Impactos do cenário de emergência climática do RS na saúde mental

Estamos vivenciando em nosso estado, como todos sabem, um desastre climático sem precedentes. Trata-se de um evento potencialmente estressor e traumático, que poderá gerar consequências no âmbito da saúde mental. Diante disso, a Divisão de Atenção à Saúde e Segurança do Trabalho (DASST) vem compartilhar algumas reflexões e recomendações sobre os possíveis impactos emocionais do cenário atual.

O conteúdo será dividido em dois envios. Nesse primeiro e-mail, abordaremos tópicos como: ansiedade climática, luto coletivo, sentimento de impotência, infoxicação e o impacto emocional de um evento traumático.

O termo “ansiedade climática” é definido pela Associação Americana de Psicologia como um medo crônico de catástrofes ambientais, envolve sentimentos de pesar, raiva, culpa e até vergonha. E como estamos falando de um prejuízo em decorrência do descuido humano com o clima, o sentimento de responsabilidade (enquanto humanidade) agrava o processo que atinge a saúde mental. 

O trauma que se instaura ocorre porque rompe a noção de normalidade de funcionamento da vida. Claro que para quem é vítima o dano é bem mais profundo, mas todos seremos atingidos de alguma forma. Estudos realizados no Reino Unido mostram que o risco de ser afetado por problemas psicológicos de longo prazo é até 8 vezes maior em quem vivenciou a inundação.

Um processo frequente em desastres é o luto coletivo, em que muitas pessoas experienciam e compartilham o sentimento de luto ao mesmo tempo, ainda que não tenham sido diretamente atingidas pelo evento crítico. O luto pode estar relacionado a diferentes tipos de perdas, não necessariamente a morte de alguém, mas também a perda de bens materiais que tinham um valor simbólico para cada pessoa. As pessoas atingidas experienciam a perda do mundo presumido, em que são afetadas as interpretações sobre o passado, as vivências no presente e as expectativas para o futuro. É necessário, portanto, reaprender e ressignificar o mundo.

O luto é um processo normativo de adaptação a uma perda significativa. Trata-se de um processo que envolve dor, desinteresse social, incapacidade para trabalhar e amar, em função de um investimento psíquico em torno daquilo que foi perdido, assim como em relação a tudo o que se situa direta ou indiretamente atrelado ao que se perdeu. É quem vive o luto que sabe da importância daquilo que foi perdido para a sua vida. Portanto, comparações entre indivíduos e suas perdas não devem ser realizadas.

Além disso, é comum o sentimento de impotência entre as pessoas que não foram diretamente atingidas, pelo fato de não ser possível ajudar mais diretamente, mesmo que haja diferentes formas de ajudar, até mesmo à distância, como divulgar informações e fazer doações. Inclusive a culpa pode se fazer presente, na medida em que seguimos nossa rotina e até comemoramos alguma conquista pessoal. Mas, na verdade, o autocuidado é importante nesses momentos, assim como manter uma rede socioafetiva e realizar atividades prazerosas.

O excesso de informações – ou infoxicação – que recebemos através dos meios de comunicação podem gerar uma sobrecarga mental, por isso precisamos nos conectar com isso em forma de ação, a fim de gerar um canal de reabastecimento e de escoamento desse estresse. Se ficarmos imersos nas notícias, focando nosso pensamento nisso, nos tornamos mais suscetíveis a sucumbir ao estresse. Precisamos pendular, ou seja, nos conectar de alguma forma, pois não é possível se alienar ao que acontece no mundo, mas estabelecer limites e encontrar nossa própria válvula de escape.

Para os indivíduos e a comunidade, o impacto emocional de um evento traumático é profundo. Todos respondem de alguma forma a eventos estressantes e é saudável responder. É natural se sentir confuso diante da mudança repentina nas emoções e até mesmo ter sentimentos contraditórios, como por exemplo, sentir culpa e alívio (pelo fato de estar em segurança), ao mesmo tempo. Mas cada sentimento tem seu espaço e pode nos ensinar algo valioso sobre nós mesmos e sobre como lidamos com situações de pressão e sofrimento.

Confira nos cards algumas recomendações sobre como acolher as vítimas em situações de desastres (Card 1 e Card 2).

A continuação desse conteúdo será enviado na data de 29/05, onde será abordado sobre: as reações mais comuns em situações de desastre, as consequências do trauma, a importância da sensibilidade e flexibilidade dos gestores da UNIPAMPA nesse momento, bem como algumas dicas sobre como lidar com as emoções durante esse período desafiador.


Caso necessário, conte com o Serviço de Psicologia da PROGEPE, para acolhimento e orientações, através do e-mail: psicologia.progepe@unipampa.edu.br.