Tecnopopulismo: a influência dos algoritmos na política

por Eduardo Vieira da Silva.

A crise da democracia representativa é tema recorrente de livros sobre política mundo a fora. Analisando o desalento e a revolta da população com as instituições (MOUNK, 2018) ou como regimes democráticos podem sucumbir não por golpes, mas por processos graduais de centralização de poder (LEVITSKY & ZIBLATT, 2018), cientistas sociais buscam encontrar respostas para entender o avanço de líderes populistas.

Invariavelmente, um dos pontos elencados são as mudanças tecnológicas, que explicam em parte o problema. As insatisfações humanas já estavam aí, porém precisavam ser estimuladas. O casamento entre a cólera de uma população descontente com os efeitos da globalização (por razões justas ou não) e os sofisticados algoritmos das redes sociais produziram o que está sendo chamado de “tecnopopulismo” (EMPOLI, 2019).

Experiências como o Movimento 5 Estrelas, na Itália, demonstram que as agendas políticas estão sendo substituídas por qualquer ideia que mantenha o eleitor colado nas plataformas. Quanto mais radicais e apelativas forem as mensagens – pouco importa se factuais –, mais impacto terão para gerar emoções e engajar os apoiadores. Por trás desse projeto político, estrategistas usam os dados dos usuários para construir uma argumentação personalizada que os atraia e conquiste. É o que Giuliano da Empoli chama de “os engenheiros do caos”.

No Brasil, a eleição presidencial de 2018 passou também pelo modo como foi utilizado o aplicativo WhatsApp (MELLO, 2020), com denúncias de doações de campanha não declaradas por parte de empresas e por disparos em massa. A “Máquina do Ódio” valeu-se, sobretudo, do medo e da indignação dos eleitores. Com um discurso extremista e com o uso de fake news ­– notificas falsas –, a moderação sumiu do debate, polarizado entre radicais.

Portanto, é fundamental que os democratas encontrem formas de frear o avanço de populistas e seus engenheiros do caos, que utilizam novos meios para ascender ao poder e depois enfraquecer as instituições.

 

Referências Bibliográficas:

MOUNK, Yascha. O povo contra a democracia: por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
EMPOLI, Giuliano da. Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. São Paulo: Editora Vestígio, 2019.
MELLO, Patrícia Campos. A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

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