Enfermeiro da Rede Municipal de Saúde de Uruguaiana, Integrante do Programa de Saúde Mental, Especialista em Saúde Coletiva pela UNIPAMPA.
O ano de 2020 nos apresenta um desafio enquanto sociedade, o qual dificilmente seria imaginado fora de filmes, séries ficcionais ou documentários históricos: uma pandemia.
A pandemia de COVID-19 sem sombra de dúvidas será um paradigma de nossa geração sob os mais diversos aspectos sanitários, sociais, culturais, nossa relação com nós mesmos e com o próximo; após este momento histórico mudanças significativas devem ocorrer.
O isolamento social que nos é imposto como medida mais eficiente e com mais respaldo acadêmico até o momento no enfrentamento do COVID-19, pode tanto ser um período de redescobertas e ressignificados nas relações sociais, como um período de angústias e ansiedade acentuados.
Não é difícil em nossos dias o acesso em tempo integral à notícias do mundo todo, trazendo dados catastróficos relacionadas à infestação do Coronavírus pelo mundo. Países como Itália, Espanha, EUA e, mais próximo de nós, o Equador, nos mostram quadros desoladores do quão a pandemia pode ser implacável e, isso naturalmente gera medos, receios, angústias e ansiedades diante disso.
A velocidade com a qual a pandemia progride e assume protagonismo nos noticiários e em nosso cotidiano nos fazem sentir como uma das pinturas de O Grito de Edvard Munch 1 , ainda mais tendo de tomar medidas tão restritivas para nos proteger, medidas às quais não estamos acostumados. E este contexto pode ter consequências na saúde mental.
A ansiedade passa a ser a maior preocupação de saúde mental diante do isolamento social. As restrições de atividades antes corriqueiras como atividades laborais, práticas de atividades físicas e convívios em espaços públicos agora restringidos, as atividades de home office, individualmente ou em conjunto podem ser gatilhos para ansiedade. As inseguranças econômicas, afetando diretamente na manutenção de emprego e renda dos brasileiros da mesma forma, sendo de suma importância estarmos atentos à isso. As demandas aos serviços de saúde com quadros de sofrimento psíquico podem agravar. Portanto, é importante estar atento à isto.
Reconhecer os sintomas como irritabilidade, sensação de angústia ou tensão constantes, sentir seu coração acelerado e uma sensação de perda de controle à ponto de atrapalhar suas atividades rotineiras, distinguirão uma ansiedade natural do ser humano e inevitável em tempos tão inóspitos, de um quadro de ansiedade migrando para a psicopatologia.
É importante nesses casos exacerbados procurar o serviço de saúde para acolhimento e diagnóstico dos profissionais, permitindo os encaminhamentos cabíveis a cada situação; existem serviços na atenção básica e especializados em saúde mental para dar conta destes quadros, sendo muito importante que os mesmos não sejam subestimados em sua importância, pois não recorrer a profissionais habilitados pode levar ao agravamento destas situações de ansiedade; é comum incorrer em quadros de pânico ou quadros depressivos mais graves.
E, o mais importante: além de todos os cuidados que a pandemia nos demanda, dar atenção à sua saúde mental, respeitar-se, caso sinta-se bombardeado com notícias sobre covid-19, procurar outras alternativas de distração possíveis para além da televisão e mídias sociais; recomenda-se que não se tenha vergonha de conversar sobre suas ansiedades, medos ou receios em relação ao cenário atual, se auto-preservando e compreendendo que a situação é passageira e que ultrapassaremos a pandemia mais fortes e conscientes do mundo em que vivemos e para onde podemos levar depois disso.