Após oito anos de pesquisa, o projeto resultou em um inseticida natural desenvolvido a partir do veneno do sapo Rhinella dorbignyi, uma espécie nativa do Bioma Pampa. Presente no Rio Grande do Sul, na Argentina e no Uruguai, o bioma Pampa se destaca pela riqueza de sua biodiversidade com destaque para o potencial científico e biotecnológico de suas espécies com foco na sustentabilidade . Além disso, o estudo reforça a necessidade urgente de proteção do Pampa, como um ecossistema único e essencial para a região.
O projeto, coordenado pelo professor Cháriston André Dal Belo em parceria com a profa. Lucia Vinadé e o prof. Velci Queiroz de Souza, ambos membros do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas-PPGCB da UNIPAMPA, teve também como demais inventores Ana Paula Kwiatkowski Hamerski Zanatta, Paulo Roberto Dos Santos, Sidnei Moura e Silva, Flavia Luana Goulart, Sara Santos Costa, Yuri Correia Barreto, Chiara Valsecchi, Tiago Gomes Dos Santos e Manuela Merlin Laikowski. Destaca-se também a colaboração entre a Universidade de Caxias do Sul (UCS) e a Universidade Federal do Pampa (Unipampa), para que houvesse êxito na obtenção de dados que permitissem a solicitação do registro o do composto inseticida natural, a partir do veneno do sapo Rhinella dorbignyi Além desse efeito inseticida ainda existe um potencial inexplorado para o composto, incluindo possibilidades de uso medicinal.
O professor Cháriston André Dal Belo, que esteve à frente da pesquisa, explicou que o objetivo principal do projeto foi substituir os modelos tradicionais de pesquisa usando modelos com vertebrados por modelos alternativos, como os insetos, trazendo assim uma pesquisa mais humanizada, visto que, como já comprovado cientificamente, os insetos não sentem dor.
Além disso, embora sejam pequenos, os insetos permitem análises detalhadas semelhantes em muitos aspectos aos humanos, em termos de comportamento, atividade enzimática, locomoção, contrações neuromusculares e outras respostas fisiológicas ligadas aos sistemas nervoso central e periférico. Ao utilizar o veneno do sapo em modelos de insetos, é possível avaliar como essas substâncias poderiam agir em sistemas humanos, uma vez que os neurotransmissores dos insetos são muito semelhantes aos de seres humanos, permitindo uma analogia relevante para o desenvolvimento científico.
Outro grande destaque para esta invenção está relacionado ao fato de ser um produto biodegradável, sendo assim, ele agride menos o meio-ambiente e evita a morte de insetos polinizadores, como por exemplo as abelhas.
Por fim, de acordo com o professor Dal Belo o venenos do sapo Rhinella dorbignyi possui grandes concentrações de compostos esteroidais, que atuam sobre vários sistemas neurofisiológicos dos insetos, diminuindo a chance de se desenvolver resistência, como ocorre com os inseticidas químicos tradicionais.
Confira abaixo o resumo completo e outros dados do “Uso como inseticida natural de meio aquoso salino a partir do veneno do sapo Rhinella dorbignyi”:
“A presente invenção tem como objetivo proteger o uso como inseticida natural do meio aquoso salino a partir do veneno do sapo Rhinella dorbignyi, cuja atividade biológica fora comprovada cientificamente, através da demonstração do efeito entomotóxico da solução supracitada. O ineditismo se traduz pelo uso da substância tóxica proveniente do anuro exclusivo do Bioma Pampa e, consequente, a modulação induzida por esse composto sobre os diferentes sistemas eurobiológicos de insetos, com letalidade. Essas atividades fisiopatológicas envolvem prioritariamente alterações no sistema nervoso central, periférico e circulatório do animal. Em termos práticos, esse efeito caracteriza-se pelo aumento da atividade exploratória dos animais e posterior redução da força neuromuscular e da frequência cardíaca dos insetos, favorecendo o processo de letalidade.”