Um Olhar sobre a Saúde Mental em Tempos de Pandemia Sérgio Arthur de Castro Junior

Enfermeiro da Rede Municipal de Saúde de Uruguaiana, Integrante do Programa de Saúde Mental, Especialista em Saúde Coletiva pela UNIPAMPA.

O ano de 2020 nos apresenta um desafio enquanto sociedade, o qual dificilmente seria imaginado fora de filmes, séries ficcionais ou documentários históricos: uma pandemia.

A pandemia de COVID-19 sem sombra de dúvidas será um paradigma de nossa geração sob os mais diversos aspectos sanitários, sociais, culturais, nossa relação com nós mesmos e com o próximo; após este momento histórico mudanças significativas devem ocorrer.

O isolamento social que nos é imposto como medida mais eficiente e com mais respaldo acadêmico até o momento no enfrentamento do COVID-19, pode tanto ser um período de redescobertas e ressignificados nas relações sociais, como um período de angústias e ansiedade acentuados.

Não é difícil em nossos dias o acesso em tempo integral à notícias do mundo todo, trazendo dados catastróficos relacionadas à infestação do Coronavírus pelo mundo. Países como Itália, Espanha, EUA e, mais próximo de nós, o Equador, nos mostram quadros desoladores do quão a pandemia pode ser implacável e, isso naturalmente gera medos, receios, angústias e ansiedades diante disso.

A velocidade com a qual a pandemia progride e assume protagonismo nos noticiários e em nosso cotidiano nos fazem sentir como uma das pinturas de O Grito de Edvard Munch 1 , ainda mais tendo de tomar medidas tão restritivas para nos proteger, medidas às quais não estamos acostumados. E este contexto pode ter consequências na saúde mental.

A ansiedade passa a ser a maior preocupação de saúde mental diante do isolamento social. As restrições de atividades antes corriqueiras como atividades laborais, práticas de atividades físicas e convívios em espaços públicos agora restringidos, as atividades de home office, individualmente ou em conjunto podem ser gatilhos para ansiedade. As inseguranças econômicas, afetando diretamente na manutenção de emprego e renda dos brasileiros da mesma forma, sendo de suma importância estarmos atentos à isso. As demandas aos serviços de saúde com quadros de sofrimento psíquico podem agravar. Portanto, é importante estar atento à isto.

Reconhecer os sintomas como irritabilidade, sensação de angústia ou tensão constantes, sentir seu coração acelerado e uma sensação de perda de controle à ponto de atrapalhar suas atividades rotineiras, distinguirão uma ansiedade natural do ser humano e inevitável em tempos tão inóspitos, de um quadro de ansiedade migrando para a psicopatologia.

É importante nesses casos exacerbados procurar o serviço de saúde para acolhimento e diagnóstico dos profissionais, permitindo os encaminhamentos cabíveis a cada situação; existem serviços na atenção básica e especializados em saúde mental para dar conta destes quadros, sendo muito importante que os mesmos não sejam subestimados em sua importância, pois não recorrer a profissionais habilitados pode levar ao agravamento destas situações de ansiedade; é comum incorrer em quadros de pânico ou quadros depressivos mais graves.

E, o mais importante: além de todos os cuidados que a pandemia nos demanda, dar atenção à sua saúde mental, respeitar-se, caso sinta-se bombardeado com notícias sobre covid-19, procurar outras alternativas de distração possíveis para além da televisão e mídias sociais; recomenda-se que não se tenha vergonha de conversar sobre suas ansiedades, medos ou receios em relação ao cenário atual, se auto-preservando e compreendendo que a situação é passageira e que ultrapassaremos a pandemia mais fortes e conscientes do mundo em que vivemos e para onde podemos levar depois disso.