Campanha contra discriminação racial: por uma Universidade antirracista

O presente material corresponde à segunda parte enviada aos servidores referente à “Campanha contra discriminação racial: por uma Universidade antirracista”. Você pode conferir o primeiro conteúdo no post publicado no dia 21 de março. Como estamos no mês da mulher, neste momento iremos destacar alguns pontos relacionados às mulheres negras.

As mulheres negras e o trabalho de cuidado

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2022, as mulheres negras são o maior grupo populacional do país: 60,6 milhões, ou seja, 28% da população total. Já sabemos que o trabalho de cuidado impacta homens e mulheres de forma diversa. Mas quando analisamos a questão com o recorte racial, é nítido que mulheres negras dedicam mais tempo a esse trabalho do que mulheres brancas.

Para Bell Hooks, após anos de escravidão, ainda hoje subsiste a “representação da negra que imprime na consciência cultural coletiva a ideia de que ela está neste planeta principalmente para servir aos outros”. No mesmo sentido, Sueli Carneiro indica que o imaginário social brasileiro relega as mulheres negras a uma condição de subalternidade, atribuindo-lhes papéis sociais específicos, como o de empregada doméstica.

A taxa de desemprego de mulheres negras é a mais alta, com percentual de 22,1% desempregadas, o dobro do percentual dos homens brancos/amarelos (10,0%). Além disso, os dados demonstram, portanto, que mulheres negras estão na base da pirâmide da desigualdade de renda no Brasil.

As mulheres representam a maioria dentre os trabalhadores que desenvolvem atividades remuneradas no âmbito doméstico (domésticas, cuidadoras de idosos ou crianças etc), atividades que sofrem com altos índices de informalidade e baixa remuneração. Nesse grupo, mais de 91% são mulheres, das quais 65% são negras. Além disso, são as mais impactadas no trabalho de cuidado não remunerado, já que, das mães solo brasileiras, 90% são negras.

No Brasil, 11,3 milhões de mulheres criam seus filhos e filhas sozinhas. Entre elas, 72,4% não têm rede de apoio próximo. Pesquisa realizada nos últimos 10 anos (de 2012 a 2022), mostra que 90% das mães solo são negras. (PNADC, IBGE)

Estudo publicado pela Coqual no ano de 2023 aponta que, no Brasil, esse trabalho reprodutivo possui 53% mais chances de impactar negativamente uma mulher preta do que uma mulher branca. Esses dados demonstram a necessidade de se repensar o cuidado a partir das diferentes interseccionalidades, que se somam à questão do gênero e impactam de forma diversa diferentes grupos.

A ratificação da Convenção 156 da Organização Internacional do Trabalho, que trata dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras que possuem encargos familiares, é um importante passo a ser assumido pelo Estado brasileiro a fim de corrigir essas distorções.

Desde 2017, cerca de 80 trabalhadores domésticos foram resgatados em condições análogas à escravidão pela Inspeção do Trabalho no Brasil. Desses, cerca de 80% eram mulheres negras. É necessário, portanto, reconhecer que o racismo estrutural se soma à questão do gênero e do machismo, resultando numa dupla-discriminação dirigida às mulheres negras.

Confira no card clicando aqui: “O que se pode fazer quanto ao enfrentamento da discriminação racial contra mulheres?“, nele constam algumas medidas a serem tomadas, tanto no âmbito individual, quanto organizacional.

É chegado ao fim  da nossa “Campanha contra discriminação racial: por uma Universidade antirracista”. Agradecemos a todos que acompanharam os materiais  compartilhados e desejamos que as reflexões trazidas possam reverberar para além dessa data, pois não basta não concordarmos com o racismo, é preciso que adotemos práticas antirracistas todos os dias.


Já falamos sobre discriminação racial na “Cartilha de Conscientização e Combate ao Racismo – Lutar contra o racismo é dever de todos(as)!”. Para conhecer este e outros materiais elaborados pela DASST, acesse o site da PROGEPE clicando aqui

Servidor da Unipampa: caso você esteja em sofrimento relacionado ao trabalho ou tenha passado por situação de discriminação racial, entre em contato com as psicólogas da PROGEPE, através do e-mail: psicologia.progepe@unipampa.edu.br. Elas poderão prestar acolhimento, bem como auxiliar em relação às medidas a serem tomadas diante dos fatos. Para saber mais sobre o Serviço de Psicologia, clique aqui.