Arquivo da categoria: v. 1 n. 2 (2020)

Programa de Formação Interdisciplinar

Caroline Jaskulski RUPP; Paulo Roberto Cardoso da SILVEIRA; Alison Fernando Jerônymo EDUARDO, Carla Lisiane Ibaldi CARABAJAL, Ederson da Silva MESSA, Gabriel Vicente de OLIVEIRA, Maria Fernanda Cardoso GOMES, Nathálie Debus BORGES, Paulo Fernando Alves MAURER, Thais dos SANTOS, Victoria DORNELLES.

O “Programa de Formação Interdisciplinar” é um programa de extensão vinculado ao curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (BIC&T) da Universidade Federal do Pampa/UNIPAMPA – campus Itaqui. O objetivo do Programa é discutir, mediante a realização de seminário, temas que sejam relevantes para a sociedade, criando um espaço de aprendizagem e aproximando as pessoas nesses tempos de distanciamento social. Os seminários ocorrem via plataformas digitais de videoconferência – por isso, são chamados de webinários – em todas as quintas-feiras; e, também, em algumas terças-feiras: na segunda e na quarta semana do mês. Os palestrantes e os participantes (ouvintes) recebem certificados de carga horária de duas horas através da chamada on-line que é realizada ao final do webinário. Todxs estão convidados a participar!

Membros do Projeto: Caroline Jaskulski Rupp (Coordenadora), Paulo Roberto Cardoso da Silveira (Co-coordenador). Docentes participantes: Caroline Raquel Bender, Cristina dos Santos Lovato, Eloir Missio, Fabiane Flores Penteado Galafassi, Sandra Regina Coracini, Tiago Antonio Del Valle e Vinícius Piccin Dalbianco. Técnicos Administrativos em Educação participantes: Felipe Batista Ethur, Luciano Antonelli Becker. Discentes participantes: Alison Fernando Jerônymo Eduardo, Carla Lisiane Ibaldi Carabajal, Ederson da Silva Messa, Gabriel Vicente de Oliveira, Maria Fernanda Cardoso Gomes, Nathálie Debus Borges, Paulo Fernando Alves Maurer, Thais dos Santos e Victoria Dornelles.

Revisão de Walker Douglas Pincerati.

Corporeidade e erotização da mulher Negra nos espaços sociais: o caso da universidade

Por Nitielle Floriano Dias.

Meu nome é Nitielle Floriano Dias, sou Itaquiense, discente da Universidade Federal do Pampa campus Itaqui e provável formanda do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia; desde o terceiro semestre da minha graduação sou integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) e, recentemente, faço parte do Grupo de Estudos HeForShe. Porém, antes mesmo de adentrar no espaço universitário, já me reconhecia como feminista e militante da luta antirracista e, esses dois fatos, tornaram-se minha linha de pesquisa no decorrer da minha graduação, resultando em duas recentes produções acadêmicas, as quais me proporcionaram participar de alguns eventos, dentro e fora do espaço universitário, de modo a contribuir com meu conhecimento (ainda em construção) sobre essas temáticas.

Em outubro de 2019, o resumo do meu trabalho intitulado A Dominação e a Erotização do Corpo da Mulher Negra: a luta contra a discriminação no espaço universitário, foi aprovado para apresentação no II Congresso Internacional Humanidades nas Fronteiras: controvérsias contemporâneas realizado nos dias 09, 10 e 11 de outubro de 2019, em Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil. Esse trabalho é um recorte de uma pesquisa maior, o meu trabalho de conclusão de curso (TCC). Para a construção desse trabalho, em um primeiro momento, busquei por meio de uma densa pesquisa bibliográfica problematizar a inserção da mulher negra no espaço acadêmico, a qual acontece com mais vigor e função da adoção das ações afirmativas nas Universidades públicas. Objetivou-se resgatar o processo histórico de dupla discriminação racial e de gênero, enfatizando a erotização do corpo da mulher negra e sua imagem como “objeto” desejável. Esta apresentação ocorreu no SIMPÓSIO 14 sobre o tema: Mulheres, femininos e vivências. É válido destacar que havia apenas a minha colega de curso, Graciéle Souza, que também participou do congresso, e eu Nitielle Dias, discentes de um curso interdisciplinar, o que fez despertar a atenção dos avaliadores e dos demais presentes na sala, pois o congresso estava sendo realizado por um programa de Pós-Graduação interdisciplinar.

Uma outra participação importante na minha trajetória acadêmica aconteceu em 20 de novembro de 2019, dia Nacional da Consciência Negra. Participei de um evento coordenado pela professora Rosane Queiroz, realizado no Colégio Estadual São Patrício da qual sou ex-aluna e onde sempre participei da caminhada do dia 20 de novembro,  coordenada pela professora Rosane; e ter voltado lá em novembro de 2019, não mais como aluna, mas sim de modo a contribuir com o meu conhecimento, através de uma sucinta apresentação da minha pesquisa, foi algo enriquecedor para a minha formação acadêmica e, principalmente, para a minha construção pessoal.

No dia 25 de novembro de 2019, realizei a defesa do meu Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado “Corporeidade e Erotização da mulher Negra nos Espaços Sociais: o caso da universidade”, o qual foi orientado pelo Prof. Dr. Paulo Silveira, também coordenador do Núcleo de Estudos Afro- Brasileiros e Indígenas do campus Itaqui. O percurso de minha pesquisa compreendeu um resgate histórico da era colonial no Brasil, quando a população negra foi submetida aos horrores da escravidão e, como consequência disso, o preconceito racial e a imagem de inferioridade do negro continuam presentes na nossa atualidade; com a implantação das ações afirmativas aumenta a presença das mulheres negras na Universidade, o que nos levou a problematizar a inserção da mulher negra no espaço acadêmico, partindo de suas percepções e vivências. Através de entrevistas por meio eletrônico com as estudantes Universitárias negras foi possível compreender como elas, em um ambiente sociocultural (a fronteira oeste gaúcha), marcado pelo machismo e preconceito racial, percebem a opressão contida na dualidade entre o corpo como elemento constitutivo da identidade do ser mulher e o corpo como instrumento de prazer. Destaco que, em um primeiro momento, tentei realizar a entrevista de forma presencial, porém não tive sucesso, podendo-se observar a dificuldade que se encontra no campus de Itaqui em realizar pesquisas e até mesmo de realizar uma roda de conversa envolvendo iniciativas de

desconstrução de preconceitos e discriminações; destaca-se tratar de um espaço onde a ênfase está nas ciências agrárias, resultando em uma parcela significativa grande de público masculino. Considerando a análise do discurso das mulheres negras, percebeu-se uma consciência da presença da erotização nas relações de sociabilidade estabelecidas e revela-se a necessidade de constituir instrumentos por elas adotados para enfrentar a violência simbólica e desconstruir as relações de dominação.

Quer saber mais: acesse o artigo enviado ao II Congresso Internacional Humanidades nas Fronteiras: controvérsias contemporâneas no link http://eventosunioeste.unioeste.br/ndex.php/cihfcc-2019/cihfcc

ARQUIVO I e II: PARTICIPAÇÃO DO II CONGRESSO INTERNACIONAL HUMANIDADES NAS FRONTEIRAS: CONTROVÉRSIAS CONTEMPORÂNEAS

Arquivo I
Arquivo II
Arquivo II

ARQUIVO III e IV: APRESENTAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Arquivo III
Arquivo III
Arquivo IV
Arquivo IV

ARQUIVO V e VI: PARTICIPAÇÃO DO EVENTO REALIZADO NO COLÉGIO ESTADUAL SÃO PATRÍCIO NO DIA 20 DE NOVEMBRO- DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Arquivo V
Arquivo V
Arquivo VI
Arquivo VI

As mulheres são as mais atingidas pela situação de isolamento social

O coronavírus chegou de repente fazendo com que a vida dos brasileiros mudasse da água para o vinho do dia para a noite. Num estalar de dedos um povo conhecido por ser afetuoso, de gostar de confraternizar, estar junto, beijar e abraçar quem ama se viu obrigado a se distanciar e viver num espaço desconhecido, chamado de isolamento social.

Todo o mundo, inclusive os brasileiros, teve a vida virada de ponta cabeça. A rotina foi desorganizada, as pessoas estão angustiadas, nervosas, ansiosas em razão reclusão imposta afinal, para prevenir à disseminação da COVID-19 devemos ficar em casa, lugar em que estamos seguros, protegidos.

As mulheres são as que mais estão sofrendo as consequências da nova vida. Afinal, sempre é delas a obrigação de manter o bom funcionamento da casa e dos filhos. Elas têm que dar um jeito para que tudo transcorra bem. Mas, esse é “apenas” um dos problemas enfrentado durante a quarentena pelas mulheres. Para muitas, o fardo da rotina doméstica sobrecarregada e os temores causados pelo vírus desconhecido não são o único problema a ser enfrentado dentro de suas casas.

O lar não é o ambiente seguro para todas, especialmente para quem sofre de violência doméstica. Nem todas as casas são lares. Nem todas as casas são o lugar que oferece segurança e tranquilidade. Nem todas as casas são recheadas de amor, acolhimento, risos.

A violência contra a mulher ocorre dentro desse espaço que deveria ser de proteção, mas que, nessas situações é lugar de medo, angústia e sofrimento.

A mídia vem divulgando dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da ONU Mulheres. Os números de casos de violência e de feminicídio não param de crescer, em todo o mundo, após o início do isolamento social. Se os números oficiais mostram um aumento temos que ficar ainda mais alertas já que outros tantos casos sequer chegam à delegacia. Ou seja, temos mais vítimas do que as apontadas nas estatísticas.

O fenômeno é grave e a tendência é que se a sociedade se mantiver inerte o contexto se torne ainda mais intenso. Durante a quarentena as mulheres que vivem em situação de violência se tornam ainda mais vulneráveis.

Podemos identificar alguns motivos para crescimento dos números durante a quarentena, dentre os quais destaco a convivência ampliada entre vítima e agressor, já que ambos receberam a orientação de ficar em casa “na proteção de suas residências”.

A segunda causa de aumento da violência é a dificuldade de pedir ajuda. Durante a quarentena essa dificuldade, que já existe em períodos de normalidade, é agravada. A mulher está trancada em casa, literalmente dormindo com o inimigo, sem receber visitas, sem conviver com os vizinhos, sem poder dizer que vai ao mercado da esquina e ir buscar ajuda na delegacia, no Judiciário ou em qualquer lugar. Ela não pode sair! Ela está presa! Presa com seu algoz!

Um terceiro motivo, para o aumento das estatísticas, que reitero, não ilustra o verdadeiro número de vítimas já que temos muitos casos que não são registrados, surge da ampliação do sentimento de poder do agressor, ampliado em decorrência do isolamento da mulher. Ele não precisa mais cuidar para bater onde a roupa esconde ou na altura do corpo que alcança a quina de uma mesa ou armário. Ele se sente impune, inalcançável, tem a certeza que ninguém ficará sabendo o que acontece dentro da sua casa.

Sobre o coronavírus temos poucas certezas. A primeira é que o vírus já demonstrou sua capacidade danosa à saúde e à vida. A segunda é que ninguém sabe quando a vida voltará ao normal, quando poderemos voltar a exercer nosso direito de ir e vir de forma segura, sem causar risco à integridade física de ninguém.

Mas, se formos esperar a retomada da “vida normal” a violência doméstica continuará fazendo mais vítimas que o novo vírus. E, temos na nossa mão a possibilidade de reduzir o número de vítimas sendo a voz dessas mulheres. Já passou da hora de todos, homens e mulheres, meter a colher em briga de marido e mulher. Apenas no momento em que a sociedade comprar, como sua, a luta contra a violência doméstica começaremos a ver os números reduzirem.

Então, vamos manter nossos olhos e ouvidos em alerta. Se ouvirmos barulho suspeito na casa ao lado denuncie, ligue para o 180, não vamos deixar que mais vidas sejam levadas por uma violência que, ao contrário do coronavírus, não é nova, nem desconhecida. Essas mortes nós podemos evitar!

Projeto de pesquisa estuda a representação de mulheres em propagandas de cerveja

O projeto de pesquisa Construção e (re)construção da imagem da mulher em propagandas de cerveja (Ensino e Extensão da UNIPAMPA 20200309223641) estuda o sexismo na publicidade por meio da análise de antigas e novas representações do sexo feminino nas campanhas publicitárias de cerveja.

Na última década, os anúncios publicitários de cervejas brasileiras têm passado por uma tentativa de transformação dos elementos que o compõem (as imagens visuais e os textos). Afastando-se de jargões com slogans cheios de trocadilhos contendo conotação sexual e a associação entre mulheres consideradas “símbolos sexuais” pela mídia.

Até por volta de 2015, havia conteúdos que poderiam ser considerados impróprios nas campanhas publicitárias, e muitas delas foram barradas pelo Conselho Nacional de Autorregulação publicitária (CONAR) e retiradas de circulação. Independente da marca quase sempre seguia-se um mesmo padrão: uma mulher considerada atraente quer serve cerveja a homens.

Após o engajamento nas redes sociais e críticas vindas principalmente de vertentes do movimento feminista e algumas de políticas públicas; foram adotadas leis proibindo a hipersexualização de mulheres nas propagandas. Algumas marcas bem conhecidas começaram a rever seus discursos, e algumas ações foram tomadas, como a marca com o slogan “desce redondo” que causou polêmica e foi acusada de apologia ao estupro após usar o slogan “deixei o não em casa”. No ano seguinte, mudou sua frase de campanha para “redondo é sair do seu quadrado”, remetendo a uma reflexão sobre comportamentos considerados “quadrados” e preconceituosos, lançou também uma campanha em que ilustradoras mulheres foram convidadas para refazer antigos cartazes de caráter sexista da marca, dessa maneira, mantendo a identidade do slogan que consagrou a marca, mas remodelando o discurso e abrangendo um público-alvo mais amplo, em que as mulheres são consideradas também consumidoras, em potencial, do produto.

Atualmente, ainda há presença de sexismo nas campanhas publicitárias de cerveja, entretanto, em menor número devido a um engajamento muito maior dos órgão de controle.

Leia mais em: 

A imagem da mulher na publicidade da cerveja Skol (Link: https://www.faac.unesp.br/Home/Departamentos/ComunicacaoSocial/midiacidada/p1-3.pdf)

OPÇÃO DE MÍDIA DA POPULAÇÃO DE ITAQUI PARA INFORMAÇÕES SOBRE A COVID-19

GPISC
(Felipe B. Ethur, Bruna Z. dos Santos, Dieison M. da Silva, Kalita M. L. Fresingheli, Kellen da R. Carlosso, Letícia da R. Nunes, Taináh Espinosa, Thalles F. de Fagundes, Luciana Z. Ethur).

O grupo de pesquisa sobre impacto social do coronavírus – Covid-19 (GPISC), do Campus Itaqui da UNIPAMPA, apresenta informações e análises iniciais sobre parte da pesquisa realizada por meio das redes sociais.

Pesquisa nacional realizada pelo Instituto Datafolha (MARQUES, 2020) apontou que emissoras de televisão e jornais lideravam índice de confiança em informações sobre coronavírus. Motivado em saber se essa informação era condizente com a realidade da população de Itaqui – RS, o GPISC, do Campus Itaqui da UNIPAMPA, incluiu em seu questionário, aplicado por meio de redes sociais, duas perguntas relacionadas: “A respeito do coronavírus (Covid-19), você costuma se informar principalmente através de … (opções)?” e “Você pensa que as notícias sobre o coronavírus (Covid-19) são … (opções)?”.

O total obtido de respostas procedentes de residentes em Itaqui foi de 365. Para a primeira pergunta, obtiveram-se as respostas da Tabela 1.

Tabela 1- “A respeito do coronavírus (Covid-19), você costuma se informar principalmente através de …”

Fonte Número Percentual
Canais de Televisão 181 49,59%
Sites da  Internet 116 31,78%
Redes Sociais 53 14,52%
Emissora de Rádio 13 3,56%
Jornais e Revistas impressos 2 0,55%
Total 356 100%

 

A preponderância da televisão foi notável, por atingir praticamente metade da amostra de Itaqui, fato condizente com a pesquisa nacional. Sobre esse assunto, a matéria “Professores analisam pesquisa Datafolha sobre confiança na imprensa convencional” (UFJF NOTÍCIAS, 2020) relata: “segundo uma das opiniões, essa confiança se mostra mais abrangente porque foi tecida ao longo dos últimos 70 anos; é um pacto de confiança que tem sido fortalecido…; não é só falar, é falar e escutar as pessoas; a pandemia mostra o jornalismo como lugar de referência; a especialidade do jornalismo é saber identificar onde está a melhor informação, mais precisa e correta, e trabalhá-la de modo a torná-la mais acessível para um grande número de pessoas”. Ainda segundo a matéria, em outra avaliação: “no caso da TV há uma variável interveniente que é a sua quase universalização no Brasil; não há nenhum outro meio de comunicação com o nível de alcance em quase totalidade dos lares brasileiros”. Na mesma perspectiva, Salgueiro (2020) relata que: “Theodor Adorno (filósofo e sociólogo alemão), nos anos 1960, no artigo ‘Televisão e formação’, sinalizava: ‘existe uma espécie de função formativa ou deformativa operada pela televisão como tal em relação à consciência das pessoas, conforme somos levados a supor a partir da enorme quantidade de espectadores e da enorme quantidade de tempo gasto vendo e ouvindo televisão’ “. Tais citações confirmam a enorme influência da televisão e seu papel sobre a consciência dos cidadãos através do tempo.

Com relação aos jornais, estão diluídos em duas opções: a impressa, que apresentou mínima popularidade; e a diluída em sites. Os sites, que abrangem jornais, portais, blogs, universidades, instituições variadas, institutos e outros, constituíram o segundo maior grau de referência para a população itaquiense.

Chama a atenção que os respondentes, mesmo sendo usuários de redes sociais, não apontaram como fonte principal de informações essas redes. Somente 14,52% afirmou se referenciar nelas. Isso é coerente com o resultado da pesquisa nacional do Instituto Datafolha (MARQUES, 2020), na qual consta que: “Em posição oposta à imprensa profissional estão os conteúdos que vêm de WhatsApp e Facebook. Nas duas plataformas, apenas 12% dizem confiar em informações sobre o coronavírus”.

Sabe-se que em Itaqui, cidade de 38.000 habitantes, grande parte da população tem por hábito ouvir emissoras locais de rádio. No entanto, possivelmente por tratar-se aqui de um tema de relevância mundial, com cenários de situações em diferentes países, a televisão tenha adquirido seu maior status, seguida de sites da internet.

 Com relação à segunda pergunta (sobre fidedignidade das informações), os residentes em Itaqui manifestaram-se da seguinte forma.

Tabela 2- “Você pensa que as notícias sobre o coronavírus (Covid-19) são…”

Natureza das notícias Número Percentual
Reais, verdade 287 78,63%
Alarmistas, exageradas 60 16,44%
Mal-intencionadas 18 4,93%
Falsas 0 0
Total 365 100%

 

A população itaquiense demonstrou forte confiança na veracidade das notícias e informações que recebe sobre coronavírus dos meios de comunicação, na medida em que somente 21,37% considerou tais notícias alarmistas, exageradas ou mesmo mal-intencionadas. Embora com esse percentual crítico ao “teor” das informações, ninguém, entretanto, apontou-as como falsas.

Esses são resultados e análises iniciais de parte da pesquisa que teve por metodologia a aplicação de um questionário por meio de redes sociais. O conjunto de dados visa realizar um diagnóstico da percepção social da população itaquiense sobre o coronavírus, bem como da sua realidade e condições de vida nesta época crítica da pandemia em nível mundial.

Referências:

MARQUES, J. TVs e jornais lideram índice de confiança em informações sobre coronavírus, diz Datafolha. Jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 23 de mar. 2020. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/tvs-e-jornais-lideram-indice-de-confianca-em-informacoes-sobre-coronavirus-diz-datafolha.shtml>. Acesso em: 15 abr. 2020.
SALGUEIRO, W. Nova canção do exílio, de Luis Fernando Verissimo. Resenha. Revista Rascunho: o jornal de literatura do Brasil, n. 238, p. 18, fev. 2020.
UFJF NOTÍCIAS. Professores analisam pesquisa Datafolha sobre confiança na imprensa convencional. Juiz de Fora – MG, 24 mar. 2020. Disponível em: <https://www2.ufjf.br/noticias/2020/03/24/professores-analisam-pesquisa-datafolha-
sobre-confianca-na-imprensa-convencional>. Acesso em: 15 abr. 2020.

Um Olhar sobre a Saúde Mental em Tempos de Pandemia Sérgio Arthur de Castro Junior

Enfermeiro da Rede Municipal de Saúde de Uruguaiana, Integrante do Programa de Saúde Mental, Especialista em Saúde Coletiva pela UNIPAMPA.

O ano de 2020 nos apresenta um desafio enquanto sociedade, o qual dificilmente seria imaginado fora de filmes, séries ficcionais ou documentários históricos: uma pandemia.

A pandemia de COVID-19 sem sombra de dúvidas será um paradigma de nossa geração sob os mais diversos aspectos sanitários, sociais, culturais, nossa relação com nós mesmos e com o próximo; após este momento histórico mudanças significativas devem ocorrer.

O isolamento social que nos é imposto como medida mais eficiente e com mais respaldo acadêmico até o momento no enfrentamento do COVID-19, pode tanto ser um período de redescobertas e ressignificados nas relações sociais, como um período de angústias e ansiedade acentuados.

Não é difícil em nossos dias o acesso em tempo integral à notícias do mundo todo, trazendo dados catastróficos relacionadas à infestação do Coronavírus pelo mundo. Países como Itália, Espanha, EUA e, mais próximo de nós, o Equador, nos mostram quadros desoladores do quão a pandemia pode ser implacável e, isso naturalmente gera medos, receios, angústias e ansiedades diante disso.

A velocidade com a qual a pandemia progride e assume protagonismo nos noticiários e em nosso cotidiano nos fazem sentir como uma das pinturas de O Grito de Edvard Munch 1 , ainda mais tendo de tomar medidas tão restritivas para nos proteger, medidas às quais não estamos acostumados. E este contexto pode ter consequências na saúde mental.

A ansiedade passa a ser a maior preocupação de saúde mental diante do isolamento social. As restrições de atividades antes corriqueiras como atividades laborais, práticas de atividades físicas e convívios em espaços públicos agora restringidos, as atividades de home office, individualmente ou em conjunto podem ser gatilhos para ansiedade. As inseguranças econômicas, afetando diretamente na manutenção de emprego e renda dos brasileiros da mesma forma, sendo de suma importância estarmos atentos à isso. As demandas aos serviços de saúde com quadros de sofrimento psíquico podem agravar. Portanto, é importante estar atento à isto.

Reconhecer os sintomas como irritabilidade, sensação de angústia ou tensão constantes, sentir seu coração acelerado e uma sensação de perda de controle à ponto de atrapalhar suas atividades rotineiras, distinguirão uma ansiedade natural do ser humano e inevitável em tempos tão inóspitos, de um quadro de ansiedade migrando para a psicopatologia.

É importante nesses casos exacerbados procurar o serviço de saúde para acolhimento e diagnóstico dos profissionais, permitindo os encaminhamentos cabíveis a cada situação; existem serviços na atenção básica e especializados em saúde mental para dar conta destes quadros, sendo muito importante que os mesmos não sejam subestimados em sua importância, pois não recorrer a profissionais habilitados pode levar ao agravamento destas situações de ansiedade; é comum incorrer em quadros de pânico ou quadros depressivos mais graves.

E, o mais importante: além de todos os cuidados que a pandemia nos demanda, dar atenção à sua saúde mental, respeitar-se, caso sinta-se bombardeado com notícias sobre covid-19, procurar outras alternativas de distração possíveis para além da televisão e mídias sociais; recomenda-se que não se tenha vergonha de conversar sobre suas ansiedades, medos ou receios em relação ao cenário atual, se auto-preservando e compreendendo que a situação é passageira e que ultrapassaremos a pandemia mais fortes e conscientes do mundo em que vivemos e para onde podemos levar depois disso.