A mulher de Sanchuri

Sabemos da importância das mulheres para a família, para a sociedade e para o trabalho. Contudo, aqui vimos expressar sobre a realidade das mulheres da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, mais precisamente as mulheres do campo. Aquelas que criam seus filhos em meio às dificuldades, aquelas que moram nos mais longínquos rincões, que acordam cedo sempre até mesmo nos dias de geada fria de inverno, aquelas que na beira do asfalto esperam o ônibus “pinga-pinga” para irem até a cidade fazer compras, aquelas que andam a cavalo, as que carpem e preparam a horta, as que varrem o terreiro com vassoura de guanxuma, as que tiram água do poço, as que pescam na beira do açude, as que colhem macela na sexta-feira santa, as que nas noites de lua temem a “mãe do ouro” (bola de fogo que aparece nos campos segundo as crendices e relatos populares), as que benzem de quebranto, as que cuidam e alimentam os animais, as que comem bergamota no sol, as que, em roda do fogão a lenha, tomam chimarrão para espantar o frio, as que, com os rostos empoeirados nos bretes das lavouras, apreciam a natureza, as que olham as coxilhas e o revoar das perdizes.

Além disso, essas mulheres cuidam dos filhos, da casa e do marido, mesmo eles trabalhando de granja em granja na labuta constante. E ressaltamos aqui que, durante essa pandemia, elas enfrentaram os desafios de reaprender para poder auxiliar os filhos, algumas  buscaram o auxílio emergencial e, ao o receberem, fizeram o milagre da multiplicação, sim! Essas mulheres fazem milagres e se reinventam na cozinha para garantir o almoço de sua família! Elas enfrentam as agruras que a fronteira traz consigo, as características e a distância  própria da região.  O município de Uruguaiana na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul é uma referência dessa fala, na localidade do 5º distrito Barragem Sanchuri, que fica em torno de 40 Km do centro da cidade, há um público atendido pelo Centro de Referência de Assistência Social, um grupo formado na sua maioria por mães que buscam por meio da garantia de direitos o auxílio para essa tarefa de GARANTIR DIGNIDADE A ELAS E AOS FILHOS E AOS OUTROS.

Em meio a isso, direcionamos o olhar para o que podemos fazer mais, e pensamos que primeiramente devemos buscar a aproximação das comunidades rurais e junto a essas mulheres elaborarmos rodas de conversa e grupos de apoio, pois, durante a lida, sempre que se pode fazer um intervalo, deixar um espaço para a fala e abrir um momento para o registro dessa experiência que para outros é tão desconhecida. Ser mulher, isolada pela distância, equilibrar orçamento doméstico, cuidar das tarefas de escola, adquirir renda extra com a venda de produtos da criação e pequena produção de horti, e a confecção de doces da agricultura familiar deve e merece ter o seu reconhecimento. Com certeza, essas mulheres têm muito a nos ensinar, mesmo elas não dispondo de muita instrução e recursos tecnológicos são mulheres valorosas que têm muito a nos dizer com a sabedoria campeira e merecem nosso respeito e admiração.

A poesia abaixo é de uma mulher fronteiriça da cidade de Itaqui, acadêmica do curso de Nutrição, e deixamos como provocação para que busquemos esses talentos também em lugares onde é difícil chegar.

Mulher gaúcha e fronteiriça

Mulher gaúcha que por vezes muitas
seus feitos heroicos nunca foram contados
porque o machismo que impera é muito
e pra mulher tudo é limitado

Mas nos relatos dos historiadores
só a Anita é sempre lembrada
esquecem-se dos tempos passados
em que Manuela era empoderada

Porque na guerra os homens eram os fortes
sua bravura era a força do braço
mas em suas casas suas mulheres eram as valentes
eram seu refúgio em meio ao cansaço


As ideias firmes vinham da cozinha
saíam das mentes que usavam vestidos
que eram repassadas em meio as carícias
que suas esposas davam aos seus maridos
Depois as medalhas e todas as honrarias
eram dadas aos homens sem nem explicar
a batalha vencida por calças e espadas
a mulher que era a sábia esperava no lar
Na fronteira se vê de longe
O olhar corre nos campos
da mulher raíz da terra
com a rudez e o encanto
pele morena do sol
mãos firmes e sorriso franco


São elas mistura feita
brasileira e castelhana
cruzadas também com índios
formaram a raça a pampeana
outras de origem europeia
com os olhos verdes de mar
e as negras sorriso largo
beleza espetacular
todas se arrinconaram
na fronteira acolhedora
pra construir seu lar

Os tempos mudaram somente em palavras
porque as conquistas ainda não são contadas
os homens mais ricos e poderosos da terra
buscaram na mulher pra guiar sua estrada.

Elizandra Guarizi Pereira de Godoy (Acadêmica do 8º semestre de Letras), Maria Isabel Corrêa de Lima (Acadêmica do 4º semestre de Nutrição) e Mariane Larissa Lima Debus (Acadêmica do 8º semestre de Letras).

Versão do texto em .pdf: A Mulher de Sanchuri