A ESTIAGEM NO RIO GRANDE DO SUL EM IMAGENS

Sidnei Luís Bohn Gass
Prof. Dr. do Campus Itaqui da UNIPAMPA, coordenador do projeto SIGPampa – sidneigass@unipampa.edu.br

Na primavera-verão 2019-2020, o Rio Grande do Sul tem passado por um novo período de estiagem. Para demonstrar a possibilidade do auxílio da ciência na interpretação deste fenômeno, em especial através das técnicas da cartografia e do sensoriamento remoto, apresentamos algumas imagens para compreender a dimensão do fenômeno em questão.

Em consulta ao Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres (MDR, 2020) do Ministério do Desenvolvimento Regional, foi possível verificar que no dia 29 de março, dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, 93 estavam com decreto de situação de emergência ativo em função da estiagem. No dia 17 de abril, este número já havia evoluído para 173 municípios, como demonstrado pelo mapa da figura 1.

Nas imagens de satélite da figura 2, são apresentados três cenários da região de Itaqui, RS, para compreender o que representa a estiagem, mas, também, as enchentes que vem ocorrendo de forma recorrente nos últimos anos. A imagem (A) pode ser considerada como sendo uma representação da condição hidrológica normal, visto que Azevedo (2019) analisou os dados da estação de monitoramento da Agência Nacional de Águas, instalada no porto de Itaqui (ANA, 2020), identificando o comportamento do rio Uruguai no período anterior e posterior à data da imagem, como demonstra o gráfico da figura 3, no qual é também indicada a data da imagem de satélite utilizada. A autora realizou a mesma análise para identificar a data em que, no evento extremo de inundação do ano de 2017, representado pela imagem (B) da figura 2, o rio Uruguai esteve em seu nível mais elevado, para mapear a área efetivamente inundada no município de Itaqui, RS, no referido evento. A partir desta análise, representada pelo gráfico da figura 4, verificou-se que o maior nível foi registrado no dia 12/06/2017, havendo disponível uma imagem de satélite para o dia 11/06/2017, representando, portanto, uma pequena diferença entre o nível registrado e o nível mapeado.

Considerando a atual situação de estiagem, realizou-se uma nova análise dos dados da mesma estação da Agência Nacional de Águas, para o período de 22/12/2019 à 17/04/2020, conforme demonstra o gráfico da figura 5. A imagem mais recente disponível nas bases de dados é do dia 22/03/2020, como pode ser observado na imagem (C) da figura 2.
Ao comparar as três imagens de satélite, alguns elementos podem ser destacados, em especial, àqueles vinculados à estiagem:

(i) percebe-se, no rio Uruguai, a visibilidade de uma ilha, na porção nordeste, que não está visível nas outras datas;
(ii) os leitos do arroio Cambaí e do rio Aguapey, à oeste de Alvear, estão sensivelmente reduzidos, provavelmente, mantendo-se dentro do seu leito menor;
(iii) alguns reservatórios estão totalmente sem água, se comparadas as imagens de 2016 e 2020;
(iv) na imagem (B), é possível verificar o grande potencial de inundação na região, visto que todas as manchas em azul e em preto representam água.

Para uma melhor visualização da estiagem, chamamos atenção para a imagem da figura 6. Esta imagem possui uma resolução espacial maior, permitindo a identificação de um maior conjunto de detalhes, como:

(i) nas duas margens do rio Uruguai, são perceptíveis linhas na cor marrom-avermelhado, que representam as margens do rio que, em condições normais, ficam submersas;
(ii) o mesmo fenômeno que ocorre nas margens do rio Uruguai, pode ser observado em suas ilhas, na porção oeste da imagem, nas quais é possível perceber, pelo baixo nível da água, os sedimentos depositados em seu entorno;
(iii) por se tratar de uma região plana, fator associado ao porte do rio Uruguai, o arroio Cambaí e o rio Aguapey, possuem pequenos meandros auxiliares e planícies de inundação que, em geral, contém certa quantidade de água, mas que, nesta imagem, estão secos;
(iv) na foz do rio Aguapey, percebe-se a diferença da coloração da sua água se comparada ao rio Uruguai. Este é um fenômeno típico de períodos de estiagem, nos quais a vazão dos rios é menor.

As fotografias da figura 7, representam um comparativo entre a paisagem que costumeiramente encontramos na região portuária de Itaqui, e a paisagem anteriormente comentada, com a possibilidade de visualização das margens do rio Uruguai, com suas formações basálticas e sedimentos depositados.

 

Figura 1 – Municípios com decreto de situação de emergência ativo
Figura 2 – Imagens de satélite da região de Itaqui, RS
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 3 – Dados da estação hidrometeorológica em 2016.
Fonte: Azevedo (2019). Em verde, a identificação da data da imagem de satélite utilizada.
Figura 4 – Dados da estação hidrometeorológica em 2017 Fonte: Azevedo (2019). Em verde, a identificação da data da imagem de satélite utilizada.
Figura 5 – Dados da estação hidrometeorológica em 2019-2020
Fonte: elaborado pelo autor. Em verde, a identificação da data da imagem de satélite utilizada.
Figura 6 – Imagem de satélite do dia 24/03/2020
Fonte: elaborado pelo autor.
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 7 – Fotografias da região portuária de Itaqui, RS

 

PROFUNDANDO O CONHECIMENTO NA TEMÁTICA

Para ampliar os conhecimentos referentes à temática aqui apresentada, sugerimos às seguintes leituras que versam sobre questões climáticas, análise de dados hidrometeorológicos e aplicações de sensoriamento remoto. Ressalta-se que todas as produções foram desenvolvidas por pesquisadores do Campus Itaqui da UNIPAMPA ou tiveram a sua participação como coautores.

DE VARGAS, R. R.; FREDDO, R.; GALAFASSI, C.; GASS, S. L. B.; RUSSINI, A.; BEDREGAL, B. Identifying Pixels Classified Uncertainties ckMeansImage Algorithm. In: MEDINA, M. J.; ACIEGO, O.; VERDEGAY, J. L.; PERFILIEVA, I.; BOUCHON-MEUNIER, B.; YAGER, R. R. (org.) Communications in Computer and Information Science. 1ed.: Springer International Publishing, 2018, v. III, p. 429-440. DOI http://dx.doi.org/10.1007/978-3-319-91479-4_36

FREDDO NETO, R. ; GALAFASSI, C. ; VARGAS, R. R. de ; GASS, S. L. B. ; RUSSINI, A. ; PALMEIRA, E. S. . Aplicação do algoritmo Fuzzy ckMeans Image para detecção de pixels não confiáveis no processo de segmentação de imagens. In: IV Workshop-escola de informática teórica, 2017, Santa Maria – RS. WEIT 2017. Santa Maria – RS: UFSM, 2017. p. 10-16. Disponível em http://weit2017.inf.ufsm.br/wp-content/uploads/2017/10/Versao_final.pdf

GASS, S. L. B. Enchente na fronteira oeste do Rio Grande do Sul em dezembro de 2015 : subsídios para uma agenda de pesquisa aplicada. Confins (Paris), v. 25, p. 10638, 2015. DOI http://dx.doi.org/10.4000/confins.10638

GASS, S. L. B.; GALAFASSI, C. ; VARGAS, R. R. de . Comparativo entre os algoritmos K-Means e ckMeans para mapeamento automatizado de uso do solo. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 2017, Santos, SP. Anais do XVIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. São José dos Campos: INPE, 2017. p. 6376-6382. Disponível em http://urlib.net/rep/8JMKD3MGP6W34M/3PSMCQ7?ibiurl.backgroundlanguage=pt-BR

SANCHES, F.; VERDUM, R.; FISCH, G.; GASS, S. L. B.; ROCHA, V. M. Extreme Rainfall Events in the Southwest of Rio Grande do Sul (Brazil) and Its Association with the Sandization Process. AMERICAN JOURNAL OF CLIMATE CHANGE, v. 08, p. 441-453, 2019. DOI http://dx.doi.org/10.4236/ajcc.2019.84024

REFERÊNCIAS

ANA. Estação hidrometeorológica 75900000. Agência Nacional de Águas. Disponível em http://saladesituacao.rs.gov.br/api/station/ana/sheet/75900000

AZEVEDO, M. N. de Determinação da área efetivamente inundada durante o evento extremo de 2017, no município de Itaqui, RS, através de técnicas de sensoriamento remoto. Itaqui, RS. Trabalho de conclusão de curso. Curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura. UNIPAMPA, 2019.

MDR. Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres. Disponível em https://s2id.mi.gov.br/paginas/index.xhtml