O Planetário da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), localizado no Campus Bagé, está desenvolvendo sessões específicas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A iniciativa batizada de “Sessão Azul do Planetário” foi idealizada pela professora da Unipampa, Amelia Rota Borges de Bastos, em colaboração com a equipe do Planetário da Universidade, em especial com o professor Guilherme Frederico Marranghello e a técnica Cecília Petinga Irala. O objetivo foi promover um passeio com recursos de acessibilidades para crianças autistas e suas famílias conhecerem o local. Além disso, a ação contou com o apoio do Núcleo de Estudos em Inclusão (NEI) da Unipampa.
As sessões iniciais serviram como experimento para a institucionalização desse tipo de prática no cotidiano do Planetário. A primeira sessão azul ocorreu no dia 8 de junho para o público da organização Caminho da Luz. Após essa data, foram realizadas mais duas sessões, no dia 29 de junho com o Centro de Reabilitação e Apoio (CRA) do município de Candiota, e no dia 3 de julho com a Associação Janelinha para o Mundo. A iniciativa foi inspirada em sessões de cinemas adaptadas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista.
O planejamento do experimento envolveu a construção de recursos de antecipação, importantes para a inserção do público TEA em novos ambientes: como um vídeo de antecipação – com apresentação da equipe e do espaço físico onde ocorrem as sessões; materiais em comunicação alternativa/aumentativa para ampliar a comunicação entre visitantes não verbais e a equipe do Planetário, e planejamento de atividades prévias com as instituições responsáveis em levar os visitantes à visita. Além disso, foi estimulada a construção de foguetes pelas crianças para uma maior aproximação com os planetaristas.
De acordo com Amelia Borges, a sessão foi pensada para oferecer às crianças e famílias de autistas a oportunidade de um passeio tranquilo, sem medo de preconceitos e estigmatização. “Essas sessões azuis compreendem que existem comportamentos que são típicos do TEA, mas que em nada impedem que essas pessoas usufruam da experiência do Planetário”. Para o desenvolvimento da sessão também foi construída uma parede sensorial, que contou com a colaboração de alunos do curso de Engenharia de Produção da Unipampa. Além disso, foram confeccionadas almofadas e adquiridas lanternas e óculos de âmbar para facilitar a adaptação das crianças ao planetário.
A técnica Cecilia Irala estima que a cada cinco turmas que visitam o Planetário, pelo menos uma possui uma pessoa com TEA. Ela menciona o trabalho que vem sendo realizado em termos de inclusão destas pessoas no ambiente do Planetário, e a importância das estratégias de adaptação da sessão. “A gente executou esse planejamento para o público autista e para a família. É um passeio para as famílias trazerem os filhos e não terem que se preocupar com estar incomodando. Para eles ficarem tranquilos e aproveitarem o passeio”, comenta Irala.
Segundo Amelia, o exemplo das sessões azuis pode ser utilizado em outros espaços da Universidade. Ela comenta sobre a importância da inclusão como um valor do Planetário. “A astronomia é para todos, e tu tem um conjunto de pessoas que estão preocupadas em pensar em recursos de acessibilidade, e implementar esses recursos, porque se não, a astronomia não é para todos”, destaca.
A partir destes primeiros experimentos, o objetivo é aprimorar ainda mais as práticas de acessibilidade, inclusive nas sessões abertas. “A cada sessão azul, a cada trabalho que a gente faz específico, aprendemos tanto que conseguimos incluir essas pessoas no coletivo, na sessão aberta, que têm todos os públicos”, relata Irala. A ideia da equipe do Planetário em conjunto com a professora Amelia Borges é refletir sobre a experiência e buscar melhorar ainda mais o acolhimento e inclusão do público TEA.
Para a docente, o diferencial das ações desenvolvidas pelo Planetário em termos de inclusão está na intencionalidade. “É uma intenção do Planetário que ele seja para todos. Essa intencionalidade tem que estar na Universidade”, comenta Amelia . A Sessão Azul do Planetário da Unipampa é um exemplo de como inserir a acessibilidade no cotidiano e nos mais diversos espaços da Universidade.