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Projeto “Meninas nas Ciências”

Por Caroline Jaskulski Rupp e Caroline Raquel Bender.

A desigualdade de gênero na área de Ciências é um tema que, infelizmente, transpassa em nossos dias atuais. Segundo dados da UNESCO sobre os grupos que formam as comunidades científicas, as mulheres representam apenas 30% dessa população total. Se analisarmos as publicações científicas, temos que 60% do total publicado são de pesquisadores do sexo masculino. Considerando ainda os laureados pelo prêmio Nobel (prêmio de reconhecimento internacional por pesquisas ou descobertas notáveis para a humanidade) temos que apenas 5% dos laureados são mulheres.

No Brasil, os dados apresentados pela Academia Brasileira de Ciências não são diferentes dos apresentados pela UNESCO a nível mundial. Nas áreas das Exatas e Tecnologias observamos a predominância de pesquisadores do sexo masculino, refletindo o caráter da desigualdade de gênero. Dessa forma, quando pensamos em um projeto como o “Meninas nas Ciências” estamos tentando, mesmo que a passos lentos, mudar esse cenário de desigualdade de gênero nas Ciências para os próximos anos.

Quando visitamos espaços fora do ambiente acadêmico, em sua maioria, escolas, tentamos utilizar metodologias alternativas e dinâmicas educacionais diferentes daquelas utilizadas pelos professores no período normal de aula, de forma a promover a interação dos alunos com a Ciência e com questões de desigualdade de gênero. Podemos destacar o uso de oficinas com experimentos científicos, seminários, simulações computacionais e ainda a aplicação de questionários como forma de avaliação dos conhecimentos prévios dos alunos sobre Ciência. Em todas essas atividades, buscamos estabelecer um vínculo dos alunos com a Ciência e mostrar a importância das universidades públicas no contexto de possibilidade de acesso a uma carreira científica.

As atividades do projeto são realizadas mensalmente, em diferentes instituições e em diferentes turmas de alunos, com uma faixa etária que varia de 06 a 18 anos. Em todas as atividades, realizamos um experimento científico que envolve Ciência e também um seminário em que abordamos dados sobre a desigualdade de gênero e exemplos de mulheres historicamente relevantes para o desenvolvimento científico e social. A primeira atividade realizada em 2019 foi a Oficina de Perfumes no Instituto Estadual de Educação Osvaldo Cruz, quando as alunas aprenderam sobre de Química envolvida na elaboração de perfumes e a Física das embalagens e, então, produziram o seu próprio perfume. Uma outra atividade desenvolvida foi na EEEF Roque Degrazia. Os alunos assistiram um seminário sobre o projeto e, então, realizaram um experimento que produzia chuva ácida, com o intuito de desenvolver conhecimento sobre a importância das pesquisas científicas para detectar e amenizar esse problema. Também realizamos diversas atividades na Escola José Gonçalves da Luz onde aplicamos, entre muitos, um experimento didático sobre viscosidade que envolvia conceitos de Química e Física sobre as propriedades dos líquidos.

No atual cenário em que nos encontramos no ano de 2020 (pandemia de Covid-19), as atividades do projeto nos meses de abril e maio foram voltadas para a produção de sabonetes líquidos. Foram produzidos 18 litros de sabonete líquido que foram distribuídos às instituições do município de Itaqui (Lar do Idoso, APAE e o CRAS). Essa atividade bem como outras ações desenvolvidas pela UNIPAMPA, neste cenário, servem para demonstrar a importância da ciência, da força feminina e da universidade pública no enfrentamento à Covid-19.

Membros do Projeto: Caroline Raquel Bender (Coordenadora); Integrantes: Elaine Fortes, Caroline Jaskulski Rupp, Bruna Zambrano dos Santos, Milena Matos Azevedo, Augusto Freitas, Andreia Maria Sousa Freitas, Milenne Baltazar de Almeida Bolanho, Michele Carrard, Gabriel Ramos Porfirio, Darlian Souza Quintero.

Referências e sugestões de leitura

Academia Brasileira de Ciências – 2016 – Disponível em: http://www.abc.org.br/ FEENEY – Mary K. Feeney – Por que tão poucas mulheres ganharam prêmios Nobel de ciência? – 2019 – Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/ – Acesso em: 07 de maio de 2020.

Organização das Nações Unidas Brasil – Desigualdades de gênero afastam mulheres e meninas da ciência, dizem especialistas – 2019 – Disponível em: https://nacoesunidas.org – Acesso em: 04 de maio de 2020.

Redação Galileu – Mulheres são maioria na ciência, mas apenas 23% têm cargos de influência – 2019 – Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/ – Acesso em: 03 de maio de 2020.

SILVEIRA – Aline Reinhardt da Silveira – Campus Itaqui produz 18 litros de sabonete líquido para doação – 2020 – Disponível em: https://unipampa.edu.br/portal/ – Acesso em: 07 de maio de 2020.

Uma breve conversa sobre assédio moral

A Wikipedia conceitua assédio moral como a “exposição de alguém a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas. Geralmente, tal expressão se refere a atos ocorridos durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções”.

O conceito já nos direciona para o ambiente onde acontecem os casos de assédio moral: o lugar de trabalho. Em se tratando de questões envolvendo a relação de emprego a competência para julgar os casos de assédio moral é da Justiça do Trabalho. Então, é importante complementar o conceito anterior com a definição do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS, SC, PR). Analisando algumas decisões concluímos que o TRT4 define assédio moral “como uma violência de natureza psicológica sofrida pelo empregado, implicando lesão de um interesse extrapatrimonial (sem equivalência econômica), porém juridicamente protegido, ou seja, dano moral”.

A exposição do trabalhador a essas situações, geralmente, acontece por parte de seu superior hierárquico, que o ridiculariza e hostiliza, provocando constrangimento, insegurança, estresse etc. Esse é o tipo de assédio, é o mais comum, sendo definido como descendente. Ele acontece de forma vertical, ou seja, de cima (chefia) para baixo (subordinados). O principal objetivo é desestabilizar o trabalhador, de forma que este produza mais e mais, sempre com a impressão de que não está atingindo os objetivos da empresa, que, na maioria das vezes, já foram ultrapassados.

Embora o mais comum, o assédio descendente é apenas uma das modalidades identificada. Existem mais duas situações, que apesar de raras, devem ser debatidas. São casos em que o trabalhador é perseguido por outros trabalhadores que não exercem cargos de chefia.

No tipo ascendente de assédio, a perseguição acontece também de forma vertical, mas de baixo (subordinados) para cima (chefia). A hipótese é mais difícil acontecer, pois o sucesso depende da união de um grupo de trabalhadores que se reúnem contra a chefia. A principal causa identificada para a prática é a ambição de algum subordinado, que almeja ser o líder.

Sentindo-se incapaz de atingir o lugar desejado pelas suas próprias qualidades ele resolve reunir um grupo de pessoas de fácil influência, já que o sucesso do alcance do objetivo traçado é mais provável se a ação for conjunta. O terceiro tipo de assédio é o paritário. Ao contrário dos anteriores ele ocorre de forma horizontal, entre funcionários, quando um grupo isola e assedia dos colegas. O principal objetivo é eliminar concorrentes, principalmente quando este indivíduo vem se destacando com frequência perante os superiores.

Assédio moral, portanto, é a perseguição no ambiente de trabalho caracterizada pela repetição de atos que podem gerar danos ao agredido. A psiquiatra francesa Marie-France Hirigoyen traz mais um elemento ao conceito ao afirmar que assédio é qualquer conduta abusiva, configurada através de gestos, palavras, comportamentos inadequados e atitudes que FOGEM DO QUE É COMUMENTE ACEITO PELA SOCIEDADE. Mas o que é aceito pela sociedade? A resposta não é estática, dependendo da análise do contexto no qual estamos inseridos.

Deixar o funcionário no “cantinho do pensamento” para refletir sobre seu comportamento é assédio? E impedir o uso do banheiro durante o horário de trabalho? E determinar a participação em reuniões chamadas de motivacionais onde o funcionário é obrigado a dançar e cantar? Esses três casos chegaram ao Poder Judiciário que decidiu que a postura da chefia preencheu os requisitos restando caracterizado assédio moral contra o empregado.

A conduta abusiva reiterada do assediador contra o assediado atenta contra sua personalidade, dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa. Por vezes o abalo moral sofrido é tão intenso que as consequências ultrapassam o ambiente de trabalho, atingindo a vida pessoal e familiar da vítima. Casos extremos podem, inclusive, repercutir no próprio trabalho, hipótese que gera um pedido de demissão fazendo com que a vítima também sofra danos materiais, além dos danos morais.

Definimos o que é assédio moral, quais suas modalidades e consequências. Mas é quem é o responsável pelo pagamento em caso de indenização? Essa é uma dúvida frequente no debate sobre esse tema. Muitos, equivocadamente, acreditam que é o agressor o responsável em pagar eventual indenização. É a empresa quem responde à prática de assédio moral, já que essa é responsável por todos os atos dos funcionários, devendo velar pelo bom ambiente de trabalho.

A empresa deve adotar medidas para fazer cessar o assédio, quando tomar conhecimento de sua existência, podendo, inclusive, demitir o agressor por justa causa. Entretanto, considerando que o assédio mais comum é aquele praticado pelo chefe, ou até mesmo o dono, contra o empregado é difícil que alguma solução seja encontrada dentro da empresa. A quem a vítima irá reclamar se seu algoz é seu chefe? A ameaça de demissão, inclusive, está sempre presente nos casos de assédio moral, por vezes de forma expressa e por vezes velada.

Então, a opção, talvez a única viável, é a interposição de ação judicial requerendo indenização pela perseguição sofrida. A vítima pode pedir rescisão indireta do contrato de trabalho, hipótese em que recebe todas as verbas trabalhistas e condenação ao pagamento de indenização por danos morais e materiais. Se o assédio ainda for acompanhado de calúnia, difamação, injúria, lesão corporal ou ameaça, o agressor pode poderá responder criminalmente.

Contudo, o sucesso da ação judicial depende dos meios probatórios e, infelizmente, na maioria dos casos o assédio a vítima não consegue uma prova cabal do assédio e sai do processo ainda mais abalada e agora, também frustrada por ter acreditado que iria ver todo seu sofrimento recompensado de alguma forma. Considerando os baixos índices de êxito nos processos judiciais e o número elevado de casos de assédio moral, lembrando que muitos sequer chegam ao judiciário, acreditamos que uma das formas de prevenção e de luta contra essa conduta opressora e humilhante é falar mais sobre o tema. Pulverizar a informações para que a sociedade tenha conhecimento do que se trata assédio moral e, conhecendo o inimigo, possa unir forças e lutar contra a perseguição no ambiente de trabalho.

Mariane Contursi Piffero
OAB/RS 80.297B

13 de maio 1888 e um texto curto: a Lei Áurea

A abolição da escravidão no Brasil foi promulgada no dia 13 de maio de 1888, mediante a assinatura da Lei Imperial nº 3.353, a conhecida Lei Áurea. A Lei é “curta e grossa”. Contém apenas dois artigos, nos quais se lê o seguinte:

“Art. 1°: É declarada extincta desde a data desta lei a escravidão no Brazil.”
“Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.” (BRASIL, 1888.)”

A escravidão foi um sistema de produção econômica brutal e extremamente violento que escravizava a população negra de origem africana. Durante sua vigência, da Colônia ao Império (quase 4 séculos), foram os negros e as negras que trabalharam e sustentaram a população branca; afinal, essa população era que detinha o poder econômico, político e bélico. Trabalho, no Brasil, era coisa de preto! Isso porque o trabalho, sobretudo manual, era considerado uma atividade inferior.

A Lei Áurea, como se sabe, foi assinada pela Dona Isabel, a Princesa Imperial Regente do Brasil, porque seu pai, o Imperador D. Pedro II, viajava pela Europa. Conta-se que Isabel assinou a Lei com uma “pena de ouro”, e que, por isso, foi chamada de Áurea.

Se a gente faz uma busca rápida no Google, encontramos em sites oficiais que essa Lei terminou com um longo processo de negociações para a abolição do sistema escravagista. Esse processo teria início com a Lei Eusébio de Queiroz – a Lei nº 854, de 4 de setembro de 1850, que proibia o tráfico intercontinental de africanos escravizados e estabelecia medidas para sua repressão.

Em 28 de setembro de 1871, durante a Primeira Regência da Princesa Imperial, Dona Isabel assinou a Lei nº 2.040, denominada: Lei do Ventre Livre. A Lei libertou os filhos e as filhas de escravizadas que nasceram após sua publicação, prevendo a indenização dos Senhores. (Para saber mais, clique aqui).

Em 28 de setembro de 1885, o Imperador promulga a Lei 3.270, conhecida como Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe. Ela concede a liberdade aos escravizados com mais de 60 anos de idade mediante indenização. (Para saber mais, clique aqui e aqui).

Diferente do texto dessas outras leis, a Lei Áurea tem um texto bem curto. Nela, liberta-se e ponto! Não há no texto previsão de indenização aos escravizados pelos 400 anos de cativeiro, pela violência física, moral, psicológica que sofreram, pelos assassinatos e mortes constantes com que conviviam, nem pela pátria que um dia perderam.

O custo da abolição veio logo. No dia 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República e a Família Real foi expulsa do Brasil (saiba clicando aqui). Participou desse processo, parte da elite local que ficou insatisfeita com o fato de que a Lei Áurea era um texto curto que não previa indenização aos senhores.

Se Lilia Schwarcz tem razão em insistir em suas obras que a maestria da família Bragança consistia no caráter ambíguo de sua diplomacia, agradando e enganando franceses e ingleses, talvez possamos pensar que a astúcia do gesto imperial está nisto: na canetada áurea que não indenizou uns, os Senhores, nem outros, os escravizados. Cada qual ficou “livre” e a cargo de sua própria sorte.

Então, mais do que comemorar a assinatura da Lei, o dia 13 de maio deveria nos fazer pensar tanto no racismo estruturado no Brasil, quanto sobre nosso momento atual: de forte dualidade e de lutas constante de uns contra os outros polo poder econômico, político e, declaradamente, pelo poder bélico.

Corporeidade e erotização da mulher Negra nos espaços sociais: o caso da universidade

Por Nitielle Floriano Dias.

Meu nome é Nitielle Floriano Dias, sou Itaquiense, discente da Universidade Federal do Pampa campus Itaqui e provável formanda do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia; desde o terceiro semestre da minha graduação sou integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) e, recentemente, faço parte do Grupo de Estudos HeForShe. Porém, antes mesmo de adentrar no espaço universitário, já me reconhecia como feminista e militante da luta antirracista e, esses dois fatos, tornaram-se minha linha de pesquisa no decorrer da minha graduação, resultando em duas recentes produções acadêmicas, as quais me proporcionaram participar de alguns eventos, dentro e fora do espaço universitário, de modo a contribuir com meu conhecimento (ainda em construção) sobre essas temáticas.

Em outubro de 2019, o resumo do meu trabalho intitulado A Dominação e a Erotização do Corpo da Mulher Negra: a luta contra a discriminação no espaço universitário, foi aprovado para apresentação no II Congresso Internacional Humanidades nas Fronteiras: controvérsias contemporâneas realizado nos dias 09, 10 e 11 de outubro de 2019, em Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil. Esse trabalho é um recorte de uma pesquisa maior, o meu trabalho de conclusão de curso (TCC). Para a construção desse trabalho, em um primeiro momento, busquei por meio de uma densa pesquisa bibliográfica problematizar a inserção da mulher negra no espaço acadêmico, a qual acontece com mais vigor e função da adoção das ações afirmativas nas Universidades públicas. Objetivou-se resgatar o processo histórico de dupla discriminação racial e de gênero, enfatizando a erotização do corpo da mulher negra e sua imagem como “objeto” desejável. Esta apresentação ocorreu no SIMPÓSIO 14 sobre o tema: Mulheres, femininos e vivências. É válido destacar que havia apenas a minha colega de curso, Graciéle Souza, que também participou do congresso, e eu Nitielle Dias, discentes de um curso interdisciplinar, o que fez despertar a atenção dos avaliadores e dos demais presentes na sala, pois o congresso estava sendo realizado por um programa de Pós-Graduação interdisciplinar.

Uma outra participação importante na minha trajetória acadêmica aconteceu em 20 de novembro de 2019, dia Nacional da Consciência Negra. Participei de um evento coordenado pela professora Rosane Queiroz, realizado no Colégio Estadual São Patrício da qual sou ex-aluna e onde sempre participei da caminhada do dia 20 de novembro,  coordenada pela professora Rosane; e ter voltado lá em novembro de 2019, não mais como aluna, mas sim de modo a contribuir com o meu conhecimento, através de uma sucinta apresentação da minha pesquisa, foi algo enriquecedor para a minha formação acadêmica e, principalmente, para a minha construção pessoal.

No dia 25 de novembro de 2019, realizei a defesa do meu Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado “Corporeidade e Erotização da mulher Negra nos Espaços Sociais: o caso da universidade”, o qual foi orientado pelo Prof. Dr. Paulo Silveira, também coordenador do Núcleo de Estudos Afro- Brasileiros e Indígenas do campus Itaqui. O percurso de minha pesquisa compreendeu um resgate histórico da era colonial no Brasil, quando a população negra foi submetida aos horrores da escravidão e, como consequência disso, o preconceito racial e a imagem de inferioridade do negro continuam presentes na nossa atualidade; com a implantação das ações afirmativas aumenta a presença das mulheres negras na Universidade, o que nos levou a problematizar a inserção da mulher negra no espaço acadêmico, partindo de suas percepções e vivências. Através de entrevistas por meio eletrônico com as estudantes Universitárias negras foi possível compreender como elas, em um ambiente sociocultural (a fronteira oeste gaúcha), marcado pelo machismo e preconceito racial, percebem a opressão contida na dualidade entre o corpo como elemento constitutivo da identidade do ser mulher e o corpo como instrumento de prazer. Destaco que, em um primeiro momento, tentei realizar a entrevista de forma presencial, porém não tive sucesso, podendo-se observar a dificuldade que se encontra no campus de Itaqui em realizar pesquisas e até mesmo de realizar uma roda de conversa envolvendo iniciativas de

desconstrução de preconceitos e discriminações; destaca-se tratar de um espaço onde a ênfase está nas ciências agrárias, resultando em uma parcela significativa grande de público masculino. Considerando a análise do discurso das mulheres negras, percebeu-se uma consciência da presença da erotização nas relações de sociabilidade estabelecidas e revela-se a necessidade de constituir instrumentos por elas adotados para enfrentar a violência simbólica e desconstruir as relações de dominação.

Quer saber mais: acesse o artigo enviado ao II Congresso Internacional Humanidades nas Fronteiras: controvérsias contemporâneas no link http://eventosunioeste.unioeste.br/ndex.php/cihfcc-2019/cihfcc

ARQUIVO I e II: PARTICIPAÇÃO DO II CONGRESSO INTERNACIONAL HUMANIDADES NAS FRONTEIRAS: CONTROVÉRSIAS CONTEMPORÂNEAS

Arquivo I
Arquivo II
Arquivo II

ARQUIVO III e IV: APRESENTAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Arquivo III
Arquivo III
Arquivo IV
Arquivo IV

ARQUIVO V e VI: PARTICIPAÇÃO DO EVENTO REALIZADO NO COLÉGIO ESTADUAL SÃO PATRÍCIO NO DIA 20 DE NOVEMBRO- DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Arquivo V
Arquivo V
Arquivo VI
Arquivo VI

As mulheres são as mais atingidas pela situação de isolamento social

O coronavírus chegou de repente fazendo com que a vida dos brasileiros mudasse da água para o vinho do dia para a noite. Num estalar de dedos um povo conhecido por ser afetuoso, de gostar de confraternizar, estar junto, beijar e abraçar quem ama se viu obrigado a se distanciar e viver num espaço desconhecido, chamado de isolamento social.

Todo o mundo, inclusive os brasileiros, teve a vida virada de ponta cabeça. A rotina foi desorganizada, as pessoas estão angustiadas, nervosas, ansiosas em razão reclusão imposta afinal, para prevenir à disseminação da COVID-19 devemos ficar em casa, lugar em que estamos seguros, protegidos.

As mulheres são as que mais estão sofrendo as consequências da nova vida. Afinal, sempre é delas a obrigação de manter o bom funcionamento da casa e dos filhos. Elas têm que dar um jeito para que tudo transcorra bem. Mas, esse é “apenas” um dos problemas enfrentado durante a quarentena pelas mulheres. Para muitas, o fardo da rotina doméstica sobrecarregada e os temores causados pelo vírus desconhecido não são o único problema a ser enfrentado dentro de suas casas.

O lar não é o ambiente seguro para todas, especialmente para quem sofre de violência doméstica. Nem todas as casas são lares. Nem todas as casas são o lugar que oferece segurança e tranquilidade. Nem todas as casas são recheadas de amor, acolhimento, risos.

A violência contra a mulher ocorre dentro desse espaço que deveria ser de proteção, mas que, nessas situações é lugar de medo, angústia e sofrimento.

A mídia vem divulgando dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da ONU Mulheres. Os números de casos de violência e de feminicídio não param de crescer, em todo o mundo, após o início do isolamento social. Se os números oficiais mostram um aumento temos que ficar ainda mais alertas já que outros tantos casos sequer chegam à delegacia. Ou seja, temos mais vítimas do que as apontadas nas estatísticas.

O fenômeno é grave e a tendência é que se a sociedade se mantiver inerte o contexto se torne ainda mais intenso. Durante a quarentena as mulheres que vivem em situação de violência se tornam ainda mais vulneráveis.

Podemos identificar alguns motivos para crescimento dos números durante a quarentena, dentre os quais destaco a convivência ampliada entre vítima e agressor, já que ambos receberam a orientação de ficar em casa “na proteção de suas residências”.

A segunda causa de aumento da violência é a dificuldade de pedir ajuda. Durante a quarentena essa dificuldade, que já existe em períodos de normalidade, é agravada. A mulher está trancada em casa, literalmente dormindo com o inimigo, sem receber visitas, sem conviver com os vizinhos, sem poder dizer que vai ao mercado da esquina e ir buscar ajuda na delegacia, no Judiciário ou em qualquer lugar. Ela não pode sair! Ela está presa! Presa com seu algoz!

Um terceiro motivo, para o aumento das estatísticas, que reitero, não ilustra o verdadeiro número de vítimas já que temos muitos casos que não são registrados, surge da ampliação do sentimento de poder do agressor, ampliado em decorrência do isolamento da mulher. Ele não precisa mais cuidar para bater onde a roupa esconde ou na altura do corpo que alcança a quina de uma mesa ou armário. Ele se sente impune, inalcançável, tem a certeza que ninguém ficará sabendo o que acontece dentro da sua casa.

Sobre o coronavírus temos poucas certezas. A primeira é que o vírus já demonstrou sua capacidade danosa à saúde e à vida. A segunda é que ninguém sabe quando a vida voltará ao normal, quando poderemos voltar a exercer nosso direito de ir e vir de forma segura, sem causar risco à integridade física de ninguém.

Mas, se formos esperar a retomada da “vida normal” a violência doméstica continuará fazendo mais vítimas que o novo vírus. E, temos na nossa mão a possibilidade de reduzir o número de vítimas sendo a voz dessas mulheres. Já passou da hora de todos, homens e mulheres, meter a colher em briga de marido e mulher. Apenas no momento em que a sociedade comprar, como sua, a luta contra a violência doméstica começaremos a ver os números reduzirem.

Então, vamos manter nossos olhos e ouvidos em alerta. Se ouvirmos barulho suspeito na casa ao lado denuncie, ligue para o 180, não vamos deixar que mais vidas sejam levadas por uma violência que, ao contrário do coronavírus, não é nova, nem desconhecida. Essas mortes nós podemos evitar!

Projeto de pesquisa estuda a representação de mulheres em propagandas de cerveja

O projeto de pesquisa Construção e (re)construção da imagem da mulher em propagandas de cerveja (Ensino e Extensão da UNIPAMPA 20200309223641) estuda o sexismo na publicidade por meio da análise de antigas e novas representações do sexo feminino nas campanhas publicitárias de cerveja.

Na última década, os anúncios publicitários de cervejas brasileiras têm passado por uma tentativa de transformação dos elementos que o compõem (as imagens visuais e os textos). Afastando-se de jargões com slogans cheios de trocadilhos contendo conotação sexual e a associação entre mulheres consideradas “símbolos sexuais” pela mídia.

Até por volta de 2015, havia conteúdos que poderiam ser considerados impróprios nas campanhas publicitárias, e muitas delas foram barradas pelo Conselho Nacional de Autorregulação publicitária (CONAR) e retiradas de circulação. Independente da marca quase sempre seguia-se um mesmo padrão: uma mulher considerada atraente quer serve cerveja a homens.

Após o engajamento nas redes sociais e críticas vindas principalmente de vertentes do movimento feminista e algumas de políticas públicas; foram adotadas leis proibindo a hipersexualização de mulheres nas propagandas. Algumas marcas bem conhecidas começaram a rever seus discursos, e algumas ações foram tomadas, como a marca com o slogan “desce redondo” que causou polêmica e foi acusada de apologia ao estupro após usar o slogan “deixei o não em casa”. No ano seguinte, mudou sua frase de campanha para “redondo é sair do seu quadrado”, remetendo a uma reflexão sobre comportamentos considerados “quadrados” e preconceituosos, lançou também uma campanha em que ilustradoras mulheres foram convidadas para refazer antigos cartazes de caráter sexista da marca, dessa maneira, mantendo a identidade do slogan que consagrou a marca, mas remodelando o discurso e abrangendo um público-alvo mais amplo, em que as mulheres são consideradas também consumidoras, em potencial, do produto.

Atualmente, ainda há presença de sexismo nas campanhas publicitárias de cerveja, entretanto, em menor número devido a um engajamento muito maior dos órgão de controle.

Leia mais em: 

A imagem da mulher na publicidade da cerveja Skol (Link: https://www.faac.unesp.br/Home/Departamentos/ComunicacaoSocial/midiacidada/p1-3.pdf)

OPÇÃO DE MÍDIA DA POPULAÇÃO DE ITAQUI PARA INFORMAÇÕES SOBRE A COVID-19

GPISC
(Felipe B. Ethur, Bruna Z. dos Santos, Dieison M. da Silva, Kalita M. L. Fresingheli, Kellen da R. Carlosso, Letícia da R. Nunes, Taináh Espinosa, Thalles F. de Fagundes, Luciana Z. Ethur).

O grupo de pesquisa sobre impacto social do coronavírus – Covid-19 (GPISC), do Campus Itaqui da UNIPAMPA, apresenta informações e análises iniciais sobre parte da pesquisa realizada por meio das redes sociais.

Pesquisa nacional realizada pelo Instituto Datafolha (MARQUES, 2020) apontou que emissoras de televisão e jornais lideravam índice de confiança em informações sobre coronavírus. Motivado em saber se essa informação era condizente com a realidade da população de Itaqui – RS, o GPISC, do Campus Itaqui da UNIPAMPA, incluiu em seu questionário, aplicado por meio de redes sociais, duas perguntas relacionadas: “A respeito do coronavírus (Covid-19), você costuma se informar principalmente através de … (opções)?” e “Você pensa que as notícias sobre o coronavírus (Covid-19) são … (opções)?”.

O total obtido de respostas procedentes de residentes em Itaqui foi de 365. Para a primeira pergunta, obtiveram-se as respostas da Tabela 1.

Tabela 1- “A respeito do coronavírus (Covid-19), você costuma se informar principalmente através de …”

Fonte Número Percentual
Canais de Televisão 181 49,59%
Sites da  Internet 116 31,78%
Redes Sociais 53 14,52%
Emissora de Rádio 13 3,56%
Jornais e Revistas impressos 2 0,55%
Total 356 100%

 

A preponderância da televisão foi notável, por atingir praticamente metade da amostra de Itaqui, fato condizente com a pesquisa nacional. Sobre esse assunto, a matéria “Professores analisam pesquisa Datafolha sobre confiança na imprensa convencional” (UFJF NOTÍCIAS, 2020) relata: “segundo uma das opiniões, essa confiança se mostra mais abrangente porque foi tecida ao longo dos últimos 70 anos; é um pacto de confiança que tem sido fortalecido…; não é só falar, é falar e escutar as pessoas; a pandemia mostra o jornalismo como lugar de referência; a especialidade do jornalismo é saber identificar onde está a melhor informação, mais precisa e correta, e trabalhá-la de modo a torná-la mais acessível para um grande número de pessoas”. Ainda segundo a matéria, em outra avaliação: “no caso da TV há uma variável interveniente que é a sua quase universalização no Brasil; não há nenhum outro meio de comunicação com o nível de alcance em quase totalidade dos lares brasileiros”. Na mesma perspectiva, Salgueiro (2020) relata que: “Theodor Adorno (filósofo e sociólogo alemão), nos anos 1960, no artigo ‘Televisão e formação’, sinalizava: ‘existe uma espécie de função formativa ou deformativa operada pela televisão como tal em relação à consciência das pessoas, conforme somos levados a supor a partir da enorme quantidade de espectadores e da enorme quantidade de tempo gasto vendo e ouvindo televisão’ “. Tais citações confirmam a enorme influência da televisão e seu papel sobre a consciência dos cidadãos através do tempo.

Com relação aos jornais, estão diluídos em duas opções: a impressa, que apresentou mínima popularidade; e a diluída em sites. Os sites, que abrangem jornais, portais, blogs, universidades, instituições variadas, institutos e outros, constituíram o segundo maior grau de referência para a população itaquiense.

Chama a atenção que os respondentes, mesmo sendo usuários de redes sociais, não apontaram como fonte principal de informações essas redes. Somente 14,52% afirmou se referenciar nelas. Isso é coerente com o resultado da pesquisa nacional do Instituto Datafolha (MARQUES, 2020), na qual consta que: “Em posição oposta à imprensa profissional estão os conteúdos que vêm de WhatsApp e Facebook. Nas duas plataformas, apenas 12% dizem confiar em informações sobre o coronavírus”.

Sabe-se que em Itaqui, cidade de 38.000 habitantes, grande parte da população tem por hábito ouvir emissoras locais de rádio. No entanto, possivelmente por tratar-se aqui de um tema de relevância mundial, com cenários de situações em diferentes países, a televisão tenha adquirido seu maior status, seguida de sites da internet.

 Com relação à segunda pergunta (sobre fidedignidade das informações), os residentes em Itaqui manifestaram-se da seguinte forma.

Tabela 2- “Você pensa que as notícias sobre o coronavírus (Covid-19) são…”

Natureza das notícias Número Percentual
Reais, verdade 287 78,63%
Alarmistas, exageradas 60 16,44%
Mal-intencionadas 18 4,93%
Falsas 0 0
Total 365 100%

 

A população itaquiense demonstrou forte confiança na veracidade das notícias e informações que recebe sobre coronavírus dos meios de comunicação, na medida em que somente 21,37% considerou tais notícias alarmistas, exageradas ou mesmo mal-intencionadas. Embora com esse percentual crítico ao “teor” das informações, ninguém, entretanto, apontou-as como falsas.

Esses são resultados e análises iniciais de parte da pesquisa que teve por metodologia a aplicação de um questionário por meio de redes sociais. O conjunto de dados visa realizar um diagnóstico da percepção social da população itaquiense sobre o coronavírus, bem como da sua realidade e condições de vida nesta época crítica da pandemia em nível mundial.

Referências:

MARQUES, J. TVs e jornais lideram índice de confiança em informações sobre coronavírus, diz Datafolha. Jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 23 de mar. 2020. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/tvs-e-jornais-lideram-indice-de-confianca-em-informacoes-sobre-coronavirus-diz-datafolha.shtml>. Acesso em: 15 abr. 2020.
SALGUEIRO, W. Nova canção do exílio, de Luis Fernando Verissimo. Resenha. Revista Rascunho: o jornal de literatura do Brasil, n. 238, p. 18, fev. 2020.
UFJF NOTÍCIAS. Professores analisam pesquisa Datafolha sobre confiança na imprensa convencional. Juiz de Fora – MG, 24 mar. 2020. Disponível em: <https://www2.ufjf.br/noticias/2020/03/24/professores-analisam-pesquisa-datafolha-
sobre-confianca-na-imprensa-convencional>. Acesso em: 15 abr. 2020.

Um Olhar sobre a Saúde Mental em Tempos de Pandemia Sérgio Arthur de Castro Junior

Enfermeiro da Rede Municipal de Saúde de Uruguaiana, Integrante do Programa de Saúde Mental, Especialista em Saúde Coletiva pela UNIPAMPA.

O ano de 2020 nos apresenta um desafio enquanto sociedade, o qual dificilmente seria imaginado fora de filmes, séries ficcionais ou documentários históricos: uma pandemia.

A pandemia de COVID-19 sem sombra de dúvidas será um paradigma de nossa geração sob os mais diversos aspectos sanitários, sociais, culturais, nossa relação com nós mesmos e com o próximo; após este momento histórico mudanças significativas devem ocorrer.

O isolamento social que nos é imposto como medida mais eficiente e com mais respaldo acadêmico até o momento no enfrentamento do COVID-19, pode tanto ser um período de redescobertas e ressignificados nas relações sociais, como um período de angústias e ansiedade acentuados.

Não é difícil em nossos dias o acesso em tempo integral à notícias do mundo todo, trazendo dados catastróficos relacionadas à infestação do Coronavírus pelo mundo. Países como Itália, Espanha, EUA e, mais próximo de nós, o Equador, nos mostram quadros desoladores do quão a pandemia pode ser implacável e, isso naturalmente gera medos, receios, angústias e ansiedades diante disso.

A velocidade com a qual a pandemia progride e assume protagonismo nos noticiários e em nosso cotidiano nos fazem sentir como uma das pinturas de O Grito de Edvard Munch 1 , ainda mais tendo de tomar medidas tão restritivas para nos proteger, medidas às quais não estamos acostumados. E este contexto pode ter consequências na saúde mental.

A ansiedade passa a ser a maior preocupação de saúde mental diante do isolamento social. As restrições de atividades antes corriqueiras como atividades laborais, práticas de atividades físicas e convívios em espaços públicos agora restringidos, as atividades de home office, individualmente ou em conjunto podem ser gatilhos para ansiedade. As inseguranças econômicas, afetando diretamente na manutenção de emprego e renda dos brasileiros da mesma forma, sendo de suma importância estarmos atentos à isso. As demandas aos serviços de saúde com quadros de sofrimento psíquico podem agravar. Portanto, é importante estar atento à isto.

Reconhecer os sintomas como irritabilidade, sensação de angústia ou tensão constantes, sentir seu coração acelerado e uma sensação de perda de controle à ponto de atrapalhar suas atividades rotineiras, distinguirão uma ansiedade natural do ser humano e inevitável em tempos tão inóspitos, de um quadro de ansiedade migrando para a psicopatologia.

É importante nesses casos exacerbados procurar o serviço de saúde para acolhimento e diagnóstico dos profissionais, permitindo os encaminhamentos cabíveis a cada situação; existem serviços na atenção básica e especializados em saúde mental para dar conta destes quadros, sendo muito importante que os mesmos não sejam subestimados em sua importância, pois não recorrer a profissionais habilitados pode levar ao agravamento destas situações de ansiedade; é comum incorrer em quadros de pânico ou quadros depressivos mais graves.

E, o mais importante: além de todos os cuidados que a pandemia nos demanda, dar atenção à sua saúde mental, respeitar-se, caso sinta-se bombardeado com notícias sobre covid-19, procurar outras alternativas de distração possíveis para além da televisão e mídias sociais; recomenda-se que não se tenha vergonha de conversar sobre suas ansiedades, medos ou receios em relação ao cenário atual, se auto-preservando e compreendendo que a situação é passageira e que ultrapassaremos a pandemia mais fortes e conscientes do mundo em que vivemos e para onde podemos levar depois disso.

A ESTIAGEM NO RIO GRANDE DO SUL EM IMAGENS

Sidnei Luís Bohn Gass
Prof. Dr. do Campus Itaqui da UNIPAMPA, coordenador do projeto SIGPampa – sidneigass@unipampa.edu.br

Na primavera-verão 2019-2020, o Rio Grande do Sul tem passado por um novo período de estiagem. Para demonstrar a possibilidade do auxílio da ciência na interpretação deste fenômeno, em especial através das técnicas da cartografia e do sensoriamento remoto, apresentamos algumas imagens para compreender a dimensão do fenômeno em questão.

Em consulta ao Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres (MDR, 2020) do Ministério do Desenvolvimento Regional, foi possível verificar que no dia 29 de março, dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, 93 estavam com decreto de situação de emergência ativo em função da estiagem. No dia 17 de abril, este número já havia evoluído para 173 municípios, como demonstrado pelo mapa da figura 1.

Nas imagens de satélite da figura 2, são apresentados três cenários da região de Itaqui, RS, para compreender o que representa a estiagem, mas, também, as enchentes que vem ocorrendo de forma recorrente nos últimos anos. A imagem (A) pode ser considerada como sendo uma representação da condição hidrológica normal, visto que Azevedo (2019) analisou os dados da estação de monitoramento da Agência Nacional de Águas, instalada no porto de Itaqui (ANA, 2020), identificando o comportamento do rio Uruguai no período anterior e posterior à data da imagem, como demonstra o gráfico da figura 3, no qual é também indicada a data da imagem de satélite utilizada. A autora realizou a mesma análise para identificar a data em que, no evento extremo de inundação do ano de 2017, representado pela imagem (B) da figura 2, o rio Uruguai esteve em seu nível mais elevado, para mapear a área efetivamente inundada no município de Itaqui, RS, no referido evento. A partir desta análise, representada pelo gráfico da figura 4, verificou-se que o maior nível foi registrado no dia 12/06/2017, havendo disponível uma imagem de satélite para o dia 11/06/2017, representando, portanto, uma pequena diferença entre o nível registrado e o nível mapeado.

Considerando a atual situação de estiagem, realizou-se uma nova análise dos dados da mesma estação da Agência Nacional de Águas, para o período de 22/12/2019 à 17/04/2020, conforme demonstra o gráfico da figura 5. A imagem mais recente disponível nas bases de dados é do dia 22/03/2020, como pode ser observado na imagem (C) da figura 2.
Ao comparar as três imagens de satélite, alguns elementos podem ser destacados, em especial, àqueles vinculados à estiagem:

(i) percebe-se, no rio Uruguai, a visibilidade de uma ilha, na porção nordeste, que não está visível nas outras datas;
(ii) os leitos do arroio Cambaí e do rio Aguapey, à oeste de Alvear, estão sensivelmente reduzidos, provavelmente, mantendo-se dentro do seu leito menor;
(iii) alguns reservatórios estão totalmente sem água, se comparadas as imagens de 2016 e 2020;
(iv) na imagem (B), é possível verificar o grande potencial de inundação na região, visto que todas as manchas em azul e em preto representam água.

Para uma melhor visualização da estiagem, chamamos atenção para a imagem da figura 6. Esta imagem possui uma resolução espacial maior, permitindo a identificação de um maior conjunto de detalhes, como:

(i) nas duas margens do rio Uruguai, são perceptíveis linhas na cor marrom-avermelhado, que representam as margens do rio que, em condições normais, ficam submersas;
(ii) o mesmo fenômeno que ocorre nas margens do rio Uruguai, pode ser observado em suas ilhas, na porção oeste da imagem, nas quais é possível perceber, pelo baixo nível da água, os sedimentos depositados em seu entorno;
(iii) por se tratar de uma região plana, fator associado ao porte do rio Uruguai, o arroio Cambaí e o rio Aguapey, possuem pequenos meandros auxiliares e planícies de inundação que, em geral, contém certa quantidade de água, mas que, nesta imagem, estão secos;
(iv) na foz do rio Aguapey, percebe-se a diferença da coloração da sua água se comparada ao rio Uruguai. Este é um fenômeno típico de períodos de estiagem, nos quais a vazão dos rios é menor.

As fotografias da figura 7, representam um comparativo entre a paisagem que costumeiramente encontramos na região portuária de Itaqui, e a paisagem anteriormente comentada, com a possibilidade de visualização das margens do rio Uruguai, com suas formações basálticas e sedimentos depositados.

 

Figura 1 – Municípios com decreto de situação de emergência ativo
Figura 2 – Imagens de satélite da região de Itaqui, RS
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 3 – Dados da estação hidrometeorológica em 2016.
Fonte: Azevedo (2019). Em verde, a identificação da data da imagem de satélite utilizada.
Figura 4 – Dados da estação hidrometeorológica em 2017 Fonte: Azevedo (2019). Em verde, a identificação da data da imagem de satélite utilizada.
Figura 5 – Dados da estação hidrometeorológica em 2019-2020
Fonte: elaborado pelo autor. Em verde, a identificação da data da imagem de satélite utilizada.
Figura 6 – Imagem de satélite do dia 24/03/2020
Fonte: elaborado pelo autor.
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 7 – Fotografias da região portuária de Itaqui, RS

 

PROFUNDANDO O CONHECIMENTO NA TEMÁTICA

Para ampliar os conhecimentos referentes à temática aqui apresentada, sugerimos às seguintes leituras que versam sobre questões climáticas, análise de dados hidrometeorológicos e aplicações de sensoriamento remoto. Ressalta-se que todas as produções foram desenvolvidas por pesquisadores do Campus Itaqui da UNIPAMPA ou tiveram a sua participação como coautores.

DE VARGAS, R. R.; FREDDO, R.; GALAFASSI, C.; GASS, S. L. B.; RUSSINI, A.; BEDREGAL, B. Identifying Pixels Classified Uncertainties ckMeansImage Algorithm. In: MEDINA, M. J.; ACIEGO, O.; VERDEGAY, J. L.; PERFILIEVA, I.; BOUCHON-MEUNIER, B.; YAGER, R. R. (org.) Communications in Computer and Information Science. 1ed.: Springer International Publishing, 2018, v. III, p. 429-440. DOI http://dx.doi.org/10.1007/978-3-319-91479-4_36

FREDDO NETO, R. ; GALAFASSI, C. ; VARGAS, R. R. de ; GASS, S. L. B. ; RUSSINI, A. ; PALMEIRA, E. S. . Aplicação do algoritmo Fuzzy ckMeans Image para detecção de pixels não confiáveis no processo de segmentação de imagens. In: IV Workshop-escola de informática teórica, 2017, Santa Maria – RS. WEIT 2017. Santa Maria – RS: UFSM, 2017. p. 10-16. Disponível em http://weit2017.inf.ufsm.br/wp-content/uploads/2017/10/Versao_final.pdf

GASS, S. L. B. Enchente na fronteira oeste do Rio Grande do Sul em dezembro de 2015 : subsídios para uma agenda de pesquisa aplicada. Confins (Paris), v. 25, p. 10638, 2015. DOI http://dx.doi.org/10.4000/confins.10638

GASS, S. L. B.; GALAFASSI, C. ; VARGAS, R. R. de . Comparativo entre os algoritmos K-Means e ckMeans para mapeamento automatizado de uso do solo. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 2017, Santos, SP. Anais do XVIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. São José dos Campos: INPE, 2017. p. 6376-6382. Disponível em http://urlib.net/rep/8JMKD3MGP6W34M/3PSMCQ7?ibiurl.backgroundlanguage=pt-BR

SANCHES, F.; VERDUM, R.; FISCH, G.; GASS, S. L. B.; ROCHA, V. M. Extreme Rainfall Events in the Southwest of Rio Grande do Sul (Brazil) and Its Association with the Sandization Process. AMERICAN JOURNAL OF CLIMATE CHANGE, v. 08, p. 441-453, 2019. DOI http://dx.doi.org/10.4236/ajcc.2019.84024

REFERÊNCIAS

ANA. Estação hidrometeorológica 75900000. Agência Nacional de Águas. Disponível em http://saladesituacao.rs.gov.br/api/station/ana/sheet/75900000

AZEVEDO, M. N. de Determinação da área efetivamente inundada durante o evento extremo de 2017, no município de Itaqui, RS, através de técnicas de sensoriamento remoto. Itaqui, RS. Trabalho de conclusão de curso. Curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura. UNIPAMPA, 2019.

MDR. Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres. Disponível em https://s2id.mi.gov.br/paginas/index.xhtml

Pneumologista esclarece dúvidas sobre a COVID-19 na Câmara de Vereadores de Itaqui-RS

A médica Priscila Kanheski Moreira, pneumologista, esclarece dúvidas sobre a COVID-19 na Câmara de vereadores de Itaqui-RS.

Na manhã da última terça-feira, dia 07 de abril de 2020, a médica Priscila Kanheski Moreira, que faz parte do Comitê de Combate ao Coronavírus no município de Itaqui-RS, esteve na Câmara para esclarecer as dúvidas dos vereadores e da comunidade.

Uma questão importante, apontada pela pneumologista, é a circulação de pessoas que entram e saem do município. “Com relação a isso, barreiras sanitárias estão sendo montadas nas entradas da cidade e na rodoviária para abordar e orientar as pessoas”, diz a médica. Ela ainda não descartou a possibilidade do vírus já estar circulando na cidade, isso porque, segundo ela, o município tem grande dificuldade para realizar os testes e, na maioria das vezes, os infectados terão apenas leves sintomas e não precisarão de atendimento médico.

Outro ponto abordado foi o uso de máscaras pela população em geral. A médica disse que o uso de máscaras ajuda a não espalhar o vírus, ou seja, uma pessoa infectada deve usar máscara para evitar transmiti-lo. No entanto, a máscara se torna pouco eficaz na prevenção. A pneumologista citou ainda a situação da China, que além do uso de máscara, realizou a testagem na maioria da população; ela destacou também que o hábito de usar máscara ajudou o país estabilizar a situação.

Sobre o afastamento social, a médica alertou que o vírus inevitavelmente chegará a Itaqui e que o afastamento tem basicamente o objetivo de diminuir o contato, logo a transmissão e infecção. O objetivo desta política é o de evitar o aumento gradual de infectados para que o sistema de saúde do município não entre em colapso com a alta demanda.

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