NÚCLEO DE ESTUDO EM AGROECOLOGIA E PRODUÇÃO ORGÂNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA (NEA-PAMPA)
Por Merli Leal Silva
“É importante tentar introduzir a agricultura em muitas áreas da universidade, não só na agronomia. O sistema total agroalimentar engloba diversas dimensões — saúde, psicologia, sociologia, ciências políticas. Nossa luta dentro da universidade envolve um esforço dentro de muitas áreas “Hugh Lacey
O NEA-PAMPA (Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica da Universidade Federal do Pampa) ampliou a possibilidade de formação continuada na região de abrangência da UNIPAMPA junto a agricultores e demais instituições voltadas ao desafio da transição agroecológica, constituindo-se em um espaço interinstitucional de referência para a troca entre o conhecimento científico e o tradicional. As linhas de atuação do Núcleo são interdisciplinares:
-Agricultura Familiar e Assentamentos de reforma agrária;
-Sustentabilidade e Meio Ambiente;
-Educomunicação e Novas tecnologias;
-Educação do campo;
-Economia Solidária e Produção colaborativa;
-Gestão ambiental;
O Núcleo promove ações indutoras da transição agroecológica, da produção orgânica e de desenvolvimento dos conhecimentos da Agroecologia, possibilitando à população da mesorregião da campanha gaúcha a melhoria de qualidade de vida por meio da troca de saberes e tecnologias para oferta e consumo de alimentos saudáveis e da preservação do meio ambiente. A agroecologia é mais que um modo de produção, ela é ciência! Contudo, ela é frequentemente deslegitimada por basear-se no saber popular e por desenvolver-se como contraponto ao agronegócio. A agroecologia como ciência faz oposição ao modelo agrícola convencional, marcado por baixa geração de emprego em função da mecanização; esgotamento do solo pela monocultura; exploração dos trabalhadores rurais; uso de agrotóxicos e transgênicos; e por uma produção dirigida a um mercado sob controle de corporações e multinacionais. O Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica da Unipampa nascido em 2020, foi idealizado por uma equipe multidisciplinar, integrada por três campi: São Borja, São Gabriel e Itaqui.São docentes e discentes das áreas das ciências sociais aplicadas, ciências agrárias, ciências biológicas e ciências humanas.
O NEA tem suas raízes no projeto de extensão Comunicação e Educação do Campo, do campus São Borja (2012). O projeto se constituiu em ações de extensão e pesquisa em agroecologia e gestão produtiva, com agricultoras familiares de São Borja. Uma das atividades mais conhecidas do projeto é a feira do campus, onde agricultoras do interior do município vendem produtos como legumes e hortaliças, assessoradas pelo NEA para ações de marketing e redes sociais, visando divulgar e vender a produção.
Nossa missão volta-se assim, para a produção de conhecimentos científicos que fomentem o desenvolvimento e a expansão da agroecologia como prática social, inclusiva e de proteção à saúde das pessoas. Entre as tantas missões da agroecologia, podemos citar a preservação da biodiversidade; respeito aos direitos humanos; segurança alimentar; relações igualitárias, justas e sem violência; e empoderamento das comunidades locais, em especial, as mulheres. Investigamos as diferentes dimensões da agroecologia e fomentamos estudos científicos que contribuem para a mudança gradual no modo de produção na fronteira, através da transição orgânica. As ações educomunicativas são essenciais para informar e educar a população sobre os perigos de consumir alimentos contaminados por agrotóxicos. O aporte dos laboratórios dos cursos de São Gabriel e Itaqui e de produção audiovisual de São Borja tem sido grande diferencial para a concretização das ações do núcleo e sua divulgação.
A metodologia freireana e a pesquisa ação são a base epistemológica do núcleo e contribuem para a construção do diagnóstico participativo junto às escolas do campo e agricultoras familiares. O NEA desenvolve ações voltadas à melhoria das condições ambientais, sociais e técnico-econômicas do meio rural nos municípios de São Borja, São Gabriel e Itaqui. Em 2020 o NEA recebeu recurso do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) que foi empregado na compra de insumos para as hortas, equipamentos, deslocamentos para avaliação técnica e pagamento de quatro bolsas: duas em São Borja, uma em Itaqui e uma em São Gabriel. Há parceria técnica com o prof. Dr. Denirio Marques, do Campus Viamão, do Instituto Federal RS e com a técnica Maria de Fátima Nora Lopes, para a gestão financeira do projeto.
Entre as atividades desenvolvidas pelo NEA, destacamos a formação em agroecologia, implantação de hortas com agricultores familiares, aprimoramento das feiras livres com ações de marketing e educomunicaçao. As práticas agroecológicas são realizadas nas unidades de produção dos assentamentos e agricultoras familiares. Infelizmente devido à pandemia, tivemos em 2020 e 2021, trabalho, em sua maioria, de forma remota. A implantação da agroecologia na região da fronteira é um grande desafio. A economia local é, em sua maioria, voltada ao agronegócio.
Coordenar um projeto de agroecologia não sendo da área das agrárias e sendo mulher, foi um grande desafio, mas nos fez entender que a agroecologia é uma ciência multidisciplinar, nascida da troca de saberes com as comunidades tradicionais. Para superar dificuldades, criamos laços com a comunidade e fomentamos a parceria técnica: Emater, prefeituras, CNPq, comunidade e universidade. O trabalho formativo é realizado, devido a pandemia da COVID19, nas plataformas digitais, utilizando a abordagem educomunicativa em lives, webnários, cartilhas, mini cursos e capacitação para plantio orgânico e uso das redes sociais para venda de produtos agroecologicos. A consultoria direta aos consumidores e produtores é feita através das redes digitais do NEA (Facebook, Instagram, Spotify, YouTube) e por visitas in loco.
A coordenação geral do NEA-PAMPA é feita pela Professora Dra Merli Leal Silva, São Borja; a coordenação do Núcleo São Gabriel, Prof. Dr. Andre Copetti e do Núcleo Itaqui, Prof. Dr. Paulo Roberto Cardoso da Silveira. A institucionalização do NEA Unipampa é o maior desafio até 2022, quando a atual coordenação entrega o relatório final do projeto ao CNPQ. O projeto é da UNIPAMPA e toda a comunidade acadêmica deve assegurar sua continuidade, pós implantação.
Referências Bibliográficas:
ALTIERI, M. A.; SILVA, E.N.; NICHOLLS, C.I. O Papel da biodiversidade no manejo de pragas. Holos editora. 2000;
ALTIERI, M. A. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. PTA/FASE. Rio de Janeiro. 1989. 240 pp.;
ALTIERI, M.A. Agroecologia – bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: AS-PTA/Agropecuária, 2002. 592p.;
ALTIERI, M.A. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1998. 110p. (Síntese Universitária, 54).;
EHLERS, E. Agricultura sustentável. Origens e perspectivas de um novo paradigma. Livros da Terra. 1996;
GLIESSAMN, S. Ecological processes in sustainable agricultura. AnnHarbour Press.1998. 357 pp.;
GLIESSMAN, Stephen R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre: Editora da Universidade-UFRGS, 2000;
Freire, Paulo. Extensão ou comunicação? Tradução de Rosisca Darcy de Oliveira. Prefácio de Jacques Chonchol 7a ed.Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983. 93 p. (O Mundo, hoje, v. 24)
GAIA, Rossana Viana. Educomunicação & mídias. São Paulo: EDUFAL, 2001.
Publicações do Nea
Agricultura familiar: Educomunicação e protagonismo feminino
Carla Beatriz de David Ernesto
Merli Leal Silva
EDUCOMUNICAÇÃO: Compreendendo a teoria para transformar a prática
Carla Beatriz de David Ernesto
Merli Leal Silva
Agricultura familiar: Educomunicação e protagonismo feminino
Carla Beatriz de David Ernesto
Merli Leal Silva
Pedagogia freireana na perspectiva da educomunicação popular
Merli Leal Silva
A Cultura Popular como conteúdo na escola do Campo
Merli Leal Silva
Daniele Kunzler Lara Cezar
Educomunicação popular e agricultura familiar pelos campos de São Borja
Merli Leal Silva
Luiz Gabriel Stroff
Versão do texto em *.pdf: clique aqui.