ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS DOS CURSOS DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO E ENGENHARIA DE SOFTWARE

Aline Vieira de Mello, coordenadora do projeto de pesquisa Egress@s
Docente da UNIPAMPA, campus Alegrete
E-mail: alinemello@unipampa.edu.br
Alice Fonseca Finger, co-coordenadora do projeto de pesquisa Egress@s
Docente da UNIPAMPA, campus Alegrete
alicefinger@unipampa.edu.br

Em 2019, o projeto de extensão Gurias na Computação realizou um encontro com as egressas dos cursos de Ciência da Computação e de Engenharia de Software, em que elas avaliaram seus cursos e contaram suas trajetórias, durante e após a graduação. Essa ação motivou a realização de um survey pesquisa em inglês   que incluiu questões nas dimensões sociodemográfica, formação acadêmica e atuação profissional. É um método  muito utilizado para coletar opiniões e características de um determinado grupo de pessoas

No período de fevereiro a abril, o questionário foi enviado aos egressos dos cursos desde sua criação até o primeiro semestre de 2019, o que representa uma população de 155 egressos. O survey obteve 98 respostas completas, representando uma amostra com nível de confiança igual a  95,0% e erro amostral de 6,0%.

Os resultados desse survey estão descritos em três artigos. O primeiro traz o recorte das respostas das egressas de ambos os cursos [FINGER, BORDIN e MELLO 2020]. O segundo traz as semelhanças e diferenças entre os perfis dos cursos Ciência da Computação (CC) e Engenharia de Software (ES) a partir da realidade dos egressos [MELLO, FINGER e BORDIN 2020]. O terceiro traz a percepção dos egressos da Engenharia de Software em relação ao seu curso [MELLO, BORDIN e FINGER 2020]. 

Adicionalmente, essa pesquisa motivou a criação do projeto de pesquisa Egress@s: coleta, disponibilização e visualização de dados que tem como objetivo analisar a trajetória dos egressos dos cursos de Ciência da Computação e Engenharia de Software da Unipampa. Dentre os principais resultados esperados deste projeto citam-se: promover a divulgação dos cursos de graduação em Computação do campus Alegrete; identificar os fatores associados à permanência e à conclusão dos cursos de Computação; identificar anomalias, padrões e correlações que permitam prever o comportamento dos egressos em função das escolhas e/ou desempenho durante a graduação; e desenvolver uma ferramenta para a coleta, disponibilização e visualização dos dados dos egressos. 

Como primeira ação do projeto, os dados sobre os egressos(as) estão sendo divulgados por meio de publicações semanais que são compartilhadas via e-mail, redes sociais e páginas institucionais dos cursos. Essas publicações têm o intuito de disseminar os resultados para a comunidade acadêmica e externa em um formato mais acessível do que os tradicionais. Exemplos das imagens que acompanham essas publicações são mostradas na Figura 1.

As próximas seções abordam os principais resultados publicados nos artigos e disseminado.

Perfil das egressas dos cursos CC e ES

O questionário foi enviado para todas as egressas dos cursos de Ciência da Computação (CC) e Engenharia de Software (ES), desde a criação dos cursos até o primeiro semestre de 2019, totalizando 25 egressas. Dessas, 16 responderam completamente o questionário, sendo 11 respostas de egressas graduadas em CC e 5 em ES. O número maior de respondentes do curso de CC é justificado porque esse curso foi criado 4 anos antes do curso de ES.

As egressas de CC necessitam em média 5,1 anos para integralizar o curso (Figura 2), a maioria não trabalhou e nem realizou estágio durante a graduação. Mais da metade (55%) foram bolsistas em projetos de ensino, pesquisa, extensão e/ou gestão. A maioria (73%) continuou a formação acadêmica, realizando mestrado e, entre essas, 62,5% foram bolsistas em algum projeto na graduação. A contribuição do curso de graduação na formação acadêmica foi considerada ótima ou excelente pela maioria (75%), sendo as disciplinas de Estrutura de Dados e Algoritmos as mais relevantes. Um pouco mais da metade das egressas (55%) afirmou ter recebido tratamento diferenciado em decorrência de gênero tanto de colegas quanto de professores durante a formação acadêmica.

Quanto à atuação profissional, mais da metade das egressas de CC (64%) informou ter tido alguma experiência profissional. A maioria (85%) trabalhou em até 2 instituições dos ramos de TI ou Educação, localizadas majoritariamente no Rio Grande do Sul. O salário médio atual dessas egressas é de R$ 4.714,00 (Figura 3). As disciplinas de Programação foram as mais relevantes para as suas atuações profissionais. Metade das egressas (50%) afirmou ter sofrido tratamento diferenciado em decorrência de gênero no mercado de trabalho.

Para integralizar o curso, as egressas de ES necessitam em média 6,2 anos (Figura 2) e a maioria não trabalhou durante a graduação. Em relação ao estágio, todas fizeram, visto que é obrigatório para a conclusão do curso, e a grande maioria realizou na mesma cidade do curso (Alegrete). Mais da metade (60%) fez especialização e, destas, 67% foi bolsista em projetos. A contribuição do curso na formação acadêmica dessas egressas foi considerada ótima pela maioria (67%), sendo as disciplinas específicas de ES consideradas as mais relevantes. Um número expressivo das egressas (80%) afirmou ter recebido tratamento diferenciado em decorrência de gênero tanto de colegas quanto de professores durante a formação acadêmica. 

Todas egressas de ES tiveram alguma atuação profissional (Figura 3), sendo que a maioria trabalhou em pelo menos 3 instituições da área, mais frequentemente no ramo de TI e localizadas no Rio Grande do Sul. O salário médio atual dessas egressas é de R $3.700,00. Foram destacadas as disciplinas de Análise de Software e Processos de Software como as mais relevantes para sua atuação profissional. Somente 40% das egressas afirmam ter recebido tratamento diferenciado no mercado de trabalho.

Semelhanças e diferenças entre os perfis dos cursos CC e ES

A Tabela 1 exibe o número de egressos por sexo, faixa etária, estado civil e número de filhos. Os respondentes, independente do curso, são majoritariamente do sexo masculino, possuem menos de 30 anos, são solteiros e não possuem filhos. Destaca-se que as mulheres representam somente 18,0% dos respondentes de CC e  13,6% do ES.

A Tabela 2 sintetiza os principais resultados, destacando as semelhanças e diferenças encontradas entre os perfis dos egressos de CC e ES. Observa-se que, em termos quantitativos, resultados com diferença de até 5,0% foram considerados similares.

Na dimensão pós-graduação, mais especificamente nos tipos especialização e mestrado, os egressos dos dois cursos possuem comportamentos similares: poucos procuram por especialização ou MBA (inferior a 17%) e mais da metade (55% em CC e 57% em ES) realizam mestrado. Quanto à área de pesquisa no mestrado, os egressos de cada curso tendem a realizar pesquisa na sua área de formação. No entanto, observa-se que um percentual significativo de egressos de ES (38%) pesquisam na área de CC. 

Em relação ao doutorado, embora o número de respondentes que informaram ter feito ou estar fazendo seja pequeno (inferior a 20%), a partir de uma análise mais detalhada verificou-se que 57% dos egressos de CC que já concluíram o mestrado optaram pelo doutorado. Já mais da metade dos egressos de ES (56%) que concluíram o mestrado foram para o mercado de trabalho. Nota-se que existe uma semelhança na área de pesquisa escolhida pelos egressos de ambos os cursos no doutorado. 

Ao analisar a dimensão atuação profissional, evidencia-se a diferença entre os perfis dos egressos. Destaca-se que em ambos os cursos a maioria dos egressos tem experiência no mercado de trabalho, porém nota-se um percentual maior entre os egressos de ES (94,6%). Além disso, a inserção no mercado de trabalho foi considerada mais fácil por egressos de ES do que CC, o que pode estar associado aos seguintes fatores: (1) rápida colocação; (2) realização de estágio obrigatório; e (3) adoção da metodologia Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) no currículo.  Em relação aos cargos, embora a maioria dos cargos ocupados pelos egressos sejam os mesmos, o percentual de ocupação pelos egressos de CC e ES possui diferenças. Sobre as remunerações, os egressos de CC tendem a receber salários mais elevados em comparação com os egressos de ES, desde a primeira atuação. 

Percepção dos egressos da ES em relação ao seu curso

O número de egressos do curso de ES corresponde a 52, sendo 43 do sexo masculino e 9 do sexo feminino. Deste total de egressos, 37 responderam completamente o questionário, sendo 32 do sexo masculino e 5 do sexo feminino, resultando em um survey com nível de confiança de 95% e erro amostral de 8,74%.

Em relação ao nível de contribuição do curso na sua formação acadêmica (Figura 4a), 85,2% dos respondentes que realizaram algum tipo de pós-graduação (27) consideraram que o curso contribuiu de forma Excelente ou Ótima e 14,8\% consideraram que a contribuição foi Boa.

Em relação às disciplinas mais relevantes para a formação acadêmica (Figura 5a), mais da metade dos respondentes que realizaram algum tipo de pós-graduação (19) consideraram as disciplinas de Resolução de Problemas (RP) as mais relevantes. As disciplinas Programação Orientada a Objetos (POO) e Análise de Software (AS) foram citadas por 7 respondentes. Já as disciplinas Algoritmos e Programação (AP), Processo de Software (PS) e Modelagem e Projeto de Software (MPS) foram mencionadas por 6 respondentes.

Dos 37 respondentes, 26 consideraram fácil a sua inserção no mercado de trabalho (70,3%) e 11 difícil (29,7%). A inserção no mercado de trabalho foi comentada por 28 respondentes. Esses comentários foram categorizados em fatores facilitadores e dificultadores e estão descritos e comentados no artigo [MELLO, BORDIN e FINGER 2020].

Em relação ao nível de contribuição do curso na sua atuação profissional (Figura 4b), a grande maioria dos respondentes (78,1%) considera que o curso contribui de forma Excelente ou Ótima para sua atuação profissional. Já 18,8% considera que o curso possui um nível de contribuição Bom, enquanto 3,1% considera que o curso possui uma contribuição Regular.  

As disciplinas de Resolução de Problemas (RP) também foram consideradas as mais relevantes por mais da metade dos respondentes (20) que atuaram no mercado de trabalho (Figura 5b). As disciplinas de Programação Orientada a Objetos (POO), Processo de Software (PS) e Modelagem e Projeto de Banco de Dados (MPBD) foram consideradas importantes por 7 respondentes. Todas as disciplinas foram consideradas relevantes por 6 respondentes, mesmo número de respondentes que consideraram relevante a disciplina de Algoritmos e Programação (AP). A ampla maioria dos egressos (97,3%) indicou que recomendaria o curso.

Referências

FINGER, A. F. ; BORDIN, A. S. ; MELLO, A. V. Perfil das Egressas dos Cursos de Computação da UNIPAMPA: Uma Análise da Formação Acadêmica e da Atuação Profissional. In: Women in Technology Information, 2020, Cuiabá. ANAIS DO XIV WOMEN IN INFORMATION TECHNOLOGY. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, 2020. p. 100-109.

MELLO, A. V.; FINGER, A. F.; BORDIN, A. S. Ciência da Computação e Engenharia de Software: semelhanças e diferenças a partir da realidade dos egressos. In: Simpósio Brasileiro de Informática na Educação, 2020, Online. Anais do Simpósio Brasileiro de Informática na Educação. Porto Alegre: Sociedade Brasileira da Computação, 2020. p. 1773-1782.

MELLO, A. V.; BORDIN, A. S.; FINGER, A. F. Graduates’ Perceptions of a Software Engineering Undergraduate Program: a view from postgraduation and industry. In: SBQS’20: 19th Brazilian Symposium on Software Quality, 2020, São Luís Brazil. 19th Brazilian Symposium on Software Quality. New York: ACM, 2020. p. 1-10.

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