Arquivo da categoria: v. 2 n. 1 (2021)

Apresentação da 10ª Edição

Está no ar a 10ª edição do CiênciAção. Esta é a primeira edição do ano de 2021, com  um calendário atípico, pois seguimos em pandemia  e com o semestre 2020/02 em andamento no modo remoto. Entre os temas abordados nesta edição, apresentamos no CiênciAção Mulheres um vídeo com a professora Eliade Lima, do campus Uruguaiana, no qual divulga a criação do GT Mulheres na Ciência da Unipampa e esclarece qual o foco de atuação do GT.

Na seção Observatório Interdisciplinar de Divulgação Científica e Cultural apresentamos duas iniciativas do curso de Medicina da Unipampa. A primeira trata-se do Aplicativo de Dispositivo Móvel Saúde Uruguaiana (SAU) executado por um conjunto de pesquisadores do curso de Medicina da Unipampa como uma ferramenta de expansão do acesso à informação sobre saúde do município da fronteira oeste. A segunda, é o Projeto Mídias outra iniciativa de acadêmicos e docentes do curso de Medicina da Unipampa, neste caso um projeto de extensão que tem como objetivo instigar a construção do conhecimento sobre saúde mental e desconstruir paradigmas relacionados ao tema. 

No Informativo a convivência intercultural nas universidades é abordada no texto “De maneira sagrada e em celebração: apontamentos sobre uma pequena participação no fim dos ‘cem anos de silêncio'”. Ainda nesta seção apresentamos o levantamento com os números dos projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão atualmente em desenvolvimento na Universidade.  

O tema do Blog e Colunista é a abordagem Entidade-Relacionamento (ER), assunto relevante para a construção de um projeto de banco de dados. A alun@ Destaque da edição é Milena Matos Azevedo, do curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura da Unipampa, campus Itaqui. 

O desequilíbrio ambiental e suas relações com o surgimento de pandemias é abordado na seção reportagem. No texto  “Como o descaso com o Meio ambiente contribui para o surgimento de pandemias” você tem acesso a dados sobre o desmatamento no bioma pampa tão relevante para nossa região e único no país. Aplicativo para o ensino-aprendizagem de Lógica Matemática é tema da outra reportagem apresentada nesta edição. 

No artigo de opinião o tema é o uso do PIX para transações financeiras via dispositivos móveis. O texto apresenta as características da ferramenta além de funcionar como um guia de uso  que promete revolucionar o Sistema de Pagamentos Brasileiro.  

Por fim, no Anime seu conceito o Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Doenças  Infectocontagiosas (NUPEEDIC) da Unipampa produziu um vídeo sobre como funcionam as vacinas para a prevenção da COVID19 em uso no Brasil atualmente. 

A equipe CiênciAção deseja uma excelente leitura a tod@s!

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GT Mulheres na Ciência da Unipampa

Desde novembro de 2020, a UNIPAMPA conta o GT Mulheres na Ciência da Unipampa.

No vídeo, a Professora Eliade Lima apresenta as principais frentes de atuação do GT. Para assisti-lo.

Para acompanhar o GT Mulheres na Ciência da Unipampa visite o site Mulheres na Ciência da Unipampa , siga o perfil oficial no Instagram @mulheresnaciencia.unipampa ou entre em contato pelo email: mulheres-na-ciencia@unipampa.edu.br

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Como funcionam as vacinas?

por NUPEEDIC/UNIPAMPA

O Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Doenças Infectocontagiosas, o NUPEEDIC, da UNIPAMPA, produziu o vídeo que responde essa questão de forma muita ilustrativa. Ao vê-lo, você saberá como é que funcionam as vacinas contra COVID19 até então aprovadas pela ANVISA: a Coronavac, do Butantan, e a AstraZeneca, a FioCruz. Essas são até o momento as vacinas em uso no Brasil.

Assista o vídeo  e o compartilhe, e espalhe informação científica por aí.

Créditos: Guilherme Luiz Domeneghini, Maria Eduarda Gallarreta, Sabrina Nesi e Luciana de Souza Nunes, todos e todas discentes e docentes da Medicina, da UNIPAMPA Uruguaiana.

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Aplicativo de Dispositivo Móvel como Ferramenta de Expansão do Acesso à Informação em Saúde

por Lincoln Sona, Rovana K. Bueno, Jeferson R. Bueno,
Ana L. M. Studzinski, Sandra B. D. Ebling, Rita C. F. S. Evaldt

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 assegura a todos os cidadãos o direito ao acesso à informação, incluindo a informação em saúde, assim como define a saúde como um direito de todos e dever do Estado, o que culminou com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Este apresenta como um de seus princípios organizativos a hierarquização, a qual preconiza a articulação dos serviços de saúde por nível de complexidade, visando garantir acesso a serviços que correspondam às necessidades de saúde dos usuários. Além disso, o princípio da participação popular atua em consonância com a promoção da saúde, através de educação e informação em saúde, provendo maior autonomia e, consequentemente, o empoderamento do usuário.

Menu principal do App SAU

A promoção em saúde pode ser compreendida como um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde (Carta de Ottawa, 1986). As ações de promoção de saúde têm o intuito de reduzir as desigualdades no estado de saúde da população através de estratégias e programas que se adaptem às necessidades locais. A tecnologia, com destaque para os aplicativos móveis de smartphones, pode colaborar para desenvolver uma nova modalidade de assistência em saúde (BANOS, 2015), ao atuar na melhora do fluxo de informações, contribuindo para otimizar a coordenação dos sistemas de saúde (FUNCAP, 2018), facilitando o acesso e favorecendo a universalização de informações essenciais à população. Dessa forma, atua como ferramentas estratégicas para promover a saúde por meio de acesso a informações de forma prática, rápida e segura.

Docentes da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) e discente de Medicina atuaram na concepção do Aplicativo da Saúde de Uruguaiana, o App SAU, em linguagem JAVA Script e disponibilização para dispositivos Android. Para seu desenvolvimento, foram coletadas informações de todas as unidades de saúde públicas do município e os serviços ofertados diretamente com profissionais de cada serviço, essas informações foram revisadas pela Secretaria Municipal de Saúde de Uruguaiana. Ao encontro do panorama proposto, o aplicativo, lançado em agosto de 2020, concede gratuitamente à população do município informações de saúde atualizadas cotidianamente. O aplicativo foi planejado e executado com a premissa de ser de fácil usabilidade e compreensão, com linguagem acessível, menus intuitivos com ícones explicativos, e informações de saúde essenciais à população, com a praticidade do acesso através de um smartphone.

Menu COVID-19: Saiba +

O App SAU disponibiliza informações sobre: a) todos os serviços públicos de saúde de Uruguaiana, com endereço, telefone, horário de funcionamento e serviços oferecidos; b) as localizações desses serviços no mapa da cidade; c) COVID-19, como sintomas, modos de prevenção, onde se localizam os centros de triagem do município e ainda apresenta a bandeira e o número de casos da COVID-19 em Uruguaiana e o progresso da vacinação; d) campanhas de saúde atualizadas mensalmente com campanhas como Outubro Rosa e Novembro Azul; e) espaço para as crianças com jogos educativos em saúde; f) telefones úteis, como o do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU.

Ao considerar a universalização, a compreensão da população em relação aos serviços de saúde ofertados em diferentes níveis de complexidade é basilar. O App SAU contribui para a efetivação e para a adesão popular a esse princípio e, consequentemente, potencializa o funcionamento do SUS e evita a morosidade do sistema. À medida que novas tecnologias surgem e se expandem, a propagação de informações vitais à população pode se valer estrategicamente desses meios para manter a comunidade informada e ativa na busca por saúde.

Menu Serviços de Saúde no Mapa.

O aplicativo está sendo amplamente divulgado, através de rádios do município, podcast, programa ao vivo da prefeitura, redes sociais, cartazes em serviços de saúde e estabelecimentos comerciais, dentre outros. Ele pode ser baixado em qualquer dispositivo móvel Android digitando-se “Aplicativo da Saúde de Uruguaiana” na Google Play Store, ou utilizado em qualquer dispositivo por meio do link: appSAU

O acesso ao SUS por meio dos serviços da Atenção Primária à Saúde fomenta seu sucesso e colabora para a concretização de seus princípios. O App SAU evidencia a diligência da Universidade em desenvolver projetos que contemplam as necessidades da comunidade, atuando como ferramenta de promoção de saúde ao facilitar o acesso a informações sobre saúde dando visibilidade a campanhas de saúde que são importantes para a população e sobre a COVID-19 em meio ao cenário pandêmico mundial, além do conhecimento dos serviços de saúde públicos do Município.

 

Lincoln Sona, discente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana, lincolnsona.aluno@unipampa.edu.br. Rovana K. Bueno, psicóloga, rovanabueno@unipampa.edu.br; Jeferson R. Bueno, engenheiro civil, jefersonbueno@unipampa.edu.br; Ana L. M. Studzinski, bióloga, anastudzinski@unipampa.edu.br; Sandra B. D. Ebling, enfermeira, sandraebling@unipampa.edu.br; Rita C. F. S. Evaldt, médica, ritaevaldt@unipampa.edu.br; docentes da Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana

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Referências

BANOS, Oresti et al. Design, implementation and validation of a novel open framework for agile development of mobile health applications. Biomed Eng Online, 14, article number S6, 2015.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Seção II, Da Saúde; Art. 196. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 19 fev. 2021.

CARTA de Ottawa. Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, Ottawa, Canadá, Nov. 1986. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf. Acesso em: 21 fev. 2021.

FUNCAP, Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Pesquisa desenvolve aplicativos para a promoção da saúde da mulher. Portal da FUNCAP, 13 de junho de 2018.

Mídias como meio de promoção de saúde mental

O “Mídias” é um projeto de extensão vinculado à UNIPAMPA, Campus Uruguaiana. Sua equipe conta com a colaboração de duas professoras e duas alunas do Curso de Medicina. O principal intuito dessas ações é instigar a construção do conhecimento, tanto dos discentes quanto da comunidade em geral, desconstruir paradigmas relacionados à saúde mental e promover a sensibilização da população a temas referentes à Saúde Mental. 

E por que falar sobre saúde mental? Porque se constata que a prevalência de doenças orgânicas vem diminuindo, enquanto que a de doenças mentais aumenta. Estima-se que 24% da população possua algum transtorno mental e que 12% necessite de tratamento (OMS, 2001). Já na América Latina, os problemas de saúde mental correspondem a mais de um terço da incapacidade total. Desse percentual, os transtornos depressivos estão entre as maiores causas, seguido pelos transtornos de ansiedade. Nesse contexto, o Rio Grande do Sul lidera o ranking dos estados brasileiros com maior média de suicídio: 10,4 para cada 100 mil habitantes, segundo um estudo feito, em 2016, pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul. Esse comportamento é o resultado da interação de fatores biológicos, psicológicos, socioculturais e ambientais. 

Portanto, a estratégia de promover saúde se baseia em capacitar a comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle desse processo. Pensando nisso, chegamos à conclusão que deveríamos utilizar mais de um tipo de veículo de comunicação e, assim, conseguir abordar pessoas em diferentes contextos e níveis socioeconômicos. 

O projeto teve início em 2019 e houve uma readaptação no ano de 2020. Atualmente nosso “método” abrange três meios de comunicação: Instagram, rádio e podcast. O podcast e o rádio foram os meios de comunicação escolhidos por serem populares, conseguirem abranger diferentes públicos e possuir alta velocidade de disseminação de informações. Já a rede social Instagram contempla outro público, o que amplia a abrangência do alcance do projeto. 

Algumas dessas estratégias são possibilitadas pelas parcerias que apoiam o projeto. Para transmitir informações pela frequência de rádio, contamos com o apoio do “Programa UNIPAMPA Debates”, que é veiculado na Rádio São Miguel 880 AM, nas sextas-feiras, no horário das 15:00 às 16:00. O “Podcast Ciência no Velho Oeste” também é uma iniciativa de professores da UNIPAMPA, Campus Uruguaiana, e é lá que gravamos nossos episódios. Já a nossa conta no Instagram pode ser encontrada pelo IG @projetomídias. Ressalta-se que devido às medidas de distanciamento social, todas as postagens e gravações estão sendo realizadas na modalidade remota.

Zilmara dos Santos Luis (zilmaraluis.aluno@unipampa.edu.br) e Juliana Correa da Silveira (julianasilveira.aluno@unipampa.edu.br) são acadêmicas da Medicina da UNIPAMPA Uruguaiana; Rovana Kinas Bueno é docente da Medicina da UNIPAMPA Uruguaiana, rovanabueno@unipampa.edu.br  e Shana Hastenpflug Wottrich é docente do Curso de Medicina da UNIPAMPA Uruguaiana, shanawottrich@unipampa.edu.br.

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Referências 

Organización Panamericana de la Salud. La carga de los trastornos mentales en la Región de las Américas, 2018. Washington, D.C.: OPS; 2018. Acesso em: 26 de fevereiro de 2021. 
Origem do suicídio alerta para importância de diagnóstico e tratamento psiquiátrico. Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em < http://www.simers.org.br/noticia?name=origem-do-suicidio-alerta-para-importancia-de-diagnostico-e-tratamento-psiquiatrico > Acesso em: 26 de Fevereiro de 2021.

De maneira sagrada e em celebração: apontamentos sobre uma pequena participação no fim dos “cem anos de silêncio”

por Maria Cristina Graeff Wernz
Hay un río fluyendo muy rápido.
Esto es tan grandioso y repentino que hay muchos que tendrán miedo.
Tratarán de mantenerse agarrados de la orilla.
Sentirán que están siendo separados abruptamente y sufrirán enormemente.
Sepan que el río tiene su proprio destino.
Los ancianos dicen que debemos dejar la orilla e introducirnos en medio del río,
mantener nuestros ojos abiertos y nuestras cabezas por encima del agua.
Vean a quienes están con ustedes y celebren.
En este momento de la historia, no tomemos nada de manera personal.
Menos que a todo, a nosotros mismos.
El tiempo del lobo solitário terminó.
Todo lo que hagamos, debemos hacerlo de manera sagrada y en celebración.
Somos los que hemos estado esperando esto.

Los ancianos
Oraibi, Arizona, Nación Hopi, 2005

A convivência intercultural tem sido pauta nas universidades, a partir do ingresso de estudantes que representam a diversidade étnica do povo brasileiro. Neste contexto, a presença/ausência da trama entre culturas, em especial na perspectiva do ingresso e permanência de indígenas acadêmicos na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), foi sendo desvelada nas ações e reflexões que levaram, até o final da pesquisa que aqui apresentamos, a emergir quatro camadas não hierárquicas e, algumas vezes, concomitantes.

Conforme foi adensando a investigação e a convivência, em especial com o parceiro de pesquisa, o intelectual Kanhgág Onorio Isaías de Moura, foram surgindo e sendo recolocadas camadas matéria-espírito, no ritmo dos movimentos provocados pela sincronicidade e pela causalidade.

Em forma de espiral, na primeira camada, destacam-se os registros institucionais da UNIPAMPA sobre ingresso e permanência de indígenas acadêmicos. São informações públicas, que podem ser acessadas em espaços institucionais na web ou que podem ser buscadas, por consulta, no setor que responde pelas ações afirmativas, indicando como está constituída a presença/ausência do coletivo indígena acadêmico.

Na segunda camada, a partir da potência do encontro entre culturas, o jogo do ser-e-estar tangenciando o ambiente de objetividade acadêmica; o racional e o simbólico em movimento de avanços e tensionamentos. Nela, surge a emergência do “pesquisar com”, constituída no processo da convivência, testando os limites, por vezes até os ultrapassando, refletindo, reconsiderando conceitos e reformulando ações, algumas concretizadas na terceira camada, com o ingresso do parceiro pesquisador Kanhgág no Programa de Pós-Graduação em Educação (UNISC).

A quarta camada, que encerra com o tempo de pesquisa, emerge da presença e do protagonismo indígena na Universidade. Neste ponto, várias reflexões são possíveis, tais como o fato da presença indígena na academia pressupor o seu protagonismo no âmbito universitário, implicando participação em pesquisa, ensino e extensão, bem como quais seriam os limites e possibilidades de colaboração intercultural encontrados e viabilizados academicamente. Reflexo das produções de sentido na convivência, as camadas são atravessadas pelo mito de origem kanhgág e pela arte que dele reverbera.

A pesquisa apoia-se teoricamente em intelectuais indígenas, principalmente da etnia kanhgág, e não indígenas, dialogando com as suas metodologias, destacando-se Dorvalino Cardoso, Bruno Ferreira, Zaqueu Claudino, Ailton Krenak, Rodolfo Kusch, Carl Gustav Jung e Daniel Mato, entre outros. Deste diálogo, emerge a Metodologia Vãfy, que representa a relação e a colaboração intercultural em direta relação com as ações planejadas e executadas durante o tempo de pesquisa.

Metodologia Vãfy

Tudo tem seu lado par ou ímpar.
(CARDOSO, 2017)

Objetos-sujeitos: a arte kaingang como materialização das relações. Não por acaso, este é o título de uma publicação da FUNAI, datada de 2011, e que traz, entre seus autores, o intelectual kanhgág Zaqueu Claudino. A arte, na perspectiva abordada, carrega o princípio mitológico que traz a relação entre os opostos como pressuposto. É uma relação que postula as diferenças como aspectos imprescindíveis: é preciso que existam, que se relacionem e que se mantenham diferentes, pois é na alternância e na complementaridade do mito vivido que a cosmologia se sustenta e que se mantém. Claudino (2011), ao evocar a cultura material kanhgág, relembra que ela expressa os tempos primevos e que, na trama das cestarias, no formato e nas figuras geométricas estão imagens simbólicas imemoriais. As relações de oposição e complementaridade estão postas entre seres humanos, entre humanos e animais, entre humanos e a natureza. Se Kamë, vencedor da luta entre os dois sóis, tornou-se o guerreiro mais forte entre os kanhgág, expresso no väfy kuka (estrutura, armação da arte), os filhos são gerados dos casamentos entre metades opostas e complementares. Da mesma forma, nos informa o intelectual indígena, frutos e sementes somente germinam a partir da existência de agentes polinizadores (vento, pássaros, abelhas), ou seja, de complementos que possibilitam a reprodução da vida. Para haver os Kamë, são fundamentais seus Jamrés (cunhados), os Kajru.

Ao utilizarmos a trama da arte kaingang, tecida em fios mitológicos, com a carga simbólica necessária à reflexão sobre interculturalidade – como metáfora -, queremos indicar que é na relação de reciprocidade e de complementaridade que se organizam os movimentos metodológicos. Claudino (2011), conforme já anteriormente citado, informa que na arte de seu povo “…existem entrelaçados e grafismos que não terminam no artefato; sempre ficam em aberto, sugerindo continuidade além do suporte em que se realizou a arte. São infinitos e imaginados na composição dos cosmos” (p.35).

Em aproximação com a estética ameríndia, a Metodologia Vãfy convida, por meio da arte, a uma estruturação metodológica que aponta para uma relação entre culturas, baseada na reciprocidade, contida na base mitológica que sustenta a proposta. Colombres (2004) ressalta que, pela consciência simbólica, somos capazes de recompor pedaços dispersos da realidade, devolvendo a coesão ao mundo, ou gerando-a. Relembra que a arte é uma das vias para alcançar os mais altos níveis da referida consciência. Quando a lógica racional perde o rumo, “solo la referencia del símbolo puede devolverlo, en la medida en que permite aprehender lo inteligible por medio de lo sensible” (p. 8).

Eloisa Penna (2005), ao bordar o paradigma junguiano no escopo da metodologia qualitativa de pesquisa, lembra que “…o caminho pelo qual o conhecimento é alcançado e viabilizado é o processamento simbólico, que se dá a partir dos parâmetros da causalidade, da finalidade e da eventual sincronicidade, presentes nos eventos simbólicos” (p.90). A autora amplia, lembrando que, para a integração do desconhecido à consciência conhecedora, a compreensão do fenômeno – símbolo – opera por associações, comparações e analogias, buscando sentidos. O mito, um dos mais privilegiados símbolos, ancestral e universal, traduz ao imaginário aspectos profundos da consciência coletiva. (Colombres, 2013)

Ao permitir que aflore a mitologia kanhgág no movimento metodológico, queremos beber em águas profundas, que nos remetem a uma forma própria de aprender e ensinar recebida dos ancestrais da referida nação. O professor Zaqueu Claudino (2010) nos lembra que o método educativo kanhgág, com base nas formas tradicionais de aprendizagem, foi aperfeiçoado ao longo dos séculos e que é fundamentada na relação de reciprocidade e complementaridade (também referida Onorio, quando trata da complementaridade e da oposição).

A partir das experiências vividas, das reflexões feitas no cruzamento de mundos – indígena e não indígena – fomos levados a pensar que nossos movimentos estavam impregnados dos ensinamentos da nação kanhgág e por eles eram conduzidos. Para formalizá-los metodologicamente, usamos, como metáfora, o trançado da arte kanhgág. No desenho que tensiona duas linhas, pensamos que podemos olhar, em uma perspectiva inspiradora, duas culturas. Uma peça intercultural que seja compreendida de forma complexa, considerando suas cores, seus materiais e seu formato. E, ainda, o que está dentro e o que está fora, em um jogo de troca de mirada, trabalhada no imaginário profundo.

Estamos trabalhando com a imagem do mito de origem do povo kanhgág, por entender que há uma associação entre a carga mitológica e as relações humanas e não humanas: abordar o segredo de origem pode fortalecer, pode trazer uma carga de poder, arquetípica, resultando em segurança no caminhar. Nos diz como funcionam as relações humanas e não humanas, como se manifestam, como se pode encontrá-las e como recuperá-las.

A metáfora, com base mitológica, na qual foi gestada a Metodologia Vãfy, conduz a um convite: que possamos produzir a arte da convivência intercultural na conjunção, no cruzamento de mundos em espaços educativos, local da nossa utopia.

Cores: Quando falamos em cores, falamos em representações culturais. Onde se apresenta uma peça monocromática, sugerimos a policromia como padrão. Ou seja, a Metodologia Vãfy propõe a participação de representantes de cada cultura envolvida, indígenas, afro-brasileiros, não indígenas, atuando no planejamento e execução das ações propostas. Intelectuais, sábios de diferentes cores culturais, com suas marcas, representados na arte-trama metodológica.

Formas: as formas estão relacionadas aos locais-origem das informações sobre culturas próprias. Sugere-se, na trama metodológica, que a forma-fala referenciada seja a de representantes das culturas próprias, ainda que acompanhadas de abordagens de especialistas, estudiosos de culturas que não são as suas próprias. Ou seja a aldeia, o quilombo em entrelaçamento com a academia ou outros espaços educativos formais.

Materiais: Os materiais são representados pelos recursos específicos da cultura para implementação das ações: arte, cosmologia, mitos, palavras dos mais velhos e sábios representantes da cultura em pauta. Na trama da metodologia – arte, emerge a potência simbólica. É o material-resistência em tensionamento com o cerrar de portas à diversidade, provocado pelo espírito científico baseado na racionalidade.

Reconhecemos que a dinâmica proposta pela Metodologia Vãfy, em especial quando se trata de coletivos indígenas, já é utilizada em diversas ações de ensino, pesquisa e extensão nas universidades que, desta forma, reconhecem a importância da atuação daqueles que trazem, desde a ancestralidade, as referências culturais próprias. Ao reforçar estes propósitos, através de uma inspiração simbólico-metodológica, há a intenção de aprofundar este movimento. Se pudéssemos traduzi-lo em imagem, diríamos que poderia ser representado por uma espiral infinita de relações, de aproximações cada vez mais intensas, num desenho único, que traz a densidade do cosmo, do universo. Entretanto, compreendemos as dificuldades. Estamos vivendo e refletindo sobre elas. Por esta razão, nos ocorreu reforçar o propósito, dando-lhe um nome que justamente mescla palavras de duas línguas e que traz, na sua essência, o conceito dos opostos e da totalidade por eles representada: Metodologia Vãfy.

Vivemos a experiência que propomos. Em alguns casos, efetivamos propostas; em outros, tangenciamos ambientes mais resistentes e não conseguimos aderência. Os movimentos iniciais foram intensos e indicaram os caminhos pelos quais nos foi possível andar. Algumas portas se abriram; outras, ainda espiamos. Tais caminhos, de idas e vindas, deixam a mostra dificuldades e avanços, no que poderíamos entender como um “estar-sendo” acadêmico, preenchido por aqueles que estão “no meio do rio”, de maneira sagrada e em celebração.

La encrucijada de estar no más

Imagem da entrada da Aldeia Foxá – edição da autora

Encruzilhada é lugar onde se cruzam caminhos e, no sentido figurado, ponto crítico, em que uma decisão deve ser tomada. Também remete à dimensão apontada pelo professor Rodolfo Kusch que é estar em pé, em movimento, ativada pela inquietude. Caminhos vão sendo abertos e é preciso percorrê-los. Sendo assim, é preciso entender encruzilhada na potência da sua complexidade e, com o desejo de não aquietar, deixar que a vida provoque outros despertares e expanda as objetividades e subjetividades que nos constituem.

Estar sentada ou estar em pé; repouso e inquietude que se atravessam e se cruzam; o pensar racional, causal cada vez mais envolvido pelo pensamento seminal, onde os limites da definição estão diluídos nas incertezas, abrindo espaço para o sentir. Nesta vibração, uma pergunta: sobre quais espaços educativos falamos? Falamos em especial da Universidade, para onde os indígenas vão e voltam, navegando em barcos que transportam pessoas com uma educação universitária diferente de seus horizontes simbólicos (ALARCÓN, 2018). Neste ponto, o olhar volta-se para a aldeia. Universidade e aldeia como espaços educativos. A defesa da presença dos indígenas na universidade, a defesa de um habitar e existir distante da academia. Estar na encruzilhada seria o concretizada na (co)atuação, em especial em ações de extensão que ocorreram durante o tempo de pesquisa, etapa que se encerra em um ano emblemático. 2020, o ano que nos provoca a pensar sobre algo que não é visível e que nos faz refletir sobre as relações entre os seres de diferentes espécies – humanos e não humanos – e sobre a capacidade de afecção recíproca. Nesta perspectiva, muito a aprender com os povos originários, que nos provocam a buscar pelo quatérnio, a busca ideal, o encontro com o Si mesmo, com o “assombro original”, que remete aos tempos primeiros, à essência (KUSCH, 1994).

Assim como as quatro camadas – conjunção do visível com o invisível – as quatro principais pontas da cruz andina – modelo mandálico que organizou o pensamento e a escrita no tempo da pesquisa – foram sendo anunciadas: a colaboração intercultural; kanhgág, não indígena; kamé e kairú. As quatro pontas, em movimento espiral, pautado pela causalidade e pela sincronicidade, fizeram emergir a Metodologia Vãfy a partir do espaço acadêmico. Nela, o mito e a arte gerando aprendizagem simbólico-sensível, conduzida pelo poder dos afetos. Tais movimentos registram o que seria, inicialmente, uma tímida presença indígena na academia, um tensionamento entre culturas e compreensões de mundo e, na sequência, registram a potência da presença dos povos indígenas no ambiente acadêmico.

Profundamente ligados ao planeta, os povos indígenas estão colados ao corpo da Terra, consideram-se terminais nervosos dela. Paletó branco, rosto pintado de preto, Krenak marcou a defesa das mais de 300 etnias indígenas que vivem no Brasil, na Assembleia Constituinte de 1987. Defendeu o direito de existir como povo, como cultura, como território e modo de vida. Muito já foi dito depois deste episódio, entretanto continuamos a colocar em pauta as mesmas questões, inclusive para garantir direitos no âmbito acadêmico.

Para o momento, talvez seja preciso considerar o “acerto fundante” como momentos “del vivir mesmo que no hacen a la totalidad del vivir” (KUSCH, 2009b, p. 407). Na perspectiva de um jogo, que remete à alteridade, o jogo que busca o outro, jogo existencial, eficaz para viver a partir do outro lado, o retorno do ser ao estar. Talvez seja este o “acerto fundante”, eficaz para viver o jogo da existência, que tentamos exercitar no tempo de estudos.

A potência do bom encontro e da colaboração intercultural, que afetam instâncias profundas da condição humana, a partir do reencontro com nossas raízes ancestrais, tem resultado em aprendizagem simbólica-sensível para os pesquisadores e para o público-alvo das ações propostas. Entretanto, não há certezas, conclusões, respostas para todas as questões que reverberam da pesquisa… Entre leituras de teóricos indígenas e não indígenas, entre o dito e o não dito, com a escuta sensível ativada e com um olhar para o “quintal” acadêmico, cenário possível de atuação, com apoio em movimentos causais e sincrônicos, vamos caminhando…

Claudia Wallasen – Pixabay (Edição da autora)

Nosso caminho é uma teia de aranha. Há dificuldade em fazer recortes. (CARDOSO, 2017).

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Referências:

ALARCÓN, Charles Alexander Brito. Macedonia en el Amazonas: educación escolar indígena, interculturalidad en la frontera. Dissertação (Programa de Pós-Graduação Educação)- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.

CARDOSO. Dorvalino Refej. Aprendendo com todas as formas de vida do Planeta educação oral e educação escolar Kanhgág. Trabalho de Conclusão do Curso (Curso de Pedagogia)- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014. Disponível em:https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/103318/000936694.pdf?sequence=1. Acesso em:07 Abril. 2018.

_______ Kanhgág JykreKar – filosofia e educação kanhgág e a oralidade: uma abertura de caminhos. (Dissertação) Programa de Pós-Graduação Educação Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 28 de julho de 2017.

CLAUDINO, Zaqueu Key. A Formação da Pessoa nos Pressupostos da Tradição Educação Indígena Kanhgág. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Educação) Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/87992/000912254.pdf?sequence=1&isAllowed=y . Acesso em:21 Fev. 2019.

______ . As narrativas kaingang nas aldeias. In: FAGUNDES, Luiz Fernando Caldas; FARIAS, João Mauricio. (Orgs.). Objeto-sujeito: a arte kaingang como materialização de relações.Porto Alegre: Deriva, 2011, v. 1, p. 27-40. Disponível em http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smdh/usu_doc/objetos-sujeitos_a_arte_kaingang_como_materializacao_de_relacoes.pdf.

______. Educação indígena em diálogo. Pelotas: Editora Universitária/UFPEL, 2010. (Cadernos Proeja II -Especialização -Rio Grande do Sul. v. II). Disponível em http://blog.aai.ifrs.edu.br/arquivos/educacao_indigena_em_dialogo.pdf . Acessado em 03 Nov 2020.

______ . Kamé e Kajru: a dualidade fértil na cosmologia kaingang. In: BERGAMASCHI, Maria Aparecida. (Org.) Povos Indígenas & Educação. Porto Alegre: Editora Mediação, 2012.

FERREIRA, Bruno. Educação Kaingang: processos próprios de aprendizagem e educação escolar. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Educação), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/107990/000946495.pdf?sequence=1&isAllowed=yAcesso em: 22 Fev. 2019.

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SARASOLA, Carlos Martínez. De manera sagrada y en celebración: identidad, cosmovisión y espiritualidad en los pueblos indígenas. Buenos Aires: Biblos, 2010.

 

Unipampa em números: Projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão

A UNIPAMPA tem ao todo, em seus 10 campi, 1.240 projetos ativos, sendo 178 projetos de ensino, 747 projetos de pesquisa e 315 projetos de extensão. (Confira as dos projetos listagens clicando nos hiperlinks em azul.)

O CiênciAção, fazendo divulgação científica e cultural, deseja explorar cada projeto em suas próximas edições.

Campus Projetos de ensino Projetos de pesquisa Projetos de Extensão
Alegrete 10 82 20
Bagé 13 87 45
Caçapava do Sul 6 28 11
Dom Pedrito 21 35 33
Itaqui 15 59 31
Jaguarão 7 44 15
Santana do Livramento 10 43 18
São Borja 6 36 23
São Gabriel 7 40 13
Uruguaiana 83 293 106

 

Versão do texto em pdf.

Revisão de Sara Feitosa e edição de Walker Douglas Pincerati.

Abordagem Entidade-Relacionamento (ER)

Rafeal Santos de Lima, Acadêmico do BICT – UNIPAMPA Itaqui,rafaelsdl2.aluno@unipampa.edu.br

Para realizar a construção de um projeto de banco de dados de forma correta deve-se passar por necessariamente três fases – Modelo Conceitual, Projeto Lógico e  Projeto Físico – Neste texto irei introduzi-lo aos principais conceitos deste método de modelagem de banco de dados. 

A técnica de Modelagem ER (Modelo Entidade-Relacionamento) é uma das técnicas mais utilizadas hoje em dia para a construção de um modelo conceitual. O Modelo ER foi desenvolvido inicialmente por Peter Chen, em 1976, e melhorado por outros autores como Martin Gogolla, Santos;Neuhold; Furtado (1980) e Scheuermann;Schiffner; Weber (1980), a abordagem ER tem como principais conceitos: Entidade, relacionamento, atributo, generalização/especialização e entidade-associativa.

Entidade

Segundo Carlos Alberto Heuser (2006, p. 35), HEUSER, Calor Alberto(2006, p.35) “Entidade = conjunto de objetos da realidade modelada sobre os quais deseja-se manter informações no banco de dados” , ou seja, é o local onde coisas do mundo real, concreto ou abstrato, sobre os quais se deseja armazenar informações. Alguns exemplos de entidades são: pessoa (física ou jurídica), funcionários de uma empresa, cliente, produto, disciplina, evento etc. 

Na Diagrama Entidade-Relacionamento (DER) uma entidade é representada por um retângulo com o nome da entidade dentro desse retângulo ao centro, como mostrado na figura abaixo.

Vale ressaltar que a entidade funcionário não é apenas um funcionário, mas sim todos os funcionários da empresa, assim como a entidade produto não é apenas um produto, mais sim todos os produtos com os quais a empresa trabalha. para se referir a um funcionário específico utilizamos o termo ocorrência da entidade funcionário, de forma análoga, para referirmos a apenas um produto devemos usar o termo ocorrência da entidade produto.

Relacionamento

Outro conceito importante do ER é o relacionamento.Na bibliografia este conceito “é a representação das associações existentes no mundo real.”MACHADO, FELIPE NERY RODRIGUES (2020, p. 125).  . Relacionamento é associação entre duas entidades, no exemplo abaixo há o relacionamento entre duas entidades, médico e paciente. Um paciente, ocorrência da entidade paciente, é consultado por um médico, ocorrência da entidade médico. No DER, um relacionamento é representado por um losango que liga as duas entidades.  

Não necessariamente o relacionamento é entre duas entidades diferentes, existe o auto-relacionamento, que acontece entre ocorrências de uma mesma entidade. O papel da entidade no relacionamento é a função que a ocorrência da entidade cumpre dentro da ocorrência do relacionamento. Para exemplificar, há o caso da entidade PESSOA e o relacionamento CASAMENTO. Neste caso, uma ocorrência de PESSOA exerce o papel de marido e outra ocorrência de PESSOA exerce o papel de esposa.

Em um relacionamento entre duas entidades há uma propriedade chamada cardinalidade. A cardinalidade nada mais é do que quantas ocorrências de uma entidade podem estar associadas a uma determinada ocorrência através do relacionamento. Existem duas cardinalidades, cardinalidade máxima e cardinalidade mínima.

Cardinalidade máxima: cardinalidade máxima um (1) e cardinalidade máxima ilimitada, usualmente chamada de cardinalidade máxima “muitos” e referida pela letra n.

Cardinalidade mínima: Cardinalidade um (1) recebe a denominação “associação obrigatória”, ou seja, a ocorrência da entidade “A” deve estar relacionada com uma ocorrência da entidade “B”. Já a cardinalidade zero (0) indica uma possibilidade de uma ocorrência da entidade “A” estar relacionada com uma ocorrência da entidade “B”.

Por exemplo, lendo o relacionamento no sentido de funcionário para departamento, um funcionário pertence sempre a, no mínimo, um e, no máximo, um departamento, ou seja, é obrigatório que exista, para uma ocorrência específica da entidade funcionário, apenas uma ocorrência da entidade departamento. 

Agora no sentido de departamento para funcionário. Para um determinado departamento é possível que existam vários funcionários relacionados: mais de uma ocorrência da entidade funcionário refere-se à mesma ocorrência da entidade departamento. 

As cardinalidades existentes em um modelo de dados são um-para-um (1:1), um-para-muito (1:n) e muito-para-muito (n:n). 

Cardinalidade um-para-um,  esse tipo de relacionamento acontece quando uma ocorrência da entidade “A” está relacionada exclusivamente com uma ocorrência da entidade “B” e cada ocorrência da entidade “B” se relaciona com exclusivamente uma ocorrência da entidade “A”. 

Cardinalidade um-para-muitos,  acontece quando uma ocorrência da entidade “A” se relacionar com mais de uma ocorrência da entidade “B”, sendo que uma ocorrência da entidade “B” está associada a uma e somente uma ocorrência da entidade “A”.

Cardinalidade muitos-para-muitos,  há essa cardinalidade quando realizamos a leitura nos dois sentidos e encontramos a cardinalidade um-para-muitos.

Até o momento, vimos relacionamentos binários, ou seja, apenas a associação entre duas entidades. No entanto, a abordagem ER permite que sejam definidos relacionamentos de grau maior do que dois (relacionamentos n-ários).

Em um relacionamento “R” entre duas entidades, “A” e “B”, a cardinalidade de “A” em “R” indica quantas ocorrências de “B” podem estar associadas a cada ocorrência de “A”.  no caso de um relacionamento ternário, a cardinalidade refere-se a pares de entidades. observemos a figura abaixo.

O 1 na linha que liga o retângulo representativo da entidade DISTRIBUIDOR ao losango representativo do relacionamento expressa que cada par de ocorrências (nesse exemplo, cada par de ocorrências significa que cada ocorrência da entidade “CIDADE” e cada ocorrência de “PRODUTO”) está associado a no máximo um distribuidor. Significa que é concedida exclusividade de distribuição de um produto para um distribuidor em uma cidade.

Na imagem acima os dois “n” expressam que:

A um par (cidade, distribuidor) pode estar associado a muitos produtos ou, em outros termos, um distribuidor pode distribuir em uma cidade muitos produtos.

A um par (produto, distribuidor) pode estar associado a muitas cidades ou, em outros termos, um distribuidor pode distribuir um produto em muitas cidades.

Atributo

O conceito de atributo serve para associar informações a ocorrências de entidades ou de relacionamentos, ou seja, o atributo são características de cada ocorrência ou relacionamento que deseja-se guardar no banco de dados. Por exemplo, a entidade PESSOA pode ter vários atributos, como: nome, altura, peso, sexo, escolaridade. Essas são características semelhantes entre ocorrências, porém com valores diferentes. 

Existem dois tipos de atributos: identificadores e descritores. Um identificador (chave) é usado unicamente para determinar a identificação de uma ocorrência de uma entidade. Esse identificador é conhecido como chave primária. Os atributos descritores (não chaves) são utilizados para descrever características não únicas de uma ocorrência particular da entidade. 

Graficamente os atributos são representados conforme mostra a figura abaixo.

Generalização/especialização

A generalização/especialização consiste em uma entidade genérica e subconjuntos mais específicos, lembrando que a ocorrência da entidade genérica possui além de seus atributos os atributos da especialização. No DER a especialização é representada por um triângulo isósceles conectado às entidades especializadas e a genérica, como na figura abaixo.

A generalização/especialização pode ser classificada em dois tipos, total ou parcial, de acordo com a obrigatoriedade ou não de cada ocorrência da entidade especializada. 

Em uma generalização/especialização total significa que obrigatoriamente uma ocorrência da entidade genérica existe sempre uma ocorrência na entidade especializada, esse tipo de generalização/especificação é simbolizado por um “t”.

Em uma generalização/especialização parcial, nem toda ocorrência da entidade genérica possui ocorrência em uma entidade especializada, esse tipo de generalização/especificação é simbolizado por um “p”.

Além da classificação total ou parcial, uma generalização/especialização pode ser classificada como compartilhada e exclusiva.

Generalização/especialização exclusiva significa que uma ocorrência da entidade genérica está exclusivamente em um subconjunto, no DER, a generalização/especialização exclusiva é simbolizado pela letra “x”.

Generalização/especialização compartilhada significa que uma ocorrência da entidade genérica pode estar associada a mais de uma entidade especializada, no DER, a generalização/especialização compartilhada é simbolizado pela letra “c”.

Entidade-associativa

Um relacionamento é uma associação entre duas entidades. Na modelagem ER não é permitido associar entidade com relacionamento ou ligar dois relacionamentos.

Para exemplificar, vamos considerar a imagem abaixo. Há a necessidade de modificar esse modelo da seguinte forma. É necessário saber que medicamentos existem e que medicamentos foram prescritos em cada consulta. Para saber que medicamentos existem, cria-se uma nova entidade, MEDICAMENTO. A questão agora é: com que entidade existente deve estar relacionada a nova entidade? se Medicamento fosse relacionado a Médico, ter-se-ia apenas a informação de que médico prescreveu que medicamentos, faltando a informação do paciente que os teve prescritos. Por outro lado, se MEDICAMENTO fosse relacionado à PACIENTE, faltaria a informação do médico que prescreveu o medicamento. Assim, deseja-se relacionar o medicamento à consulta, ou seja, eseja-se relacionar uma entidade (MEDICAMENTO) a um relacionamento (CONSULTA), o que não está prevista na abordagem ER. Para tal, foi criado um conceito especial, o de entidade associativa. Uma entidade associativa nada mais é que a redefinição de um relacionamento, que passa a ser tratado como se fosse uma entidade. Graficamente, isso é feito com um retângulo desenhado ao redor do relacionamento. A consulta indica que este relacionamento passa a ser visto como uma entidade (associativa, já que é baseado em um relacionamento).  Sendo CONSULTA também uma entidade, é possível associá-la através de relacionamentos a outras entidades.

Agregação: Uma agregação é utilizada quando é necessário realizar associação de elementos de um relacionamento com elementos de outro relacionamento. Um exemplo é um relacionamento “Compra” que associa as entidades “Cliente” e “Produto”. Outra entidade “Prestação” é utilizada na aplicação, porém esta entidade não possui relação a um cliente ou a um produto, e sim a quando existe uma compra. Neste caso o relacionamento “Compra” é um exemplo de agregação.

REFERÊNCIAS
HEUSER, Carlos Alberto. Projeto de Banco de Dados. 6. Porto Alegre Bookman, 2011. 
MACHADO, Felipe Nery Rodrigues. Banco de dados: projeto e implementação / Felipe Nery Rodrigues Machado. – 4. ed. – São Paulo: Érica, 2020.<
Projeto Lógico de Banco de Dados NoSQL de Grafos a partir de um modelo conceitual baseado no modelo Entidade-Relacionamento, 2018. Disponível em <http://www.cc.faccamp.br/Dissertacoes/VictorMartinsSousa.pdf> Acessado em: 25 de fevereiro de 2021.
Extensão de uma álgebra ER para execução de consultas em bancos de dados NoSQL orientados a documentos, 2018. Disponível em <https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/9716/NOGUERA_Viviana_2018.pdf?sequence=4&isAllowed=y> Acessado em: 25 de fevereiro de 2021

Alun@ Destaque: Milena Matos Azevedo

Na nossa 10ª edição, trazemos a Milena como nossa aluna destaque. Discente do 6º semestre Curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura da UNIPAMPA, campus Itaqui, ela iniciou sua trajetória na universidade em 2018.

Pesquisando sobre a desigualdade de gênero e ciência, em 2019 ela fez parte do grupo HeforShe Itaqui – Momento dElas e do Meninas nas Ciências; grupo este que integra atualmente e pelo qual publicou seu primeiro trabalho no Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, o 11º SIEPE, que aconteceu em Santana do Livramento/RS, em outubro de 2019. O trabalho chama-se “O Sinergismo entre Teoria e Prática em Ação da Inclusão de Meninas nas Ciências”.

No ano de 2020, foi premiada no 12º SIEPE, na categoria Extensão, pelo trabalho “Atividades Efetuadas em Tempos de Pandemia pelo projeto de extensão Meninas nas Ciências da UNIPAMPA Campus Itaqui”. Devido à pandemia, o evento aconteceu online e as apresentações foram em formato de vídeo. Como prêmio, ela ganhou uma bolsa de 12 meses na categoria Extensão, cujas atividades serão desenvolvidas junto com o grupo Meninas nas Ciências

Ao falar sobre a experiência proporcionada em fazer parte do Projeto de Extensão Meninas nas Ciências, Milena diz que: 

Participar de um projeto como esse, empodera bastante nós mulheres a termos iniciativa de correr atrás e incentivar outras meninas a entrar na ciência, a buscar ter conhecimento.” 

A trajetória da Milena recém teve seu começo e ela pretende, através da ciência, seguir fazendo o máximo para ajudar e, também, para espalhar conhecimentos que irá adquirir para as pessoas a seu redor.

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Revisão e edição de Walker Douglas Pincerati.

Como o descaso com o Meio ambiente contribui para o surgimento de pandemias

por Larissa Bruchard e Sara Feitosa 

 

Surtos de doenças infecciosas com origem em outros animais transmitidas para humanos, as chamadas zoonoses, cristalizam algo que ambientalistas e cientistas têm apontado já há algum tempo: que o desequilíbrio do ecossistema afeta a vida no planeta.

Para ficar só no âmbito das epidemias e pandemias, podemos mencionar, num período bem recente, os surtos de Ebola, de gripe aviária, de gripe suína (H1N1), de Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), de Síndrome Respiratória Aguda Súbita (SARS), de vírus do Nilo Ocidental, de Zikavírus, dentre outros. Contudo, nenhum desses surtos de doenças infecciosas alcançou a magnitude dos impactos sociais e econômicos gerados pela pandemia do novo coronavírus, o Sars-CoV-2, que provoca a  COVID-19. Talvez os surtos infecciosos anteriores tenham sido apenas um ensaio para o que estava por vir… Mas parece que a sociedade não aprendeu muita coisa com eles, porque até o momento a pandemia de COVID-19 tem revelado que a sociedade e o sistema econômico não estão preparados para enfrentar um evento complexo de grande magnitude.

Enquanto escrevemos este texto, o mundo registra mais de 2,5 milhões de óbitos. O Brasil ultrapassou a triste marca de 250 mil vítimas fatais passado um ano do registro do primeiro caso de COVID19 no país. O sistema de saúde, na maioria dos estados, sinaliza um colapso próximo e a imunização da população avança a passos lentos. Somos o terceiro país em número de casos e o segundo em número de mortes no mundo. O quadro inclui ainda um cenário de crise econômica jamais vista na história da humanidade. Neste momento, toda a atenção está centrada no enfrentamento da COVID-19 e na aceleração do processo de vacinação da população global. Por outro lado, tem a atenção para medidas que buscam reduzir as perdas econômicas e garantir o emprego e a renda de populações mais vulneráveis agora e no pós-pandemia. O que ainda não tem merecido a devida importância neste debate são as mudanças sociais e econômicas necessárias para recuperar e proteger os ecossistemas. Parece óbvio que dependamos do meio ambiente, e não o contrário, e que crises recentes enfrentadas pela sociedade têm uma importante relação com a ecologia, com os ecossistemas. Mesmo assim, minimizamos a necessidade de aceitar que não temos um plano “B” no que diz respeito ao planeta. 

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Stanford (EUA) revelou que a perda da cobertura vegetal, ou seja, o desmatamento pode contribuir para a disseminação de doenças contagiosas para humanos, o chamado “spillover”. Isso porque o desmatamento abre a possibilidade do contato dos humanos com vírus antes restritos a habitats ou animais com os quais não tínhamos tantos contatos. O exemplo mais famoso, até o surgimento do Sars-CoV-2, é o vírus HIV que provoca a AIDS. Ele foi transmitido aos humanos pelo chimpanzé. Estudo do PNUMA de 2016 já mostrava que “60% de todas as doenças infecciosas emergentes nos seres humanos são zoonóticas e estão intimamente ligadas à saúde dos ecossistemas”.

Nos primeiros meses da pandemia, o impacto do confinamento provocado pela pandemia gerou uma percepção de melhoria mesmo que temporária das condições ambientais nos centros urbanos. Um estudo publicado em maio de 2020 na revista Nature Climate Change identificou uma redução média de 17% nas emissões diárias globais de gás carbônico (CO2) no início de abril de 2020, em comparação com a média do mesmo período de 2019. O estudo considerou seis setores econômicos: energia, indústria, transporte de superfície, aviação, edifícios públicos e comércio e o setor residencial. Porém, enquanto atividades classificadas como não essenciais foram totais ou parcialmente paralisadas em áreas urbanas, o desmatamento de florestas tropicais seguiu acelerado. E não foi apenas a Amazônia que sofreu um ataque severo durante a pandemia, outras regiões do mundo, como Nova Gales do Sul (Austrália), o Ártico Siberiano e a costa oeste dos Estados Unidos sofreram com grandes incêndios que devastaram grandes áreas florestais. É possível que as emissões provocadas pela perda florestal tenham contrabalanceando ao menos parte das emissões reduzidas por outros setores. Pois as florestas estocam grande quantidade de carbono, e com o desmatamento ocorre a liberação desse carbono para a atmosfera sob forma de CO2, o gás dióxido de carbono. Dados mostram que o desmatamento contribui com cerca de 10% das emissões globais anuais desse gás. No Brasil, as mudanças do uso da terra representam 44% do total das emissões de CO2.

E o bioma Pampa fica como nisso?

Nos gráficos abaixo, você̂ vê̂ a análise que fizemos a partir dos dados disponíveis do projeto MapBiomas, que mapeia o uso do solo no Brasil. Nas dez cidades onde a UNIPAMPA atua, os gráficos mostram a taxa de crescimento de hectares de 2009 até́ 2019, separando a quantidade de terras para uso da agricultura e a terra com florestas nativas nos municípios. Bagé́, Caçapava do Sul, Santana do Livramento e São Borja apresentaram um aumento de mais de 60% do uso das terras para agricultura, enquanto as florestas nativas não passaram de 15%. Outros municípios, como Jaguarão e São Gabriel, que já tinham uma quantidade grande de terra para a agricultura, aumentaram em dez anos o uso da terra em mais 20 mil hectares.

Os dados são um caminho para observarmos melhor o uso dos solos no bioma pampa. Porém, de acordo com Daniel Hanke, professor da UNIPAMPA, por ocupar um espaço pequeno do país, apenas recentemente pesquisas se voltam para o Pampa. O desconhecimento faz com que a agricultura não tenha subsídios específicos para o tipo de solo em cada região. O Pampa possui um solo sensível e a plantação de monoculturas, como a soja, provoca a erosão da terra, que pode demorar anos para se recuperar. Além disso, os campos sulinos formam um conjunto de ecossistemas que se comportam de maneira diferente nas regiões, esclarece Hanke.

Para saber mais, acesse o primeiro vídeo da série E quando a pandemia acabar?, clicando aqui

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Revisão e edição de Walker Douglas Pincerati.