidos e as envolvidas neste ato inapropriado, que maculou um espaço institucional que necessita ser respeitado e valorizado.

Finalizamos lembrando que vivemos no país um momento em que a democracia é atacada por aqueles que querem impor suas vontades e interesses. É preciso praticar a empatia, apostar no diálogo e romper com a intolerância. Manifestações são bem vindas, desde que não ultrapassem os limites da disputa de ideias e incorram em atos de afrontamento. Lamentamos mais uma vez que negros e negras tenham sido sujeitados a essa situação vexatória, onde a branquitude impregnada na sociedade e manifestada pelo racismo estrutural, colocou em negativa evidência agentes representantes da negritude na instituição.

Bagé, 17 de Janeiro de 2023.

Assinam esta nota:
NEABI Mocinha – Campus Jaguarão
NEABI Oliveira Silveira – Campus Bagé
NEABI Mãe Fausta – Campus Uruguaiana
NEABI Diva Rodrigues – Campus Itaqui
NEABI – Campus São Borja
NEABI – Campus Alegrete
ADAFI – Assessoria de Diversidade, Ações Afirmativas e Inclusão
e Magnífico Reitor da Universidade Federal do Pampa

Nota de Repúdio do Campus Bagé

https://unipampa.edu.br/bage/sites/bage/files/documentos/nota_repudio_feira_profissoes.pdf

Nós, da Universidade Federal do Pampa – Campus Bagé, manifestamos nosso repúdio às atitudes racistas ocorridas contra uma estudante do campus na tarde do dia 23/11/22, durante a Feira das Profissões.

O ato se deu no estande do curso de Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa, quando pessoas, que estavam na condição de visitantes, recusaram-se a se aproximar do espaço do Curso de LP, alegando que “não queriam chegar ali porque tinha uma negrinha” e “não queriam falar com a escurinha”. Estes comentários foram ouvidos com clareza pelas estudantes do curso.

Consideramos inaceitável esse tipo de conduta, especialmente em um momento de confraternização com a comunidade externa, no qual o campus abriu suas portas, na expectativa de promover uma experiência de troca e de respeito entre todos.

O campus chama a comunidade externa e mobiliza a comunidade interna, em um movimento de valorização da educação, que só se concretiza efetivamente com respeito absoluto, sem distinção de cor, gênero ou orientação sexual. É inadmissível que uma aluna seja vítima de atitudes racistas, isso vai contra os propósitos do evento e contra a sociedade que queremos formar a partir da educação.

É criminoso que nesses espaços de aprendizagens, alguns sujeitos venham com falas racistas que ferem, destroem, reafirmam e reforçam o Racismo Estrutural social e institucional que vive o Brasil desde os tempos coloniais.

Nosso repúdio veemente não se faz só de palavras: ele se concretizará em atos em prol de uma educação antirracista, voltada para a comunidade interna e externa. Os alunos do Campus Bagé desenvolvem ações em toda a cidade; a diversidade que felizmente é marca da nossa instituição quer e deve ser respeitada e acolhida sempre por todes.

A Unipampa Campus Bagé não se calará diante do racismo e de qualquer outro preconceito.