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Fake News e Coronavírus: o pânico que não vem da imprensa

   Eduardo Silva, Bacharel em Comunicação Social – Habilitação Jornalismo –, pelo campus da UNIPAMPA São Borja e pós-graduando em Desenvolvimento Regional e Territorial pela UNIPAMPA Itaqui

       Sete em cada dez brasileiros acreditam em Fake news sobre o coronavírus. É o que aponta uma pesquisa da Avaaz divulgada em maio. Segundo o estudo, 60% dos internautas receberam notícias falsas pelo WhatsApp. No Facebook, o número chegou a 50%.

       A pesquisa também foi realizada nos Estados Unidos e na Itália, mas ninguém nos venceu em matéria de Fake news sobre a covid-19. E não são os jornalistas que estão produzindo esse conteúdo. Os números são uma amostra do tamanho do desafio da imprensa no País.

     Informações falsas – que nem notícias são – corroem o debate público faz tempo. No entanto, a velocidade das redes sociais e da ignorância faz com que a disseminação de mentiras se propague quase tão rápido quanto o vírus.

       Do presidente da República ao “tiozão do Whats”, a imprensa é diariamente questionada e acusada de estar alarmando e gerando pânico na população em função da cobertura sobre a pandemia. E essa acusação também é uma Fake news.

   Já que o Ministério da Saúde não divulgou até o momento nenhuma campanha institucional de esclarecimento sobre o coronavírus, coube ao jornalismo brasileiro informar e orientar a população sobre a importância de procedimentos como o distanciamento social, a higiene das mãos e o uso de máscaras. A imprensa – baseada em fontes como a Organização Mundial da Saúde – divulga informações que estão reduzindo o estrago causado pela covid-19.

       Assim como profissionais da saúde e da segurança, repórteres estão na linha de frente do combate ao coronavírus. O alarme e o pânico estão vindo de outro lugar. Em um misto de preguiça e má-fé, notícias verdadeiras acabam virando fake news quando publicadas fora de contexto.

       Foi o caso da farsa dos caixões vazios de Manuas e São Paulo. A reportagem original era verdadeira. Porém, as fotos eram de 2015 e 2018, pré-pandemia. Lida só pela manchete, a matéria virou fake.

     Mas há, também, mentiras, ponto. Em Itaqui, um áudio circulou pelo WhatsApp afirmando que o hospital da cidade estava “entrando em surto”, com pacientes infectados andando pelos corredores.

       A direção da instituição precisou vir a público para rechaçar a acusação e comunicar que encaminharia a gravação ao Ministério Público e à Polícia. Embora não houvesse evidências que comprovassem o que foi dito no áudio, as informações falsas geraram alarme e pânico na cidade. O áudio não foi nem gravado e nem compartilhado pela imprensa.

       Não compartilhe informações duvidosas, leia a notícia até o final, confira a data, confie no jornalismo tradicional e tenha certeza: vamos vencer.

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Vinicius Piccin Dalbianco, Professor Nota 10

   Fui escolhido pelos estudantes do BICT como um dos professores “Nota 10” do curso, resultado da pesquisa realizada pelo CiênciAção: Observatório Interdisciplinar de Divulgação Científica e Cultural. Por esse motivo, os editores e editoras me convidaram para relatar um pouco da minha trajetória pessoal, acadêmica e profissional, de modo a compartilhar com todos vocês aprendizagens que tive ao longo desse tempo.

   Pois bem, vou relatar um pouco do que já fiz e que considero importante para a ocasião. Sou Vinicius Piccin Dalbianco, Professor da Magistério Superior na Universidade Federal do Pampa – Campus Itaqui/RS. Compreendo que parte significativa do que sou hoje, enquanto docente, pesquisador e extensionista, é fruto do processo histórico de construção do conhecimento individual (como estudante, pesquisador e ator social) e coletivo (como integrante de um grupo social que constrói relações sociais). Por esses motivos, a trajetória de cada individuo é importante, pois entendo que não somos imunes às influências das relações sociais do percurso social que fizemos, seus valores, suas crenças e imersões nas relações de poderes assimétricos que constituem a sociedade. Desse modo, compreendo que a produção do conhecimento não é neutra, visto que mantém identidade com a historicidade e as relações traçadas pelo pesquisador.

   Sou filho de camponeses residentes no município de Jaboticaba, localizado no Médio Alto Uruguai do estado do Rio Grande do Sul (RS). Foi lá que aprendi muitos significados da vida social, embora fosse passar a entender muitos deles mais tarde. A vida “simples” (tendo como parâmetro o agito urbano e as condições objetivas de sobrevivência) foi recheada de muito amor. Aos 14 anos, sai de casa para cursar o ensino médio no Colégio Agrícola em Frederico Westphalen (que na época era vinculado a Universidade Federal de Santa Maria – UFSM). No ano de 2001, ingressei na UFSM no curso de Agronomia. Durante a graduação, atuei ativamente no movimento estudantil, principalmente, na Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB), no Diretório Central dos Estudantes (DCE) e na organização dos Estágios Interdisciplinares de Vivência (EIVs). Durante os cursos de especialização em Residência Agrária e de mestrado em Extensão Rural, dediquei-me à pesquisa sobre o processo de construção da Assessoria Técnica, Social e Ambiental (ATES) aos assentamentos de Reforma Agrária no RS. A minha vinculação aos Projetos de extensão dos Articuladores e Assessores Técnicos Pedagógicos da ATES coordenado pela UFSM (2009 a 2010; 2012 até agora) colaborou para a compreensão da percepção social dos diferentes atores envolvidos com o desenvolvimento de assentamentos. Entre os anos de 2010 e 2012, trabalhei no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) na condição de Coordenador do Programa de ATES RS. Em 2012, retornei à UFSM para fazer o curso de doutorado no Programa de Pós Graduação em Extensão Rural.

   Em fevereiro de 2015, ingressei na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Campus Dom Pedrito, para a função de Professor do Magistério Superior com atuação prioritária no curso de Educação do Campo- Licenciatura. Minha função nesse curso se concentrou na problematização das temáticas dos Movimentos Sociais do Campo, da Agroecológica, do Desenvolvimento Rural e da ER, relacionadas à formação de educadores das Escolas do Campo. Nesse curso, minha atuação era mediada por um pano de fundo baseado pela compreensão de que não existe Escola do Campo sem campo com gente e que não é possível haver Educação do Campo sem Educador do Campo. A existência da Educação do Campo só tem sentido quando a escola do campo aborda os elementos constitutivos do território onde está inserida, valorizando o aprendizado que os educandos do campo trazem a partir das suas vivências.

   No ano de 2018, através de uma permuta docente vim para o Campus Itaqui. Atualmente, dou aula nos cursos de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, Engenharia Cartográfica e de Agrimensura e Nutrição. Faço parte de dois grupos de pesquisa, coordeno três projetos e participo da equipe executora de mais quatro projetos, a saber:

Grupos de pesquisa:

  1. Educação do Campo: objetiva contribuir com o aprofundamento e a construção dos Fundamentos da Educação do Campo.
  1. Agricultura Familiar e Sustentabilidade Socioambiental: objetiva realizar pesquisas relativas à relação entre agricultura familiar e sustentabilidade socioambiental.

Projeto que coordeno:

  1. Abordando a interdisciplinaridade nas escolas: um estímulo para o acesso à Universidade: O projeto possui o objetivo de contribuir para ampliar o conhecimento da comunidade de Itaqui-RS sobre as práticas exercidas dentro da universidade com ênfase nas atividades de extensão.
  1. Assessoria Técnica Pedagógica ao Programa de ATES nos Projetos de Assentamentos do Rio Grande do Sul: objetiva contribuir para a qualificação do Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental (ATES) ofertada aos Assentamentos de Reforma Agrária do Rio Grande do Sul.
  1. Universidade e Comunidade: do acesso à permanência: o projeto possui dois objetivos centrais: a) Contribuir para ampliar o conhecimento da comunidade de Itaqui RS sobre as práticas exercidas dentro da universidade; b) Objetiva também colaborar com o aprendizado na UNIPAMPA, através de atividades internas de extensão como minicursos, palestras, oficinas etc., com discentes e docentes.
  1. Projeto Intervozes: o projeto objetiva discutir com a comunidade universitária temas relevantes a formação universitária. Tem como protagonista a ação dos estudantes, principalmente do diretório acadêmico do Curso BICT.

Projetos que faço parte da equipe executora:

  1. Formação Continuada de Professores do Campo da Região da Campanha: o projeto tem por finalidade proporcionar a formação continuada de professores e professoras que atuam em escolas do campo.
  1. Leitura que Circula: visa ofertar empréstimos de livros pessoais, de propriedade particular, a interessados(as) de forma monitorada por sistema de dados, que será desenvolvido e controlado pela equipe executora do projeto.
  1. Programa de Formação Interdisciplinar: o projeto tem por objetivo promover debates sobre temas relacionados a formação interdisciplinar na Universidade.

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Aluna destaque

   Olá! Me chamo Vanessa Salaibe, sou bacharela em Ciência e Tecnologia (BICT) pela Universidade Federal do Pampa, campus Itaqui-RS. Para o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), escolhi o tema violência contra a mulher porque penso que esse tipo de  violência é um fenômeno que ainda carece de estudos em função dos vários aspectos que constituem a sua base. Esse trabalho fez parte do projeto de pesquisa Análise do fenômeno da violência contra o corpo social feminino nos contextos sociocultural e histórico dos municípios de Itaqui e São Borja/RS (2018), coordenado pela Prof.ª Dr.ª Cristina dos Santos Lovato com a colaboração do Prof. Dr. Gabriel dos Santos Kheler.

   O título do meu TCC é Análise da Violência Contra a Mulher no Município de Itaqui-RS, e ele foi premiado como melhor trabalho na categoria pesquisa, na modalidade apresentação oral, da Mostra Científica no 10° Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão (SIEPE), em 2018. Além desse prêmio, produzi com a Prof.ª Cristina, orientadora do TCC, dois artigos. O primeiro, intitulado A dimensão sócio-histórica da violência contra a mulher, contou também com a participação do Prof. Gabriel. Esse artigo teve como objetivo discutir aspectos que abrangem a violência contra a mulher a partir de discursos que reproduzem e mantêm uma organização social fundamentada no patriarcado e seus elementos de sustentação; o artigo está sendo revisado para publicação.

   O segundo artigo, intitulado Perfis socioeconômico e sociocultural de vítimas e de agressores no contexto da violência contra a mulher, teve como objetivo identificar o perfil de agressores e de vítimas envolvidos em casos de violência de gênero, em especial, contra a mulher. Foram descritos dados referentes ao mapeamento dos números atuais da violência contra a mulher em uma das cidades da região da Fronteira Oeste do Estado do Rio Grande do Sul, em termos de denúncias registradas na Delegacia Civil, nos anos de 2017, 2018 e 2019. Os resultados desse estudo demostraram que os índices de violência são altos em relação à densidade populacional da cidade analisada e sugeriram que isso pode estar relacionado à baixa escolaridade da vítima e do agressor somada a aspectos de ordem cultural.

   Aos alunos do BICT, peço que acreditem em vocês e no curso que nos possibilita uma compreensão mais ampla da sociedade, dos fenômenos científicos, da ciência e da tecnologia. Todo sucesso depende de cada um, vocês são capazes!

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Projeto de Extensão do Ambulatório de Nutrição da UNIPAMPA- Campus de Itaqui

Por Graciéle Sousa.

   Iniciado no ano de 2014, o projeto está vinculado ao Curso de Nutrição da Universidade Federal do Pampa no Campus de Itaqui, sendo coordenado pela Nutricionista, Mestre e Doutora em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares, Karina Sanchez Machado D’Almeida.

   O Ambulatório oferta atendimento de forma gratuita para comunidade itaquiense e região. O objetivo é a promoção da saúde com foco na prevenção e tratamento das doenças crônicas não transmissíveis como: hipertensão arterial (pressão alta), diabetes (glicose alta), ambas de alta incidência na população brasileira; consideradas relevante problema de saúde pública no Brasil. Essas doenças apresentam aspectos em comum, tais como a origem, os fatores de risco, as complicações e as formas de tratamento.

   Assume importância o atendimento especializado por profissionais da área de nutrição, pois essas enfermidades estão fortemente associadas ao estilo de vida, maus hábitos alimentares, sedentarismo, excesso de peso e o acúmulo de gordura abdominal – fatores esses que desencadeiam uma das principais causa das doenças: a obesidade. Os médicos relacionam a gordura abdominal com a síndrome metabólica. Essa síndrome é um conjunto que envolve hipertensão, excesso de triglicérides, baixo nível de colesterol bom, além do abdômen saliente. Nesse contexto, orientações sobre uma alimentação saudável é fundamental. Um cardápio variado e adequado para cada quadro clínico aumenta a imunidade e auxilia no controle de muitas patologias.

   Uma alimentação saudável e um planejamento dietoterápico específico se tornam um diferencial no tratamento dessas enfermidades e leva à melhora do quadro de pacientes que são encaminhados ao atendimento dos docentes e estudantes de nutrição. As patologias devem ser acompanhadas por uma dieta diferenciada, visando e respeitando as necessidades nutricionais de cada paciente.

   Com o intuito de promover a saúde e de prevenir doenças a partir da ciência da nutrição, este projeto foi constituído, disponibilizando informações por profissionais qualificados. Segundo Karina D’Almeida, a coordenadora do projeto, este espaço, além de prestar um retorno à comunidade, atuando diretamente na saúde e no bem-estar de seus usuários, também permite que os acadêmicos do Curso desenvolvam o aspecto humanístico e comunitário, os quais são de suma importância para futuros profissionais da área da saúde”. A participação da ação extensionista possibilita uma qualificação do processo de formação ao desenvolver a capacidade de relacionamento profissional-paciente.

   O desenvolvimento deste projeto, inicialmente realizado junto ao hospital São Patrício, atualmente promove os atendimentos na unidade de saúde central junto à Secretaria de Saúde do município. Durante o ano de 2014, foram realizados cerca de 300 atendimentos ambulatoriais, beneficiando 137 pessoas; em 2015 foram 153 primeiras consultas e 292 atendimentos de retorno. Em 2016 e 2017 foram realizados, respectivamente, 313 e 371 atendimentos. Em 2018 foram 124 atendimentos entre janeiro e maio, ao passo que em 2019, em torno de 250 atendimentos foram realizados.

   O projeto efetiva a divulgação pelas rádios locais, visando dar conhecimento do serviço disponibilizado e explicitar conceitos importantes sobre a importância de orientação adequada sobre a alimentação.

Maiores informações, consulte o instagram: @ambulatoriadenutricao.

Para saber mais, pode-se consultar:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: obesidade. Cadernos de Atenção Básica 38, 2014. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_38.pdf

MARIATH et al.. Obesidade e fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis entre usuários de unidade de alimentação e nutrição. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.23 (4), p.897-905, abr. 2007. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/csp/2007.v23n4/897-905/pt

SARTORELLI, Daniela Saes; FRANCO, Laércio Joel. Tendências do diabetes mellitus no Brasil: o papel da transição nutricional. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, supl.1, p.S29-S36, 2003. Disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2003000700004&lng=pt&tlng=pt.

Reportagem de Graciéle Sousa, estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia e membro do Projeto de leitura e escrita: Jornal Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia.

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Revisão de Walker Douglas Pincerati.

Projeto Poema Falado @poema_falado

   O Poema Falado é um projeto de acolhimento digital vinculado à Pró-Reitoria de Graduação da Unipampa, que tem como público-alvo a comunidade acadêmica do campus Itaqui, especialmente o corpo discente. A intenção principal do projeto é incentivar a leitura e contemplação da poesia, de forma a contribuir para a aquisição de habilidades comunicativas e de interpretação de texto, além de estimular o discente à ampliação de sua visão de mundo. Almeja-se fortalecer, de maneira lúdica, o vínculo de todos com a universidade. A interação do projeto com a comunidade ocorre através da rede social Instagram®, com o perfil @poema_falado, que já está entrando em sua oitava semana de atividades.

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   Pandemia, distanciamento social, suspensão de aulas. Dificuldades financeiras para alguns, conflitos familiares – exacerbados pela forçada convivência – para outros. A composição dos cenários possíveis é tão complexa quanto a situação que se impõe. E o seu enfrentamento tem incluído, mundo afora, a busca de alívio através da arte em suas mais variadas formas. “Temos a arte para não morrer da verdade”, já havia refletido o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Desde a música compartilhada entre vizinhos de suas janelas e varandas até os grandes museus que, agora fechados, oferecem tour virtual pelo seu espaço físico, o que se nota mundialmente é uma clara percepção, já observada em muitos momentos antes na História, da importância da arte em momentos de ruptura com a “normalidade”. Diante da insegurança e perplexidade ante à nova realidade, a arte se apresenta como algo que conecta, devolve a sensação de pertencimento abalada pelo distanciamento social e pode ser uma companhia amiga. Nesse sentido, o projeto Poema Falado se coloca como um ambiente virtual de compartilhamento e interação em torno da poesia, na pretensão de emanar um pouco de conforto e beleza nestes dias confusos.

   Toda semana, movida por um tema, a equipe do Poema Falado se reúne virtualmente para conversar sobre dois poemas previamente selecionados. Nesses encontros, conhece-se melhor cada autor, principais temas de sua obra e curiosidades sobre sua vida, além de se discutir a compreensão dos poemas, relacionando-os com outras obras, músicas e/ou filmes com os quais apresentem intertextualidade. Esses dois poemas são então recitados por discentes da equipe, em vídeos que são postados às segundas e quintas-feiras no Instagram®. Outras atribuições dos estudantes da equipe incluem, semanalmente, a busca de versos e imagens sobre o tema da semana, além da edição dos vídeos.

   Cada semana inicia com a postagem de um texto, escrito por Ariel Melo, que é assistente social e colaborador do projeto. São textos reflexivos, que visam a provocar o leitor sobre o tema escolhido para o período:

   “A quarentena trouxe para o debate questões importantes… dentre tantas recomendações, o distanciamento social. ‘Como assim não posso estar com meus amigos, não vou poder visitar minha família, ir num barzinho, viajar, criar memórias e tirar várias fotos pra postar nas redes sociais?’ Mas será que é só assim que mostramos que estamos vivendo e aproveitando a vida? Se ninguém me vê, eu não existo? (…) A reflexão que paira no ar é: o que eu aprendo com o meu silêncio? Por que eu não aproveito a minha própria companhia? O que você faz para transformar a solidão em solitude?” – trecho do texto da primeira semana, cujo tema foi, propositalmente, “Solidão”.

   “O amor genuíno não julga. O amor acolhe o igual, o diverso; o amor não segrega. É união de um ou mais. É aceitação. É andar juntos ou separados. É liberdade de ser e exercer afetos sem medo de olhares alheios. O amor pode nos assustar um pouco, se a vida nos aproximou de algumas experiências não tão boas. Mas não sejamos injustos com o amor – no fundo, ele é a segurança de sermos aceitos como somos. Amor é empatia! Amor é agora e, por ser presente, alimenta nossas esperanças de dias melhores…” – trecho do texto da segunda semana que, a pedido do público, abordou o tema “Amor”.

   E, nesse formato e na sequência, foram postados até o momento textos sobre “Liberdade”, “Desigualdade”, “Empatia”, “Saudade”, “Destino” e “Tempo” cada um abrindo suas semanas temáticas, que incluíram os vídeos com poemas recitados e demais conteúdos.

   A participação do público, além de percebida pelos comentários, curtidas e visualizações dos textos, vídeos e poemas, tem se dado semanalmente através da postagem de músicas em suas redes sociais usando templates do Desafio Poema Falado, sempre relativo ao tema da semana. Além disso, são previstas outras atividades, como a realização de webinários, sorteios, saraus e gincanas no decorrer do projeto. O 1º Webinário do Poema Falado, realizado em 3 de junho do corrente ano, contou com a explanação do poeta Paulo Cesar Limas, membro da Estância da Poesia Crioula de Porto Alegre/RS e da Academia Itaquiense de Letras. Participaram, como ouvintes do evento, 40 estudantes do campus Itaqui e, na ocasião, foram sorteados três exemplares do livro “Missioneiro e fronteiriço”, de autoria do palestrante. Pela participação no evento, será fornecido certificado de horas aproveitáveis como Atividade Complementar de Graduação no Grupo IV: Atividades Culturais e Artísticas, Sociais e de Gestão. Outra iniciativa para incentivar a divulgação do perfil @poema_falado entre os estudantes do campus foi o sorteio do livro “Declaração de Amor”, de Carlos Drummond de Andrade, durante a semana cujo tema era “Amor”. O 2º Webinário do Poema Falado, a se realizar neste 2 de julho com a poetisa paulista Liana Ferraz @lianaferraz, já conta com mais de 80 inscritos. As inscrições se encerram dia 02/07 às 13h e podem ser feitas através deste link:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSejl2S7paOTDJ1syiL_rd1rnhPgHYyVVX2bCT2epjmdIJDvaw/viewform?usp=sf_link

   O perfil também possui um quadro chamado “Curadoria Poema Falado”, que consta da postagem de um vídeo no qual um servidor do campus Itaqui da Unipampa sugere um livro de literatura (em prosa ou verso) que tenha lido e gostado muito. É uma oportunidade para valorizar a bagagem literária dos técnicos e docentes, assim como para os estudantes os conhecerem, e se configura em mais uma ação de incentivo à leitura como prática prazerosa e tão importante à formação do indivíduo. Os vídeos da Curadoria são postados às quartas-feiras. Já o quadro “Sextou no Poema Falado”, claramente postado às sextas, consiste na sugestão de um filme, série ou documentário com o tema da semana. Entendendo-se a poesia como uma linguagem que perpassa diferentes manifestações da arte, a indicação deste quadro é sempre previamente pensada pela equipe, considerando relevância e pertinência da obra ao escopo do projeto.

   O projeto Poema Falado ainda está em seu início mas tem se revelado promissor em seu propósito, conforme se percebe no depoimento de Helena de Paula Rampelotto, estudante integrante da equipe, que já recitou os poemas “Quando estou só reconheço”, de Fernando Pessoa, “A maior riqueza do homem”, de Manoel de Barros, e “De longe te hei-de amar”, de Cecília Meireles, expostos em vídeos no perfil do projeto: “O projeto tem contribuído muito… Já comentei uma vez e repito, passei a ver a poesia de uma forma completamente diferente. No ensino médio, ela era colocada de um ponto de vista estrutural – aqui ela é algo simbólico, que realmente te faz sentir aquilo que o poeta busca transmitir ao leitor. O projeto me fez ver que nunca devemos nos contentar com o pouco que conhecemos a respeito de alguma coisa, sempre devemos ampliar nosso conhecimento, pois podemos nos surpreender”. A professora Marina Prigol, uma das curadoras do projeto até o momento, também revela: “Agradeço ao projeto pela oportunidade de indicar um autor que gosto muito e mudou minha vida, o Zygmunt Bauman. Foi um grande desafio e uma ótima experiência pra mim. Acho que, com a loucura que estão as redes sociais, a gente fica com medo de se expor e ser julgado. Então foi interessante e bem desafiador esse exercício. Foi bom para refletir”.

   Aos poucos, espera-se que o projeto Poema Falado contribua para que a poesia entre, faça festa e permaneça, provocante, na vida de cada vez mais estudantes da Unipampa.

EQUIPE DO PROJETO:

Lana Carneiro Almeida é coordenadora e orientadora do projeto. Graduada em Nutrição pela Universidade Federal da Bahia, possui mestrado e doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo. Atua como docente do curso de Nutrição – Unipampa, campus Itaqui. E-mail: lanaalmeida@unipampa.edu.br

Leandro Silveira Fleck é orientador do projeto. Graduado em Letras Espanhol pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, possui especialização em Gestão Pública pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e mestrado profissional em ensino de Línguas pela Unipampa. Atua como professor de Literatura na rede pública estadual e é Técnico Administrativo em Educação na Unipampa, campus Itaqui. E-mail: leandrofleck@unipampa.edu.br

Jonatan Ariel de Oliveira Melo é colaborador do projeto. Graduado em Serviço Social pela Unipampa, possui Especialização em Saúde Coletiva pela Unipampa e é membro do Grupo de Pesquisa “Direitos Humanos, Família e Fronteira”. Foi bolsista Proext/MEC no projeto “Educação Emocional na Escola: Refletindo sobre importância das emoções do educador e seus reflexos no aluno”. Atua como Assistente Social vinculado à prefeitura de Itaqui/RS. E-mail: melo.jonatanariel@gmail.com

Anna Paula Howes Farias é acadêmica do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, Unipampa, campus Itaqui. E-mail: annafarias.aluno@unipampa.edu.br

Helena de Paula Rampelotto é acadêmica do curso de Nutrição, Unipampa, campus Itaqui. E-mail: helenarampelotto.aluno@unipampa.edu.br

Helena Mazzucco Sorato é acadêmica do curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura, Unipampa, campus Itaqui. E-mail: helenasorato.aluno@unipampa.edu.br

Mickaele Carneiro Sommer é acadêmica do curso de Nutrição, Unipampa, campus Itaqui. E-mail: mickaelesommer.aluno@unipampa.edu.br

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Revisão de Walker Douglas Pincerati.

PIBID Matemática – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência

Por Radael de Souza Parolin, Alex Sandro Gomes Leão e José Lucian Brites Pinto.

   “O PIBID é uma ação da Política Nacional de Formação de Professores do Ministério da Educação (MEC) que visa proporcionar aos discentes na primeira metade do curso de licenciatura uma aproximação prática com o cotidiano das escolas públicas de educação básica” (CAPES, 2020). Para isso, o programa oferta bolsas a discentes dos cursos de licenciatura de instituições de educação superior participantes de projetos de iniciação à docência em conjunto com as redes de ensino.

   Conforme informações do site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), “os projetos devem promover a iniciação do licenciando no ambiente escolar ainda na primeira metade do curso, visando estimular, desde o início de sua formação, a observação e a reflexão sobre a prática profissional no cotidiano das escolas públicas de educação básica” (CAPES, 2020). Os discentes são acompanhados por um professor da escola e por um docente de uma das instituições de educação superior participantes do programa.

   O Núcleo Matemática do PIBID da UNIPAMPA se forma a partir de dois subprojetos, integrando os cursos de Matemática – Licenciatura dos Campi Bagé e Itaqui. As atividades em Itaqui tiveram início em agosto de 2018 e finalizaram em fevereiro de 2020, considerando-se o último ciclo (acessar edital clicando aqui). O programa contava com a participação de 2 Coordenadores de Área, 2 Supervisoras e 20 Bolsistas de Iniciação à Docência (ID). Nesse período, o programa foi desenvolvido em parceria com duas escolas, a saber, o Colégio Estadual São Patrício e a Escola Estadual Profa. Odila Villordo de Moraes, contemplando em ambas os anos finais do ensino fundamental e médio. Em cada umas das escolas atuaram 10 bolsistas ID e 1 Supervisora (pertencente ao quadro de professores da própria escola), distribuídos em turmas do 6° ano do Ensino Fundamental à 3° série do Ensino Médio, nos turnos da manhã e tarde.

   Destacamos aqui ações realizadas no âmbito do projeto. Uma das atividades regulares são as Monitorias, em que cada um dos bolsistas ID foi designado a uma turma e acompanhou as aulas em conjunto com o(a) professor(a) regente. O objetivo foi o de vivenciar a experiência em sala, antecipando o contato com o seu campo de trabalho, como também levar à compreensão dos desafios que a prática pedagógica apresenta.

   Complementarmente às aulas regulares, realizaram-se atividades de estudos no turno inverso ao das turmas. Por isso, essas atividades foram chamadas de Interaulas. Tal espaço possui característica interdisciplinar, com amplo suporte ao que se trabalha de forma regular, suplantando-se na autonomia do bolsista ID, com
reconhecimento das diferenças no processo de ensino e aprendizagem e com foco nas dificuldades dos educandos, espaço este comprometido com a educação, a cultura e a sociedade (UNIPAMPA, 2020a).

   No transcorrer do programa, concomitante às atividades realizadas nas escolas, os bolsistas atuaram em diversas atividades no âmbito da universidade e comunidade. Abaixo estão retratadas algumas práticas ao longo do projeto.

1ª Gincana IntegrAção
Realizada no dia 25 de maio de 2019, foi organizada pelos bolsistas ID e teve por objetivo proporcionar momentos de descontração aos alunos e professores do Curso de Matemática, que montaram equipes mistas. Entre a organização e as equipes, contou-se com a participação de quase uma centena de pessoas. Como parte das provas, ainda foram arrecadados roupas e alimentos para doação a entidades sociais.

Feira da Educação

   No dia 08 de junho de 2019, ocorreu a Feira da Educação na Praça Mal. Deodoro da Fonseca, evento que trouxe a mostra de trabalhos e projetos dos cursos de graduação da UNIPAMPA à comunidade. Na oportunidade, os pibidianos  apresentaram atividades envolvendo jogos matemáticos, expondo as atividades e trabalhos desenvolvidos em escolas parceiras do projeto.

Programa Forças no Esporte

   Em 25 de setembro de 2019, os pibidianos receberam os alunos do Programa Forças no Esporte (PROFESP), desenvolvido pelo Ministério da Defesa com apoio do Exército, “tendo como objetivos ajudar e melhorar a qualidade de vida de jovens e de crianças carentes, promovendo a inclusão social.” (BRASIL, 2020). Na oportunidade os bolsistas apresentaram atividades envolvendo jogos matemáticos proporcionando aos alunos uma maneira divertida de aprender e exercitar a matemática.

Visita da Escola Getúlio Vargas

   No dia 17 de outubro de 2019, a UNIPAMPA Campus Itaqui recebeu a visita dos alunos da Escola Getúlio Vargas. Na oportunidade, os pibidianos apresentaram atividades com materiais adquiridos pelo núcleo, com propósito de promover aos alunos uma maneira divertida de aprender e retomar conceitos matemáticos.

Apresentação de Trabalhos no 11º SIEPE

   Entre os dias 22 e 24 de outubro de 2019, os bolsistas ID participaram do 11º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão (SIEPE) da UNIPAMPA em Santana do Livramento, com a apresentação de diferentes trabalhos desenvolvidos ao longo do projeto, abarcando atividades e práticas ao ensino de Matemática.

Anima Campus

   Em 05 de novembro de 2019, aconteceu o 2º Anima Campus, evento aberto à comunidade e que teve por objetivo a mostra de trabalhos e projetos dos cursos de graduação da UNIPAMPA. Nesse dia, os bolsistas ID divulgaram o programa aos visitantes, em sua maioria alunos de escolas da rede pública do município, e apresentaram atividades fazendo uso do material didático adquirido pelo projeto.

 

Intervenções pedagógicas: propostas em turmas acompanhadas pelos bolsistas

   No transcorrer do projeto os bolsistas ID ministraram atividades nas turmas onde atuavam, com intervenções que tinham como objetivo complementar as temáticas abordadas pelos professores regentes. Para isso, os pibidianos utilizaram atividades lúdicas e diferenciadas visando tornar o momento mais atrativo e divertido, contribuindo com o processo de ensino e aprendizagem do educando.

Processos Formativos de Ação Inicial e Continuada:

   Entre as realizações do programa aconteciam os processos formativos, os quais se concretizaram em encontros com discussão e aplicação de propostas acerca do Ensino de Matemática, promovendo oportunidades de aprendizagem e contribuindo com o processo de formação docente dos bolsistas ID. As atividades foram desenvolvidas por professores do Curso de Matemática da UNIPAMPA Campus Itaqui.

   O programa PIBID tem se mostrado muito importante na formação dos alunos, e com sua característica de Iniciação à Docência, permite o desenvolvimento da pesquisa à prática, como suporte às atividades curriculares do curso de Matemática. Ser pibidiano torna-se, portanto, uma marca para o curso, que se sustenta frente à diferentes espaços formativos e à responsabilidade social envolvida aos cursos de licenciatura.

   A continuidade do programa já está programada para os próximos meses, considerando-se a aprovação do núcleo de Matemática. Portanto, haverá um novo ciclo, do qual esperamos ser abraçados pelas escolas parceiras e pela comunidade itaquiense, a fim de contribuir com a formação dos nossos alunos, mas também impactar positivamente os professores já atuantes e toda a comunidade escolar.

Radael de Souza Parolin é professor da Universidade Federal do Pampa e Coordenador de Área do PIBID no subprojeto Multidisciplinar: Núcleo Matemática (2018 a 2020) – radaelparolin@unipampa.edu.br

Alex Sandro Gomes Leão é professor da Universidade Federal do Pampa e Coordenador de Área do PIBID no subprojeto Multidisciplinar: Núcleo Matemática (2018 a 2020) – alexleao@unipampa.edu.br

José Lucian Brites Pinto é discente do curso de Matemática da Universidade Federal do Pampa, campus Itaqui, e bolsista de Iniciação à Docência no subprojeto Multidisciplinar: Núcleo Matemática (2018 a 2020) – josebrites.aluno@unipampa.edu.br

* Nas fotos foi ocultada a identificação de alunos das escolas, afim de preservar sua imagem. Todas as fotos são de propriedade do projeto.

 

Referências bibliográficas

BRASIL. Exército Brasileiro. Comando de operações Terrestres. Programa Forças no Esporte [página na Internet], 2017. Disponível em: http://www.coter.eb.mil.br/index.php/profesp. Acesso em: 14 de junho de 2020.

CAPES. Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID. Chamada Pública para apresentação de propostas. Edital Nº 7/2018, 2018. Disponível em: https://capes.gov.br/images/stories/download/editais/01032018-Edital-7-2018-PIBID.pdf. Acesso em: 05 de junho de 2020.

CAPES. Pibid – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência [página na Internet], 2020. Disponível em: https://capes.gov.br/educacao-basica/capespibid/pibid. Acesso em: 05 de junho de 2020.

UNIPAMPA. 11º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão (SIEPE) da UNIPAMPA [página da Internet], 2019. Disponível em: https://eventos.unipampa.edu.br/siepe/apresentacao/. Acesso em: 10 de junho de 2020.

UNIPAMPA. PIBID Institucional – Núcleo Matemática – Bagé e Itaqui [página na Internet], 2020. Disponível em: https://sites.unipampa.edu.br/pibid/matematica-bage/. Acesso em: 10 de junho de 2020.

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Revisão de Walker Douglas Pincerati.

Um convite à leitura de “O Discurso Político em Sociedades Pós-Digitais” (2020), de Jan BLOOMAERT

por Walker Douglas Pincerati e Cristina dos Santos Lovato

   Como uma pessoa pode ganhar uma eleição ou mesmo “governar” um país via Twitter? Por que e como as postagens desse tipo de pessoa “viralizam” nas redes sociais? Como analisar e, consequentemente, enfrentar essa espécie de “populismo”? Respostas são dadas a essas questões pelo linguista belga Jan Bloommaert em seu texto O Discurso Político em Sociedades Pós-Digitais, publicado em maio deste ano, no dossiê “Mecanismos digitais e semióticos dos populismos contemporâneos”, organizado pelo linguista brasileiro Daniel N. Silva, no número mais recente da revista Trabalhos em Linguística Aplicada. (Clique nos hiperlinks em azul para acessar textos e outras informações!)

   No texto, ele defende que vivemos em um novo ambiente: o pós-digital; que neste novo ambiente nossas práticas e interações acontecem no “nexo online-offline”, e que qualquer análise de discursos políticos deve considerar as novas condições de interação no ambiente pós-digital. Por isso, entende que devemos abandonar o modelo da “propaganda de massa”, a mass media, que está sustentada numa visão estatística de população, isto é, de “o público” enquanto “as massas”, visão essa que imaginariamente diria de uma “opinião pública”. Ele diz que a esfera pública é profundamente fragmentada e complexa e que as novas tecnologias exploram essa fragmentação, produzindo micro-marketings. Assim, a comunicação não pode ser mais pensada como um circuito linear de transmissão de mensagens que, por meio de um canal, chegariam a um receptor que as decodificaria de forma homogênea e transparente. Esse circuito linear de transmissão no modelo de mass media se daria do líder (o emissor), que comunicaria uma mensagem, via mídias de massa (o canal), a ser decodificada pelas massas (o receptor), vistas como bloco homogêneo e estatístico.

   No Twitter a interação é de outra ordem. Ela é indireta. Ela é mediada por algoritmos. Por isso, um dos participantes da interação não é humano. Eu posso gostar de uma postagem e compartilhá-la. Outra pessoa, porém, pode não gostar dela e compartilhá-la – retweetá-la – com o propósito de difamação ou crítica negativa. O algoritmo, no entanto, não está interessado em críticas positivas ou negativas, mas no alcance de circulação da mensagem em bolhas ou nichos diferentes. E pouco importa a data em que se retweetou. O importante é retweetar!

   No contexto da análise de discursos políticos, isso tudo nos lembra um ditado popular que hoje, talvez mais do que nunca, tem muito sentido para o político: “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim!

Quer saber mais!? Assista ao vídeo clicando aqui e leia o artigo original disponível aqui. Boa leitura!!!

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Gosto de Amora

  Gosto de Amora é a primeira publicação de contos do escritor e professor de Sociologia da Unicamp, Mário Medeiros, lançado no fim do segundo semestre de 2019 pela editora Malê (clique aqui para saber mais).

   O livro é divido em 15 contos, os quais são divididos em duas partes, em que os protagonistas são separados em fase jovem (infância e adolescência) e fase adulta. As histórias são independentes entre si. Surpreende-nos a cada conto pela diversidade de temas, embora possamos perceber uma persistência no caráter marcante de as personagens e de suas personalidades: são homens negros da cidade grande, originários de periferias (em muitos casos, de favelas), e com vidas duras. São retratados os dilemas deles para sobreviver a cada dia, dilemas tanto no âmbito pessoal, quanto no profissional.

   A escrita de Medeiros é fluída, rítmica, vibrante, marcadamente inquietante e não deixa o leitor e a leitora largar o livro enquanto não concluir sua leitura.

  Aos leitores que procuram uma leitura estimulante, ao mesmo tempo profunda e com senso de humor, recomendo vivamente o Gosto de Amoras.

Por Fabiana Mendes de Souza, doutora em Antropologia Social pela Unicamp.

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Revisão de Walker Douglas Pincerati.

Um olhar sobre a Interdisciplinaridade no Brasil: uma nova perspectiva para produção científica

Nas últimas décadas, tem crescido o interesse acadêmico pela Interdisciplinaridade; muitas vozes ecoam na reivindicação das práticas interdisciplinares na produção de conhecimento e na formação universitária. Associada a um saber relevante para enfrentar os graves problemas sociais e ambientais, fora dos muros acadêmicos, movimentos sociais e organizações não-governamentais defendem a superação de um cenário de fragmentação do conhecimento (a excessiva divisão disciplinar), tendo como pressuposto a necessidade de leituras interdisciplinares dos processos vivenciados nos sistemas físico-químico-biológicos e nos sistemas sócio-histórico-culturais.

Durante o século XX, observou-se uma hiperesespecialização das disciplinas científicas; surgem novas disciplinas, quando o recorte do objeto de estudo reduz o foco dos cientistas em busca da profundidade do conhecimento. Este processo possibilitou grandes conquistas da ciência, dando a ela um poder de influência sobre as ações na vida cotidiana e nas decisões tomadas pelas sociedades. Passa a povoar o imaginário da sociedade ocidental a figura do cientista cada vez mais especializado, de aventais brancos em seus laboratórios bem equipados.

Não seria contraditório então, falarmos em Interdisciplinaridade? Precisa-se compreender o percurso desta perspectiva que emerge com força na produção de conhecimento 1 (principalmente a partir da década de 1960) e na organização dos sistemas de ensino nos países ditos desenvolvidos. Diante de um conhecimento científico cada vez mais complexo, o qual exige uma formação acadêmica para sua compreensão, observa-se a transformação que gera nas formas de relacionamento entre as pessoas e na organização do trabalho, criando um sentimento de apreensão e de insegurança. Surgem criticas aos impactos ambientais percebidos pela artificialização dos espaços urbanos e rurais, atribuindo-se ao desenvolvimento científico-tecnológico um sentido negativo. È neste contexto que surgem discursos em favor da interdisciplinaridade como uma forma de enfrentamento dos grandes problemas sociais e ambientais, fornecendo potência ao conhecimento científico para aproximar-se da vida dos cidadãos e de suas angústias.

Verifica-se que desde os anos 1950, cientistas de várias áreas de conhecimento, epistemólogos e filósofos da ciência passam a defender a interdisciplinaridade, mas esta permanece marginal nas universidades e nos centros de pesquisa 2 ; no entanto, em vários campos profissionais, como nas chamadas ciências ambientais 3 , o trabalho conjunto entre profissionais de várias áreas de conhecimento passa a ser cada vez mais comum e necessário. No mundo da indústria, esta colaboração entre diferentes formações profissionais é cotidiana e muito antiga. Claude Raynaut 4 nos lembra que o esforço realizado para possibilitar as grandes navegações que fizeram os europeus chegarem aos mais diversos recantos do mundo em seu empreendimento colonizador, somente foi possível com a colaboração entre cartógrafos, astrônomos, engenheiros de construção naval, constituindo a “Escola de Sagres”, um empreendimento interdisciplinar.

A Agricultura até o século XIX, quando da fundação das primeiras escolas de agronomia, somente se viabilizava com um conhecimento sobre solos, plantas e condições ambientais, os quais advinham do fazer cotidiano dos agricultores, criando uma “Agri-cultura”; neste conhecimento, esses diferentes elementos interagiam e se influenciavam em seu comportamento; com a evolução da ciência agronômica, os referidos elementos são alocados em diferentes disciplinas, formando-se especialistas em Solos (inclusive, dividindo-se esse tema entre física do solo, fertilidade do solo, microbiologia do solo, conservação de solos, gerando uma formação acadêmica ultraespecializada); especialistas em fisiologia vegetal, fitopatologia, irrigação e tratos culturais em diferentes áreas (fruticultura, Olericultura, Orizicultura, Forrageiras, Soja, Trigo e tantas outras) são formados para aprofundar um conhecimento fundamental aos engenheiros agrônomos. No entanto, ao enfrentar o desafio da produção agrícola, agindo junto aos agricultores, o diálogo entre essas áreas de conhecimento passa a ser necessário; nada mais se trata de esforços multi e interdisciplinares na formação de engenheiros agrônomos.

Mas, se nas áreas técnicas a superação do enfoque disciplinar sempre foi realidade 5 , no meio acadêmico a interdisciplinaridade sempre encontrou dificuldade de se desenvolver. Nas Universidades e Centros de Pesquisa, ainda se percebe a resistência aos trabalhos interdisciplinares, seja devido à formação disciplinar rígida dos pesquisadores e de sua forma de organização em departamentos ou núcleos disciplinares (e na própria formação de grupos de pesquisa e projetos de cooperação internacional). Outros aspectos destacados por Vasconcelos (2016) são a falta de rigor metodológico e uma falta de um tratamento epistemológico adequado, razões pela qual as práticas interdisciplinares são vistas com desconfiança por parte da comunidade científica.

Observa-se no cotidiano acadêmico que as práticas interdisciplinares precisam romper com uma barreira: a dificuldade de comunicação entre pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. Para Claude Raynaut, essa dificuldade aumenta quando se busca o diálogo entre o que denomina ciências Humanas (as quais abordam objetos imateriais) e ciências naturais (da materialidade), já que se trata de lógicas diferentes e precisa-se romper com preconceitos de ambos os lados. Neste sentido, visando à formação de espíritos mais abertos a leituras interdisciplinares, surgem os Bacharelados Interdisciplinares no Brasil na década de 1980. Não se trata de formar pessoas com uma formação em diferentes áreas (um saber enciclopédico), mas como melhor habilidade e capacitação para promover o diálogo com diferentes disciplinas científicas.

Outro movimento que fornece um Status acadêmico para a Interdisciplinaridade é a sua inserção no sistema de pós-graduação. Mesmo que desde a década de 1970, a Interdisciplinaridade tenha emergido no Brasil, através de intelectuais que tomaram contato com pesquisadores de centros internacionais, europeus e norte-americanos, permaneceu como marginal na comunidade científica brasileira até anos recentes; somente na virada para o século XXI, a produção de conhecimento interdisciplinar passa a ser reconhecida como importante e estratégica para o sistema de produção de acadêmica com a criação em 1999 da Câmara Interdisciplinar (chamada inicialmente de Comitê Multidisciplinar) pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), vinculada ao Ministério de Educação. Esse reconhecimento de cursos de pós-graduação Interdisciplinares, sejam de mestrado sejam de doutorado, contribuiu para o estímulo e a consolidação de grupos de pesquisa interdisciplinares nas Universidades brasileiras.

O crescente interesse despertado na comunidade acadêmica pela Interdisciplinaridade como perspectiva epistemológica com elevado potencial para a produção de conhecimento pode ser observado pelo significativo crescimento dos programas de pós-graduação interdisciplinares. De 19 programas aprovados pela CAPES em 2001, chega-se a 64 em 2008, ano que apresenta o maior número; continua-se um crescimento intenso até 2015 com 48 cursos aprovados, sendo que a partir daí os critérios de avaliação para aprovação se tornam mais rígidos, causando queda no número de propostas aprovadas, segundo relatório da Câmara Interdisciplinar da CAPES (https://www.capes.gov.br/images/Documento_de_%C3%A1rea_2019/INTERDISCIPLINAR.pdf)

Segundo esse documento, produzido em 2019, atualmente existem 368 programas de pós-graduação interdisciplinares recomendados pela CAPES, envolvendo quatro áreas que compõem a Câmara Interdisciplinar: Meio-Ambiente e Agrárias (47/13%), Sociais e Humanidades (148/40), Engenharia, Tecnologia e Gestão (88/24%), Saúde e Biológicas (85/23%). Esses programas dividem-se em Acadêmicos (voltados à produção de conhecimento sobre temas considerados relevantes pela comunidade científica) e Profissionais (mais recentes, surgem com o objetivo de estreitar a relação entre as universidades e os diferentes segmentos da sociedade, voltando-se à qualificação profissional).

No universo de programas de pós-graduação interdisciplinares, dentre os acadêmicos, encontram-se com somente Mestrado (136/37%), com somente Doutorado (12/3%) e com Mestrado e Doutorado (123/33%); dentre os caracterizados como profissionais encontram-se com somente Mestrado (91/25%), com somente Doutorado (2/1%) e com Mestrado e Doutorado (4/1%).

Esse aumento da busca por uma formação interdisciplinar indicaria a necessidade sentida de abordagens interdisciplinares para a atuação de profissionais em uma “realidade híbrida”, a qual caracterizaria para Claude Raynaut (2014), a sociedade contemporânea. Para esse intelectual Francês, Diretor de Pesquisas no Centro de Pesquisas Científicas da França (CNRS) da Universidade de Bordeaux, a formação interdisciplinar atrai acadêmicos mais abertos à colaboração entre diferentes disciplinas. Ele introduz o conceito de Realidade Híbrida definida como uma grande imbricação entre realidades humanas e materiais, quando espaços cada vez mais antropizados exigem o olhar das Ciências Humanas para conhecer as formas de sociabilidade e exigências socioculturais, fundamentos que os modelam; e, por outro lado, as sociedades humanas são cada vez mais dependentes de suas bases geo-bio-físicas, como se percebe na crise ambiental que ameaça a sustentabilidade planetária.

Os autores que escrevem sobre a interdisciplinaridade costumam salientar que existe uma dificuldade de conceituá-la e que são muitos os entendimentos sobre sua forma de operacionalização 6 ; mas também costumam reforçar que diferentes formas de práticas interdisciplinares são cada vez mais frequentes desde a simples colaboração entre disciplinas diante de uma questão pontual, até a integração permanente entre disciplinas, as interdisciplinas, as quais assumem o caráter de nova área de conhecimento com corpos teóricos e métodos consensualmente aceitos.

Também se deve salientar que em campos de conhecimento que tem assumido grande protagonismo acadêmico, nas chamadas ciências de fronteira, como a Neurofisiologia, a Neuroquímica, Biologia Molecular, Biotecnologia, Engenharia Genética, entre outros, sua formação como área de conhecimento surge a partir de esforços interdisciplinares; estes geraram novos conceitos e métodos, formando nova disciplina. Sem dúvida, tem aumentado cada vez mais interesse pela interdisciplinaridade e pela sua adoção como princípio formativo nos sistemas de ensino superior, processo que ganha mais relevância diante das problemáticas graves que vivenciamos na sociedade contemporânea.

Revisado por Cristina dos Santos Lovato