CiênciAção – Observatório Interdisciplinar de Divulgação Científica e Cultural | Só mais um site Sites da Unipampa | Página: 8

Aluno Destaque – Alison Fernando Jeronymo Eduardo

por Alison Fernando Jeronymo Eduardo.

Olá, prezados e prezadas! Antes de tudo, gostaria de agradecer o espaço de poder contar um pouco minha história.

Quem sou eu? Ótima pergunta! O interessante é que definir a si mesmo, quem realmente sejamos, causa certa aflição; mas vou tentar me descrever… Sou Alison Fernando Jeronymo Eduardo, técnico em Gestão Comercial pelo Senac de Araraquara/SP. Sou natural do Estado de São Paulo, nascido em São Carlos, a cerca de 240 km da capital paulista. Atualmente, curso o Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia na UNIPAMPA Itaqui.

A minha trajetória na UNIPAMPA começou em fevereiro de 2018.  Lembro que no momento de fazer a reserva de matrícula para o SISU, nem sabia onde ficava Itaqui. Porém, a vontade de ingressar em um curso que me desse condições de escolher a minha área de formação após o ingresso na universidade, foi o que balizou minha vontade de viajar quase 1.600 km para estudar nesta instituição. Não imaginava que isso iria me proporcionar uma das maiores alegrias não só dá minha vida, mas também da minha família. Como costumo dizer para meus colegas e conhecidos, o sonho de um universitário não é só dele, mas também de toda sua família.

Ao longo dos anos na universidade, conheci pessoas que vêm me ajudando a me tornar um acadêmico atuante. Embora eu esteja me esforçado em todas as atividades que a universidade oferece, reconheço que é a vivência na universidade que oferece um mundo de possibilidades. Dentre elas, as relações, as pessoas que encontramos são fundamentais para nosso crescimento. No meu caso, entre tantas pessoas, os colegas Pedro Diani, Stella Pazetto, Renato Azevedo, Leonttine Zago, Victória Godinho e Amanda Martins são primordiais. Vale ressaltar que no ano de 2019, além de representante discente do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, tive a incrível experiência de fazer mobilidade acadêmica no curso de Ciências Humanas, no campus de São Borja.

Sou o idealizador AprovaBICT e participei da exposição do  ARBRA no teatro municipal de Itaqui, em  2019, com o quadro de sementes confeccionado pela equipe executora do Projeto de Extensão Universidade e Comunidade. Vale ressaltar que meu orientador de todas as horas é o professor Vinicius Piccin Dalbianco.

Resumo Simples
Resumo Simples
Resumo Expandido
Resumo Expandido
Trabalho Completo
Trabalho Completo

Tenho que dizer que faço parte de dois projetos de extensão: o “Programa De Formação Interdisciplinar” e “Universidade e Comunidade do Acesso à Permanência”. Também sou membro do projeto de ensino: “Grupo de Estudos em Formação Docente, Inovação Pedagógica e Interdisciplinaridade”.

Não posso terminar este breve relato sem agradecer a família GODINHO, família esta que hoje é a minha também. Sinto muito alegria e uma grande gratidão em ter conhecido vocês! O ano de 2019 vai ficar gravado em mim como o que conheci pessoas tão maravilhosas. Gostaria de, como um grande cavalheiro, citar o nome das damas que me receberam de braços abertos neste período da minha vida: Leia, Dona Ieda, Victoria a querida Vivi, a Valentina “cabecinha”. Muitoooo Obrigadoooooooooooo!!!

E para minha família, que está em São Carlos, eu digo: “Mãe, eu te amo!”. Quero lembrar de meu Pai, que me ensinou a plenitude da honestidade, e de minhas queridas irmãs, Jacqueline e Sheyla.

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Programa de extensão Programa C

por Aline Vieira de Mello e Amanda Meincke Melo.

 

O programa de extensão “Programa C – Comunidade, Computação, Cultura, Comunicação, Ciência, Cidadania, Criatividade, Colaboração”, registrado no campus de Alegrete da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), iniciou suas atividades em março de 2016 com o objetivo geral de resolver problemas locais com o apoio de tecnologias computacionais e o envolvimento da comunidade acadêmica e externa. Entre seus objetivos específicos estão “ampliar o espaço da sala de aula, organizando ambientes de aprendizagem significativos, interdisciplinares e interprofissionais” e “ampliar o domínio das ações de extensão na área da Computação, promovendo maior participação docente em práticas extensionistas e atendendo a demandas discentes por experiências em extensão”.

A equipe executora do Programa C é formada por discentes e docentes dos cursos Ciência da Computação e Engenharia de Software da UNIPAMPA, técnicos-administrativos em educação da UNIPAMPA e representantes da comunidade externa. Além da comunidade acadêmica, o programa tem como seu público-alvo estudantes e professores da educação básica, idosos, mulheres, escritores e leitores de obras literárias em Língua Portuguesa. Essa equipe tem promovido diversas ações que estão vinculadas a seis atividades: Gera!, Resolve!, Gurias na Computação, 5C, ComputAÇÃO, e Programa C + Educação Básica.

Na atividade Gera!, a comunidade é consultada para identificar os problemas locais que possam ser resolvidos através de tecnologias digitais. Nesse contexto, o componente curricular complementar de graduação Tecnologia em Contexto Social, ofertado pela Profa. Dra. Amanda Meincke Melo, no semestre 2020/1, aos discentes do campus de Alegrete, propõe aulas abertas e seminários, em que representantes de diferentes segmentos da comunidade foram convidados para apresentar problemas locais, que podem ser investigados pelos estudantes. Destacam-se o V Seminário Aberto de Tecnologia em Contexto Social: Cultura Indígena e Tecnologias Digitais e o VI Seminário Aberto de Tecnologia em Contexto Social: Questões de Gênero e Tecnologias Digitais.

Alguns dos problemas identificados são abordados e resolvidos na atividade Resolve!, considerando os interesses dos envolvidos e a viabilidade de solucioná-los. Essa atividade foi especialmente prejudicada pelo adiamento do início das aulas no semestre 2020/1. Espera-se que nos meses de outubro e novembro seja retomado o desenvolvimento do site ReUni, que tem como propósito reunir os eventos locais, ampliando o número de pessoas atingidas pelas ações artísticas e culturais realizadas no município de Alegrete/RS.

 A inserção da mulher na Computação é colocada em perspectiva por meio do projeto Gurias na Computação, que é vinculado ao Programa C e é um dos projetos parceiros do Programa Meninas Digitais da Sociedade Brasileira de Computação (SBC, 2020). Neste ano, em colaboração com o programa de extensão TRAMAS e com o Comitê de Gênero e Sexualidade do campus de Alegrete da UNIPAMPA, no dia 13 de julho, foi realizada a roda de conversa “ENIGMA: arte para tornar visível” com a equipe do projeto ENIGMA (UFRGS). Já no dia 15 de julho, o projeto Gurias na Computação participou do evento online para comemorar o aniversário de 10 anos do programa Meninas Digitais. Em agosto, o Gurias na Computação e o Meninas na Computação (Universidade Federal do Amapá – UNIFAP) iniciaram a ação “Mulheres na Computação de Norte ao Sul”, que tem como proposta promover uma série de lives centradas em mulheres, ciência e tecnologia. Atualmente, o Gurias na Computação é coordenado pela Profa. Me. Letícia Gindri.

A interação entre Computação e Cultura é abordada na atividade 5C. O projeto de extensão Motus – Movimento Literário Digital (MOTUS, 2020), vinculado ao Programa C, visa incentivar a produção de obras literárias e intensificar o interesse de estudantes e cidadãos pela literatura. Para atingir esses objetivos, o projeto organiza anualmente um concurso literário que seleciona contos e poemas para serem publicados na revista digital Motus. Esse concurso é construído em sua totalidade no formato digital, o que permitiu sua execução mesmo no cenário atual. Nesta edição, o concurso teve como tema “Olhar com os olhos do outro” e 195 obras foram recebidas para avaliação, sendo 178 obras de autores residentes no Brasil e 17 obras de autores residentes em outros 10 países: Alemanha, Angola, Canadá, Israel, Itália, Japão, Moçambique, Portugal, Suíça e Uruguai. O lançamento da revista digital Motus #4 ocorrerá em outubro.

Na atividade ComputAÇÃO, a área da Computação e as ações desenvolvidas pelo Programa C são divulgadas junto à comunidade. No dia 05 de julho, o projeto Motus foi o assunto da segunda live da ação “Coletivo Multicultural Online” promovida pelo Coletivo Multicultural de Alegrete em colaboração com o programa de extensão TRAMAS (COLETIVO, 2020). Nos meses de junho e julho, obras publicadas nas diferentes edições da revista Motus foram lidas para três edições da ação TRAMAS Literárias, estando disponíveis nas plataformas SoundCloud e Spotfy (TRAMAS, 2020). Adicionalmente, dois artigos (BORDIN, 2020; FINGER, 2020) produzidos no contexto do projeto Gurias na Computação foram publicados no Women in Information Technology – WIT 2020, evento do Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC).

A atividade Programa C + Educação Básica tem como propósito divulgar a Computação para estudantes da Educação Básica. Em razão da pandemia, neste ano, não foram realizadas ações vinculadas a essa atividade.

O isolamento social, provocado pela pandemia por COVID19, impôs um conjunto de desafios à realização da Extensão Universitária. Uma das soluções encontradas foi a realização de eventos de forma virtual, o que trouxe algumas vantagens, pois viabiliza a participação de pessoas residentes em locais diferentes daquele em que o evento é realizado e sua gravação pode ser disponibilizada para ser assistida a qualquer momento. Consequentemente, o potencial de pessoas atingidas por eventos virtuais aumentou significantemente.

Aline Vieira de Mello é coordenadora do programa e docente da UNIPAMPA, campus Alegrete. E-mail: alinemello@unipampa.edu.br.

Amanda Meincke Melo é co-coordenadora do programa e docente da UNIPAMPA, campus Alegrete. E-mail: amandamelo@unipampa.edu.br.

Para saber mais e acompanhar:

Programa C: https://www.facebook.com/PaginaProgramaC
Gurias na Computação: https://www.facebook.com/guriasnacomputacao
Motus – Movimento Literário Digital: https://www.facebook.com/MotusUnipampa

Referências Bibliográficas:

BORDIN, Andréa Sabedra; FINGER, Alice Fonseca; GINDRI, Letícia; DE MELLO, Aline Vieira. Tutoria das Gurias: Uma ação de acompanhamento de alunas ingressantes em cursos de Computação. In: WOMEN IN INFORMATION TECHNOLOGY (WIT), 14. , 2020. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, 2020. p. 129-138. 
COLETIVO Multicultural Online. Live 2: Motus – Movimento Literário Digital. Disponível em: https://www.facebook.com/100002437551909/videos/3192491550842065/?extid=IGYMvzakl9egfqyh. Acesso em: 20 set. 2020.
FINGER, Alice Fonseca; BORDIN, Andréa Sabedra; DE MELLO, Aline Vieira. Perfil das Egressas dos Cursos de Computação da UNIPAMPA: Uma Análise da Formação Acadêmica e da Atuação Profissional. In: WOMEN IN INFORMATION TECHNOLOGY (WIT), 14. , 2020, Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, 2020. p. 100-109.
MOTUS. Projeto de extensão Motus – Movimento Literário Digital. Disponível em: http://movimentoliterariodigital.atspace.cc/. Acesso em: 20 set. 2020.
SBC. Programa Meninas Digitais da Sociedade Brasileira de Computação. Disponível em: http://meninas.sbc.org.br/. Acesso em: 20 set. 2020.

TRAMAS Literárias. Ação do programa de extensão TRAMAS  Disponível em: https://open.spotify.com/show/16waabWc99A4L7SIv6Cx87.Acesso em: 20 set. 2020.

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DESPEDIDA – IDA – CAMINHADA – CHEGADA

por Pamela Piardi

 

1)
Tirei alguns dias para refletir,
Então, tive que chorar e rir,
A vida já não é mais a mesma,
Talvez eu não seja também.

Mas o que me faz pensar isso?
Cada dia que passa, eu aprendo,
Em todos, aprendi a não confiar,
Quem me ama, aprendi a amar.

Ontem eu aprendi algo importante,
Aprendi que sou única aos olhos do pai,
Que a opinião alheia não me define.
Hoje eu também aprendi algo,

Aprendi que a vida é bela,
Que é necessário estender a mão,
Enfim, aprendi amar com a razão.

2)
Hoje estamos afastados,
Conversas que eram diárias, hoje são mensais,
Abraços que eram seguidos, hoje não são mais,
Segredos que eram, não são mais compartilhados.

Será que você também percebeu?
Às vezes você me liga, mas é para não perder o costume,
Talvez tenha medo do futuro, mas já é hora de aceitar.

A vida passa, as pessoas também,
E lembre-se, um dia esse alguém vai embora,
E quando isso acontecer, você vai lembrar de mim
Mas aí será tarde, já estamos encaminhando o nosso fim.

3)

Lembro das últimas palavras dele!
Senti que nelas ele se apoiou.
Entendo que para ele seja difícil,
Será que da minha parte existe dor?

A vida sempre nos surpreende,
E no final, tudo vira uma lembrança!
Ambas as partes tentaram,
Nunca faltou esperança.

Não acredito em amor verdadeiro!
Mas, e se de repente?
Você é a pessoa certa, no momento errado.
Procure alguém que te compreende.

Não me espere! Eu te encontro lá na frente.
Aproveite sua vida!
Não seja tão ausente.

 

4)
Chegamos ao momento que eu mais temia,
Chegamos ao nosso fim.
Sei que onde quer que eu esteja, nunca irei te esquecer,
Mas as lembranças não serão tão frequentes.

Não irei apagar suas fotos da minha galeria,
Nem mesmo irei apagar você da minha mente,
Seria como sonhar com algo impossível.

Vou guardar você no meu coração,
Vou lembrar de tudo o que vivemos,
Vou continuar escrevendo para você,
Mesmo sem perceber.

Um dia vamos nos reencontrar e rir desta situação,
A mesma que hoje nos faz chorar.
Fique bem. Cuide-se. Ame com moderação.
E lembre-se: no amor, nunca perca a razão.

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Apresentação da 7ª edição

O CiênciAção: Observatório Interdisciplinar de Divulgação Científica e Cultural apresenta sua 7ª edição. A seção Observatório divulga o curso de Especialização em Ciências Exatas e Tecnologia do Curso de Matemática da UNIPAMPA e, também, as ações do Programa de extensão TRAMAS, coordenado por Amanda Meincke Melo (UNIPAMPA Alegrete). Esse programa tem como objetivo geral promover o respeito à multiplicidade das diferenças. A propósito, a seção Reportagem traz o texto É certo “falar errado”? que trata da diversidade linguística brasileira e nos apresenta os mitos que causam tanto preconceito com respeito às variações existentes. O texto foi escrito por Cristina dos Santos Lovato (UNIPAMPA Itaqui) e Mariane Larissa de Lima Borges (acadêmica de Letras EaD da UNIPAMPA/UAB, polo Itaqui/RS).

A seção Convite a Leituras traz o convite de Walker Douglas Pincerati (UNIPAMPA Jaguarão) à leitura d’O Brado do Ipiranga, de Cecília de Salles e Cláudia de Mattos, livro que faz – digamos – um elogio à célebre representação do dia 07 de setembro: a tela Independência ou Morte! (1988) pintada por Pedro Américo. A seção Artes e Culturas traz Um olhar sobre a Gastronomia Gaúcha: do Passado Missioneiro ao Presente, em comemoração ao 20 de setembro, escrito por Vilson Flores dos Santos (MOVER/UFSC) e Paulo Roberto C. da Silveira (UNIPAMPA Itaqui). Em Blog e Colunista nossa colaboradora externa, Mariane Contursi Piffero, escreve sobre A voz como instrumento de efetivação dos direitos das mulheres. Também, nessa seção, Eduardo L. Hettwer Giehl, biólogo e pesquisador do Laboratório de Ecologia e Diversidade da UFSC, fala e nos constringe a muito pensar sobre 2020: O ano do fogo no alagado e outras desgraças. Tema atualíssimo porque trata das queimadas na Amazônia e no Pantanal.

O Professor Nota 10 da vez é Nelson Mario Victoria Bariani, eleito pelos e pelas discentes. Ele conta sobre sua trajetória inspiradora, de seus medos e vitórias. Em Meu Trabalho Nota 10, há a contribuição de Gabriel Vicente de Oliveira, acadêmico do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, que aborda as “revoluções tecnológicas” na economia global em A Nova Globalização na Nova Economia: Qual o Futuro do Dinheiro?, cujo título já diz a que veio.

A seção Artigo de Opinião traz o texto Limite da despesa com Pessoal, conforme a Lei 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) do município de Itaqui, escrito por Márcio Campos (UNIPAMPA Itaqui) e Ronaldo Bernardino Colvero (UNIPAMPA São Borja). Por fim, na seção Alun@ destaque apresentamos Luciéle Pacheco Rodrigues, acadêmica do curso de Nutrição da UNIPAMPA Itaqui, que diz algumas palavras sobre sua experiência no NEABI do campus.

A equipe do CiênciAção deseja uma excelente leitura a tod@s!

Por Cristina dos Santos Lovato e Walker Douglas Pincerati.

 

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Versão completa da 7ª. Edição em *.pdf: clique aqui.

2020: o ano do fogo no alagado e outras desgraças

por Eduardo Luís Hettwer Giehl

Há poucos meses li uma reportagem de dezembro de 2019. No título, um astrólogo prometeu que 2020 seria um ano leve. Chegou 2020 e me parece impossível ele ter errado tão rude e tão feio. Ou 2020 está sendo pesado, ou estamos em uma escalada ao pico do monte Everest? Pandemia, fogo para tudo quanto que é lado, ciclone-bomba e até nuvens gigantes de gafanhotos rondando nossos queridos pampas e plantações. Várias coisas que não acontecem toda hora, acontecem agora ao mesmo tempo. Embora o ano dê muito assunto, vou escrever aqui um pouco sobre a “enxurrada de incêndios” e depois vou tratar um pouco sobre de onde vem o balanço que estamos sentido nas bases durante esses dias estranhos que vivemos.

Fogo é tudo igual?

As notícias recentes sobre muitos novos focos de incêndio na Amazônia e no Pantanal são de arrepiar. É muito intrigante ver os dois lugares queimando. A Floresta Amazônica é sempre mostrada com seus rios gigantes e uma floresta úmida, onde chove muito. O Pantanal então, de acordo com o próprio nome, é um grande pântano ou alagado. Claro que nos dois casos a abundância de água tende a ser um pouco menor no inverno, mas ficarem tão secos a ponto de pegar fogo e virarem incêndios incontroláveis é outra história.

O fogo da Amazônia é diferente do fogo do Pantanal, e ambos são diferentes do fogo em outros sistemas – isso pode ser que seja o caso também dos campos de altitude aqui do sul do Brasil, em meu laboratório estamos começando a estudar isso –. No Cerrado, algumas espécies de grama se adaptaram ao fogo. Isso se deu a tal ponto que, durante o inverno, quando é seco, essas gramas são como pólvora: pegam fogo com facilidade e queimam as plantas que ficam acima do solo. Os incêndios acontecem há milhares ou milhões de anos, e, por isso, muitas árvores desenvolveram cascas bem grossas que as protegem do fogo. E o que acontece embaixo do solo é também bem diferente: lá ficam protegidas partes das plantas que não queimam e que garantem um rápido rebrote. No Cerrado, até mesmo os animais também podem estar mais “preparados”, prontos para correr e buscar abrigos quando o fogo chega, e em grande parte parece um “fogo de palha“: queima rápido, mas logo apaga.

Por essas adaptações em plantas e em animais, o Cerrado e alguns outros lugares do mundo são sistemas que queimam com maior facilidade e se recuperam rápido. No entanto, quando o fogo não é parte do sistema, como o que está acontecendo na Amazônia e no Pantanal, o resultado é muito diferente. Quando o fogo não é o natural, é como uma peça que cai dentro de um motor: não se encaixa e atravanca o funcionamento o que causa uma quebra ou colapso do motor inteiro. Quando o fogo chega do jeito que está chegando à Amazônia ou ao Pantanal, onde quase não existem árvores com cascas grossas, plantas com partes protegidas abaixo do solo e prontas para rebrotar, ou animais

que sabem como e para onde fugir, o estrago é incalculável. E por lá, não é só fogo de palha. Quando florestas queimam, a lenha das grandes árvores tende a queimar por muito tempo, e o fogo fica muito mais quente. Por lá é comum que o fogo queime até dentro do solo. Isso mata sementes e animais do solo, que depois não estarão lá para que a floresta volte a crescer.

Logo, por três motivos fogo não é tudo igual. Primeiro, porque o que queima não é igual; segundo, porque o jeito que queima não é igual; e terceiro, porque a rapidez com que cada lugar se recupera não é igual. Por isso, o fogo na Amazônia e no Pantanal precisam ser controlados. O fogo é tão estranho quanto problemático por lá. E levará muito tempo para que os locais queimados se recuperarem.

O que eu, aqui no Sul do Brasil, tenho a ver com isso?

Certamente não foi nenhum de nós que acendeu o fósforo que pôs fogo na Austrália lá pelo início do ano. Dou quase 100% de certeza de que posso dizer o mesmo sobre os incêndios aqui no Brasil. Mas uma questão tem ficado cada vez mais clara: não riscar o fósforo não nos tira toda a culpa, assim como não estar vendo as labaredas pela janela não nos livra de consequências.

Nosso planeta é bem grande para morarmos, porém ainda é uma casa só. Todo mundo sabe bem o que acontece com uma fumaça que começa na cozinha, logo se espalha pela casa toda. Transportando essa ideia para o mundo que vivemos e por meio do que foi descoberto pelos cientistas, a Amazônia é fonte de boa parte das chuvas que caem aqui no sul do Brasil. Isso acontece porque existem milhões de árvores por lá, coletando água nos solos muito úmidos em boa parte do ano.

A água é transportada por dentro das árvores até suas folhas, de onde a maior parte é perdida para o ar, virando um monte de vapor d’água, que, depois, viram nuvens. É tão grande a quantidade de nuvens que se formam por lá que vão sendo empurradas por ventos em nossa direção. Sobra água para abastecer tudo ao longo do caminho, até chegar ao sudeste e sul do Brasil. É tanta água e tão estabelecidos esses caminhos que começaram a ser chamados de “rios voadores”. Quando cortamos ou queimamos as florestas da Amazônia para trocar árvores por lavouras ou pastagens, muito menos água é levada para o ar. Sem as árvores, a Amazônia não produz mais nuvens, os “rios voadores” secam; e logo as plantas de lavouras e hortas aqui no sul e sudeste ficarão murchas. É desse jeito que o prejuízo poderá chegar até nós, a alguns mil quilômetros de distância.

Mas podemos ser acusados de estar ajudando a segurar o fósforo? Nosso mundo está mudando de forma muito rápida, e a forma como aceitamos as mudanças sem fazer nada a respeito é, sim, uma forma de dividir a responsabilidade. Nos últimos anos, especialmente desde 1950, vivemos uma grande aceleração. Tudo está mais rápido de um ano para o outro. Mais pessoas, mais carros, mais lavouras, mais animais em criações, mais indústrias, mais cidades etc. Do outro lado, temos cada vez menos florestas, menos cerrado, menos pantanal, menos animais e menos plantas — fora animais e plantas que nos interessam –. Como resultado, vivemos num mundo muito diferente do mundo de antes de 1950. E junto com essas mudanças, um tanto fáceis de perceber, vem outras bem mais sorrateiras.

Por mais que seguido se escute alguém ou nós mesmos dizendo que cada ano está mais quente, nada é feito a respeito – parece que que nossa memória não é muito boa, não é? Por isso, é bem difícil ter certeza se de fato em 2010 ou 2000 era mais fresco. Ficamos na dúvida e podemos nos convencer de que está tudo bem e que nem mudou tanto assim. Mas os dados de temperatura que foram registrados ao longo desses anos apagam essas dúvidas. Cada ano está mais quente, em média. Isso não impede um dia, uma semana, ou até mês bem frio por ano e até mesmo neve de vez em quando. Tudo isso quer dizer que temos menos dias, menos semanas ou menos meses frios, menos geadas por ano e menos chance de ver neve a cada ano que passa. Ao nos deixarmos enganar pela memória falha e mensagens enganosas de que está tudo bem, estamos oferecendo outro fósforo para acender mais um foguinho.

Para piorar tudo, não está ficando só mais quente. Eu nasci num país que não tinha tornados, num país onde não era tão seco a ponto de um grande alagado pegar fogo, num país que não era tão seco a ponto das cataratas do Iguaçu não rugirem, onde nunca se tinha ouvido falar em ciclone-bomba ou nuvens de gafanhotos sobre os pampas. Esse país era o Brasil. E esse era o mundo logo ali atrás, das décadas de 1980, 1990, 2000. Ao que tudo indica, todo esse caos vem junto com os anos cada vez mais quentes. Esse caos todo é chamado de eventos climáticos extremos: secas mais longas, enxurradas mais fortes, tornados e ciclones-bomba são exemplos. Ouviremos falar cada vez mais disso e das tragédias que virão junto. Em especial porque as previsões de cientistas do mundo todo acertam tanto quanto seus alertas são ignorados: muito e demais.

O que podemos fazer?

A pergunta que resta sobre 2020 é então: foi tudo para contrariar nosso astrólogo desavisado, ou estamos mesmo no caminho errado? Não acho que o universo preste atenção e puna um astrólogo cujas previsões descabidas apareceram num jornal. Ainda mais que estamos pagando a conta juntos. Acredito é que estamos num caminho que não é dos melhores. Enquanto um jornal escreve todos os dias sobre horóscopos, será que escreve o suficiente sobre o mundo a nossa volta e sobre que está acontecendo com ele? Sim, recebemos também enxurradas de informações sobre o fogo na Amazônia e no Pantanal. E na Austrália? E na Califórnia? E na Sibéria? Sim, o mundo está queimando, já sabemos. Mas as ligações nisso tudo não são mostradas de forma clara. Ações para combater, ou melhor ainda, prevenir os problemas que enfrentamos em 2020 são mínimas ou sem sentido. Esforços em frear o desmatamento, diminuir o uso de petróleo ou frear o crescimento da população humana quase não existem. Parece que se resume tudo a se o PIB aumenta, seremos felizes? Sabe-se que o dinheiro circula até mais na tragédia, na desgraça e na guerra. Se aumentar o PIB é nossa única meta, estamos no caminho certo, e a desgraça virá encilhada. Se preferirmos um caminho menos doloroso, precisamos ouvir mais os cientistas e exigir que nossos governos façam o mesmo. E já que 2020 já não pode mais ser “leve”, que seja o ano do recomeço, e que das cinzas dele renasça algum caminho novo.

Eduardo Luís Hettwer Giehl é Professor Adjunto A do Departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina. Contato: eduardohet@gmail.com.

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O Brado do Ipiranga, de Cecília de Salles e Cláudia de Mattos (1999)

por Walker Douglas Pincerati

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da pátria nesse instante.

[…]

Hino Nacional; letra de Joaquim Osório Duque Estrada.

O Brado do Ipiranga, publicado em 1999 pela EdUSP, Imprensa Oficial e Museu Paulista (da USP), e organizado por Cecilia Helena de Salles e Claudia Valladão de Mattos, é uma edição fac-similar desta obra publicada em 1888 por Pedro Américo de Figueiredo e Mello. Traz artigos, discursos, esboços e cartas que possibilitam, como diz José Sebastião Witter, “o estudo da formação da memória da Independência e da compreensão dos significados históricos e estéticos daquela que se tornou a representação emblemática do episódio de 7 de setembro de 1822”: a tela Independência ou Morte!, pintada pelo próprio Pedro Américo (ver abaixo).

Basta que façamos uma rápida busca na Google.com com as expressões “7 de setembro + o grito do Ipiranga” que essa pintura aparece associada a vários textos. Famosa e constante em muitos livros didáticos, fixou-se como imagem do “instante” – referido no nosso hino (um dos 4 símbolos da República Federativa do Brasil, conforme estabelece o art. 13, § 1º, da Constituição do Brasil) – em que o “sol da liberdade brilhou no céu” da “Pátria amada, Brasil!”. Nesse instante, “as margens do Ipiranga ouviram o brando retumbante”, o apregoado grito de D. Pedro I, que, após ler decretos de D. João VI e a exigência deste que voltasse à Europa, desembainhara sua espada e bradara: “Independência ou Morte!”.

N’O Brado se desvenda o véu que recobre a tela e ilude nossos olhos. Isso porque, segundo o próprio Pedro Américo, “a realidade inspira, e não escraviza o pintor”. Enquanto pintor histórico (e acadêmico), sua função, diz ele no livro, é a de reproduzi “as faces essenciais do fato, sem esquecer totalmente as difíceis e severas lições da ciência do belo.” As cartas que o livro traz revelam uma rica discussão do processo de composição Convite a Leituras artística e das escolhas do pintor. Neste caso, mostram haver entre verdade histórica e função estética a construção de uma lenda: a de que o brado é de um povo heroico!

DEDE

Lenda, sim! Afinal, de um lado, nos faz crer que o grito bastou; e, de outro lado, nos faz esquecer a ausência de luta pela independência: na espada desembainhada não escorre o sangue das batalhas. Pelo contrário, o reconhecimento da independência por Portugal não se deu numa guerra senão política, porque ocorreu com a assinatura do Tratado de Paz e Amizade, datado de 29 de agosto de 1825; documento esse que foi costurado com intensa participação da Inglaterra e que rendeu uma boa indenização a Portugal (confira toda essa história clicando aqui, e para sabê-la com muito mais detalhes, clique aqui). Não há conquista, mas tão somente encenação: como se vê, num campo calmo um rompante majestoso.

Essa encenação, tal qual pintada por Pedro Américo e descrita por ele na quarta parte d’O Fato, o primeiro capítulo do livro, foi protagonizada por Tarcísio Meira, em 1972. Clique na imagem ao lado para ver o trecho do filme.

Seja como for, toda essa rica história pode nos dizer muito sobre a nossa história e, sobretudo, pode nos fazer refletir bastante sobre o que significa – em termos de ‘liberdade’, ‘independência’ e ‘soberania’ – o 7 de setembro.

Reprodução fotográfica da obra Independência ou Morte! (1888)

Fonte: Frazão (2018). Acesso em 10/10/2018

Walker Douglas Pincerati é professor no curso de Letras EaD da UNIPAMPA Jaguarão (2016-atual). Currículo Lattes: clique aqui. Contato: clique aqui. Página web: clique aqui.

Versão do texto em *.pdf:  clique aqui

Um olhar sobre a Gastronomia Gaúcha: do Passado Missioneiro ao Presente

por Vilson Flores dos Santos e Paulo Roberto C. da Silveira

Este texto é baseado na tese de autoria de Vilson Flores dos Santos apresentada ao Programa de Pós Graduação em Extensão Rural do Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria com o título “O surgimento da agropecuária missioneira no Rio Grande do Sul e as derivações gastronômicas”. para a obtenção do grau de Doutor em Extensão Rural, em dezembro de 2010.

Atualmente, existe uma crescente mobilidade de pessoas e produtos entre diferentes regiões em escala mundial, caracterizando um período de globalização econômica e social. A pandemia da COVID-19 intensifica essa sensação de integração, visualizando-se uma relativa uniformização planetária, a qual atinge hábitos e práticas que envolvem também a Gastronomia. Em reação a esse processo de uniformização, percebe-se a crescente valorização das culturas regionais, impactando nos estilos de consumo.

Logo, na gastronomia, observa-se uma tendência de disseminação de um estilo alimentar: o Fast Food caracterizado como uma alimentação rápida e marcada por ingredientes comuns a diferentes recantos do mundo. Por outro lado, verifica-se o resgate de uma culinária enraizada no saber tradicional e transmitida de geração a geração. Se o Fast Food padroniza gostos e práticas alimentares – alimentação fora de domicílio, utilização de pré-prontos e produtos ultra processados–, as gastronomias locais reforçam uma herança culturalmente difundida em determinada região.

Aqui, destacamos um saber gastronômico aquele que se ancora na história das Missões Jesuíticas do Sul do Brasil. Essa gastronomia que exprime sentimentos vividos e valores, formando uma das mais significativas e importantes manifestações do ponto de vista econômico e também cultural e fortemente enraizadas no universo do cotidiano dos atores sociais do lugar.

No caso do Rio Grande do Sul, costuma-se falar de uma culinária gaúcha; mas existem diferentes entendimentos do que se enquadra nesse conceito. Observa-se que a culinária gaúcha uma variante da miscigenação étnica: a gastronomia representa as distintas manifestações culturais existentes no hoje estado do Rio Grande do Sul. Há, nas autoridades governamentais do estado (Secretaria Agricultura, Pecuária e Agronegócio), uma forte corrente no sentido de não mais considerar somente os costumes alimentares do homem campeiro platino tais como: churrasco, carreteiro, o arroz de china pobre, pucheiro, quibebe, mandioca e batata-doce como os únicos representantes da culinária gaúcha. Aponta-se pela pertinência de uma política que incentive o setor quando possam ser resgatados e recriados pratos típicos de distintas regiões e patrimônios étnico-culturais, inclusive dos imigrantes europeus – que chegaram em um período posterior no território gaúcho – sejam alemães e italianos sejam poloneses e outros. Esse resgate plural, além de potencializar o turismo, valoriza a cultura, a agropecuária e a geração de novas fontes de renda e trabalho. Nesse sentido, defende-se como necessário a valorização da culinária trazidas por todas as etnias que compuseram a história do Rio Grande do Sul.

Entretanto, vale lembrar que estes pratos acima citados, embora possam não ser os únicos representantes de uma culinária gaúcha, devem ser considerados os propulsores dela, pois estão enraizados no processo alimentar diário da população Gaúcha. E, deve-se considerar que se originam em um período histórico em que ocorreu a ocupação do território gaúcho, quando foi adotada por os segmentos étnicos que aqui chegaram.

O processo de estabelecimento de Missões Jesuítico-Guarani, por exemplo, gerou um conjunto de conhecimentos oriundos da interação entre o saber dos europeus e dos nativos, os quais com o tempo foram se consolidando também em uma rica culinária, incorporando a contribuição dos descendentes de africanos e portugueses. Essas formas de preparo dos alimentos se desenvolvem como hábitos alimentares, em coerência com a característica específica do agroecossistema, a qual possibilita a disponibilidade de produtos de origem animal e vegetal para uso alimentar e como uma “medicina” popular.

Esses hábitos alimentares se transformaram em uma Gastro-nomia (em Grego nomos= lei e gastro= alimentação), compreendida como um ramo de conhecimento que abrange a culinária, as bebidas, os materiais usados na alimentação e, em geral, todos os aspectos culturais a ela associados. Desse modo, estabelecem-se normas de alimentação, envolvendo as técnicas de elaboração de pratos típicos da culinária gaúcha, os espaços sociais de convivência e eventos em que são servidos, partindo de ingredientes produzidos pela agricultura e pecuária nativa.

As manifestações gastronômicas típicas de uma culinária de origem missioneira estão fortemente relacionadas à agropecuária regional e têm alimentado no território denominado Missões, e na maioria do estado do Rio Grande do Sul, uma chama viva cultural e relações de afetividade, envolvendo danças e vestimentas, práticas sociais. Essas manifestações estão presentes em exposições, feiras, eventos do Movimento Tradicionalista Gaúcho, rodeios, festivais de música e gastronômicos, e outros eventos, sempre evidenciando esses costumes e hábitos adquiridos no passado nesta região das missões.

Deve-se salientar que através do tempo histórico-social estas manifestações estão se ressignificando, ou seja, sofrem transformações quanto aos hábitos de consumo e formas culinárias, porém permanece seu significado enraizado no patrimônio cultural. Esta tradição Gastronômica não se perde com o tempo, observando-se hoje um forte culto a estes hábitos nos jovens, ocasionando assim a sua continuidade. Deve-se lembrar um dos hábitos contemporâneos mais presentes no seio da população Gaúcha: o saborear do Chimarrão ou Mate remonta aos indígenas Guarani que viram na Erva-Mate – planta nativa na região das Missões – propriedades digestivas, sendo comum tomarem um chá com as folhas desta planta. Este hábito foi se transformando com a inclusão da Cuia – feita de porongo planta também conhecida dos nativos – e da Bomba –antes de Bambu e depois de metal –. O “tomar chimarrão” esteve associado aos hábitos dos tropeiros e carreteiros que podiam cruzar o estado e, inclusive, ultrapassar suas fronteiras, levando os equipamentos, a erva e a prática de sorve o “Mate” como auxílio digestivo diante do consumo elevado de carne.

Assim, como o Chimarrão, o churrasco como forma de consumir a carne e o arroz carreteiro – originalmente com charque e hoje também com carne picada – e o arroz de china pobre – com linguiça – também estiveram a uma necessidade de tropeiros e carreteiros em produzir um alimento rápido e na beira da estrada sem recursos técnicos característicos nas cozinhas das residências.

Como o passar do tempo, diante da urbanização da sociedade se verificou a manutenção desses hábitos em contextos onde são vistos como mediadores de sociabilidade. E atravessaram os anos e disseminaram-se para além das fronteiras gaúchas com as migrações de populações para outras regiões do Brasil. Tornando-se, inclusive, presentes em todas regiões brasileiras.

No Rio Grande do Sul é comum, atualmente, ver esses hábitos alimentares nas famílias gaúchas, sendo comum receber uma visita com churrasco, ou ainda aos finais de semana servir entre os familiares churrasco ou fazer um carreteiro de charque em encontros com amigos.

Desta forma, ao longo do tempo, foram sendo construídos e passado de geração em geração os hábitos e costumes desde as missões – raiz mais profunda desses costumes –, passando pelas estâncias e mais tarde, as fazendas e granjas; se transformando no culto de um passado de brutalidade para um presente cavalheiresco, no qual as figuras do regionalismo são cultuadas pelos seus feitos como integrantes de uma cultura que encerra práticas sociais que se perpetuam através do tempo.

Vilson Flores dos Santos é Doutor em Extensão Rural e pesquisador associado do Núcleo MOVER/UFSC;
Paulo Roberto C. da Silveira é Doutor pelo Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas e professor da UNIPAMPA, Campus Itaqui.

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Revisão de Cristina dos Santos Lovato.

É certo “falar errado”?

por Cristina dos Santos Lovato e Mariane Larrissa Debus

É notório que há modos de falar diferentes e sotaques distintos. Todavia, esses diferentes modos de falar não estão errados porque não há um único modo de utilizar a língua. Inclusive você já deve ter percebido que não escrevemos como falamos, que dependendo da situação adotamos um registro linguístico mais formal e que o modo de falar sulista é diferente do nortista. A Sociolinguística veio para mostrar que a língua é um organismo vivo, e que ela, a língua, vai variar conforme o espaço, o tempo, a história e o falante.

Segundo o linguista, filólogo e tradutor Marcos Bagno (2007b, p. 59), “a variação linguística é um tema muito interessante em si mesma”, é um fenômeno da linguagem capaz de explicar muitas coisas sobre a língua e os processos de mudança linguística”.

Se empreendermos uma grande viagem pelo Brasil, de Norte a Sul e de Leste a Oeste, recolhendo os modos de falar das pessoas de todas as regiões, de todos os estados, das principais cidades, da zona rural etc., vamos perceber que existem diferenças nesses modos falar (…). Há muita semelhança, também, mas são as diferenças que chamam mais a atenção e que permitem classificar esses variados modos de falar. Quando você consegue identificar os traços característicos de um determinado modo de falar a língua, você pode chamá-lo de variedade (grifo do autor). Se você, em vez de sair viajando pelo país, decidir estudar os modos de falar das pessoas de um mesmo lugar – uma grande cidade, por exemplo –, vai notar também que a variedade falada nesse lugar apresenta diferenças que correspondem às diferenças que existem entre pessoas: grau de escolaridade, situação socioeconômica, faixa etária, origem geográfica, etnia, sexo etc. (BAGNO, 2001, p. 41).

Esses fatores descritos acima representam quem o falante é, e, conforme destaca o linguista Louis Jean-Calvet, no livro Sociolinguística: uma introdução crítica “(…) as línguas não existem sem as pessoas que as falam, e a história de uma língua é a história de seus falantes” (p. 12). Linguagem e sociedade estão conectadas: a diversidade linguística é um fenômeno constitutivo da linguagem, e essa diversidade de modos de se expressar em uma língua é chamada de variação linguística. De acordo com o linguista Marcos Bagno, no livro O Preconceito Linguístico, essa diversidade linguística é estigmatizada.

O autor elenca oito mitos em relação à noção de língua:

  • Mito 01: “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”. Segundo o autor (2007a, p.15), no Brasil, a língua apresenta um elevado grau de diversidade e de variabilidade, as quais já estão sendo aceitas pelas instituições.
  • Mito 02: “Brasileiro não sabe português, só em Portugal se fala bem português”. O autor (2007a, p.20) explica que isso é um grande equívoco, falamos português, temos nossa língua própria e uma pronúncia única. Não há, de acordo com o autor, nem uma “raça pura” tão pouco haveria uma “língua pura” com um único e específico modo de falar.
  • Mito 03: “Português é muito difícil”. Bagno (2007a, p.35) esclarece que o Português é uma língua como qualquer outra, pois uma criança não tem sequer a ideia do que sejam as normas gramaticais; no entanto, aprende a falar. Todo o nativo de um determinado lugar ou país vai aprender a língua do seu povo ou país.
  • Mito 04: “As pessoas sem instrução falam tudo errado.” Conforme Bagno (2007a, p.40), isso é um mito porque não existe uma única língua portuguesa, então falar de outro modo não deve ser considerado errado, feio ou equivocado, temos como exemplo as palavras “Cráudia”, “chicrete”, “praça”, “pranta” etc. Logo, o autor indica que não há apenas o português padrão. Essas palavras sofrem alterações em função dos fatores extralinguísticos indicados anteriormente. O papel da educação é orientar os estudantes em relação a situações em que esses diferentes registros linguísticos são permitidos ou não.
  • Mito 05: “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão” Bagno (2007a, p.46) aponta que isso é um grande equívoco, pois esse aspecto é atribuído ao registro linguístico falado no Maranhão em função apenas do fato de que os maranhenses usam constantemente o pronome “tu” com a correta concordância verbal.
  • Mito 06: “O certo é falar assim porque se escreve assim”. Para Bagno (2007a, p.52), isso não é somente um preconceito como também um erro, visto que dependendo do lugar e da cultura, as pessoas se expressam pela fala de diferentes formas, por exemplo, o carioca fala de uma maneira; o paulista e o gaúcho, por exemplo, falam de outra.
  • Mito 07: “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”. Segundo Bagno (2007a, p.62), isso é um mito, pois, se fosse assim, todos os gramáticos seriam grandes escritores, porém não são. Grandes escritores como Rubem Braga e Carlos Drummond de Andrade dizem estar longe das normas gramaticais.
  • Mito 08: “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”. Para Bagno (2007a, p.69), isso é um mito, porquanto não é só a elite que sabe, via de regra, a norma culta. O autor exemplifica apontando que um grande fazendeiro – supostamente iletrado – não passou pelo processo formal de educação e poderá, mesmo assim, ter posses e recursos financeiros. Por outro lado, um professor de português, às vezes, nem sequer o salário recebe. Bagno ainda ressalta que não adianta saber a norma culta e não ter uma moradia digna. O autor salienta que o poder no Brasil está concentrado em indivíduos que não dominam a norma culta da gramática, todavia, são homens heterossexuais oriundos de oligarquias. E conclui o Mito 08 apontando que: “falar em língua é falar em política”.

Por fim, observa-se que é necessário desconstruir a visão errônea de que existe apenas uma língua ou somente a norma padrão ou a norma culta. Há diversos “portugueses brasileiros” e é, por isso, necessário conscientizar as pessoas sobre as diferenças na língua de modo que elas possam monitorar a fala de acordo com a situação. Ou seja, a pergunta não é: “é certo ou errado falar assim?” mas sim: “essa variedade é adequada a essa situação ou não?”.

Cristina dos Santos Lovato é Doutora em Letras, Estudos Linguísticos, e docente na UNIPAMPA, campus Itaqui. Email: cristinalovato@unipampa.edu.br.
Mariane Larrissa Debus é acadêmica do curso de Letras EaD da UNIPAMPA, oferta UAB, polo Itaqui/RS. E-mail: marianedebus.aluno@unipampa.edu.br.

Referências Bibliográficas
BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro?: um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola editorial, 2001.
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. 49ª ed., São Paulo Editora Loyola, 2007a.
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola editorial, 2007b.
CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola Editoria, 2002.

Quer saber mais sobre os autores citados no texto? Acesse Marcos Bagno e Louis-Jean Calvet.

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Edição de Walker Douglas Pincerati.

Aluna Destaque: Luciéle Pacheco Rodrigues

Olá, colegas! Meu nome é Luciéle Pacheco Rodrigues, sou estudante do curso de Nutrição da Universidade Federal do Pampa, campus Itaqui. Sou integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas, o NEABI, da UNIPAMPA Itaqui, desde 2017.

O coordenador do NEABI atualmente é o Prof. Dr. Paulo Roberto Cardoso da Silveira. O núcleo tem como um de seus objetivos problematizar temas que abordam as minorias ao buscar compreender as diferenças culturais existentes em nossa sociedade e combater o preconceito e a discriminação.

No ano de 2017, participei do 9° SIEPE – Salão Internacional de Ensino Pesquisa e Extensão –, na cidade de Santana do Livramento – RS, levando um dos trabalhos do NEABI intitulado A educação para a diversidade: interconectando conhecimento e vivências na cultura afro-brasileira, premiado como melhor trabalho na categoria Extensão – Melhor Pôster.

Enquanto integrante do NEABI sempre achei necessária a inserção e a maior participação da comunidade Itaquiense em projetos dentro da universidade, e como estudante sentia falta de atividades culturais dentro do campus. A partir dessa problemática, trouxemos propostas de atividades culturais e parcerias com instituições da cidade. Entendo que a partir dessas vivências que aprendemos a respeitar e entender o diferente.

Em atividades culinárias e de dança entre outras, conhecemos mais sobre a nossa cultura afro e nossa ancestralidade. Isso traz representatividade e acolhida para dentro do campus.

Convido tod@s colegas de campus para conhecer o NEABI e trazer suas problemáticas, pois é com o diálogo que vamos agregando conhecimento sem nunca deixar de lutar contra qualquer tipo de preconceito e discriminação.

Meu contato é lucielerodrigues.aluno@unipampa.edu.br

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Revisão de Cristina dos Santos Lovato e edição de Walker Douglas Pincerati.

A Nova Globalização na Nova Economia: Qual o Futuro do Dinheiro?

por Gabriel Vicente de Oliveira

Fonte: Industria 4.0. Gov.

Se analisarmos nosso dia-a-dia, podemos notar algo interessante: que estamos em estado de constantes mudanças, desde hábitos alimentares novos à escolha de um novo visual ou até mesmo a maneira de pensar. Porém, se conversarmos com nossos avós, mães e pais, ou algum parente que nasceu antes deste milênio, começamos a ter a noção de como as coisas mudaram rápido e que o mundo é um verdadeiro palco de mudanças;  algumas foram tão grandes e significativas que hoje as conhecemos como “revoluções”. Elas marcaram o último século de forma acentuada e possibilitaram um novo conceito de vida. Desde a primeira revolução industrial, no século XVIII, o mundo passou por uma série de alterações sociais, políticas, econômicas e tecnológicas. Esta última gerou um mundo globalizado.

Fonte: Blog Celi Marques Geografia.

A globalização ampliou a difusão do conhecimento, a diversificação cultural entre os povos e a possibilidade de comunicação ativa entre os países e entre as pessoas. Ao mesmo tempo, gerou mudanças consideráveis em alguns paradigmas sociais. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), autor de Vida para Consumo, conta que a sociedade moderna pensou em si mesma como uma atividade da cultura ou civilização e agiu sobre esse pensamento. Para ele, essa “ação civilizatória” tem como característica fundamental desmontar a realidade herdada; ou seja, pôr ordem no que lhe causa mal-estar, o caos. Nesse contexto, a modernidade busca a beleza e a harmonia, ao passo que na pós-modernidade é a liberdade individual que conta. De fato, é notável que hoje vivemos numa “sociedade do consumo”, como afirmou Bauman, e nesta “nova civilização” as ideias consumistas não fornecem alternativas para se ficar fora dela. Isso pode se relacionar com o que diz Manuel Castells, sociólogo espanhol nascido no ano de 1942. Em Sociedade em Rede propõe o conceito de “capitalismo informacional”, com o qual afirma que a revolução tecnológica deu origem ao informacionalismo, que é a base para uma nova sociedade onde a tecnologia da informação é considerada a ferramenta essencial na manutenção e construção do conhecimento pelos indivíduos, pois a criação e a reprodução da informação se tornam a principal fonte de produtividade e de poder. Isso condiz com o que o grande filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella (1954- ) diz em Viver em paz, para morrer em paz: “Hoje, a modernidade transformou o ruído numa forma de expressão, a tal ponto que nossa expressão de vida tem de ser ruidosa. Para serem notadas, para ganharem existência, as pessoas vivem em função de apelos que Guimarães Rosa chamou de “viver em voz alta”.”

Fonte: Blog Foregon.

Diante disso tudo fica evidente que o mundo passou e passa por constantes transformações. Mas, qual será a próxima transformação? E que consequências ela traria para a sociedade? A resposta pode ser dada a partir da majestosa obra O futuro do dinheiro, de Rudá Pellini, empreendedor brasileiro em grandes bolsas de valores, obra que traz na capa esta provocação: E se uma revolução financeira acontecesse agora: Você estaria preparado? A dada altura, Rudá conta que Roberto Setubal, presidente do Itaú/Unibanco, afirmou em uma reunião com analistas e investidores que estamos vivendo um mundo em grande transformação e que, por isso, não temos um rumo certo nem sabemos onde tudo isto vai parar, o que tem lhe tirando o sono.  Isso porque as fintechs, Tecnologias Financeiras, estão acompanhando o mercado acirradamente. Também para o líder bancário Roberto Campos Neto, se dá uma suposta transformação inevitável e ressalta a necessidade do sistema financeiro se adaptar a tais “novas mudanças”.

Analisando atualmente o mercado financeiro, podemos perceber notáveis evoluções. A primeira é que, depois de séculos, boa parte dos bancos estão em processo de adaptação às novas tendências, pois a tecnologia permitiu a criação de novas formas de guardar e investir dinheiro. O exemplo mais claro é a criação da startup brasileira Nubank, que possibilita a seu usuário ter um banco inteiramente digital que atende boa parte de suas necessidades pelo celular, desde a abertura da conta até uma solicitação de crédito ou transferência. É claro que ainda não é possível ter todas funções de um banco convencional, como um limite de crédito alto, mas é apenas uma questão de tempo para isso acontecer.

Todos os dias bolsas do mundo inteiro movimentam valores mobiliários e seus acionistas acompanham as novas tendências do mercado na “sociedade da informação”. Os grandes bancos buscam sempre se adaptar a tais tendências para não perder o devido espaço no mercado, muitos deles acabam comprando ideias e projetos para sair na linha de frente neste novo cenário. Portanto, a revolução financeira está com uma perspectiva previamente positiva. Por essa razão, se o indivíduo se adaptar às novas tecnologias, ele terá a possibilidade de conseguir uma liberdade e segurança financeira, pois as possíveis tendências a serem adotadas no mercado financeiro possibilitarão escolhas que reforçam a autoridade e a autonomia do próprio dinheiro.

Fonte: Cagle Cartoons.

Para exemplificar tais fatos, vamos voltar ao ano de 2008. O dia 15 de setembro, nos Estados Unidos, popularmente conhecido de “segunda-feira negra”, foi o marco da crise mobiliária que alastrou o país e automaticamente gerou um gigantesco impacto no mundo, sendo sua causa uma grande bolha de crédito criada pelos bancos americanos.

Fonte: Folha de São Paulo.

Em 1998, os bancos norte-americanos começaram a oferecer crédito para milhares de seus cidadãos. Para adquirir o recurso, não era necessário comprovar renda nem bens materiais. Até mesmo desempregados tinham acesso ao crédito, que ficou conhecido como “subprime” ou “segunda linha”. Após algumas manipulações no mercado e alguns anos passados, os devedores não pagaram suas dívidas e, logicamente, isso gerou um caos financeiro. No final desse ano, o governo fez impressão de moeda e livrou os grandes bancos da falência, e poucas pessoas foram responsabilizadas. Quem pagou a conta foi a população.

No meio da crise, criou-se o que pode ser o possível futuro do dinheiro: as criptomoedas. Em meados de outubro de 2008, Satoshi Nakamoto publicava o whitepaper Bitcoin: Um Sistema de Dinheiro Eletrônico Ponto-a-Ponto  em uma rede de discussão sobre criptomoedas. Na publicação, constava o funcionamento da moeda e todas suas principais características, a saber:

  • “o desenvolvimento de um sistema eletrônico de transação que dispensa o intermediário;
  • as assinaturas digitais que permitemforte controle sobre propriedade e previne o gasto duplo;
  • uma rede P2P que usa prova de trabalho para criar um registro públicoe impossível
    Fonte: BITICOINTRADE.

    para fraudadores modificarem, desde que os nós honestos controlem o sistema;

  • os nós trabalham com pouca coordenação e não precisam ser identificados, pois as mensagens jamais são enviadas para uma única localização;
  • os nós podem deixar e voltar à rede a qualquer hora porque a Blockchain é atualizada sempre que retornam à rede;
  • as regras e incentivos podem ser aplicados usando um sistema de votação.” (BITCOINTRADE, 2019.)
Fonte: IStock.

A Bitcoin tem várias características associadas aos conceitos anteriormente vistos. Feita em um momento de crise, carrega o diferencial de ser o grande medo dos bancos, e também de algumas pessoas, porque é uma moeda que não necessita dessas instituições para intermediar transações financeiras. A agencia bancária ou o clube de investimentos não são mais necessários. Antes nos questionarmos sobre a segurança dessa moeda, apresento (ver imagem ao lado) uma das boas invenções da evolução tecnológica: a Criptografia.

Em Por uma nova Globalização, Milton Santos de Almeida (1926-2001) apresenta a ideia de uma nova consciência universal. Afirma que a informação sustenta a atual ideologia mundial e, também, que ela carrega em si a “capacidade de ser algo diferente”. Se relacionarmos isso à proposta dos novos bancos digitais, fintechs e criptomoedas, e aos comentários dos líderes bancários citados anteriormente, conseguimos enxergar uma  possível perspectiva que se baseia na capacidade evolutiva do mercado financeiro, podendo ter uma possibilidade de uma mudança positiva na economia mundial, no quesito de liberdade e autonomia financeira. Pois, com o acesso ao conhecimento tecnológico e financeiro, o indivíduo poderá optar em qual ou quais plataformas irá atuar. Claro que para que toda essa revolução esteja aplicada de forma positiva, é necessário difundir e popularizar esse conhecimento e a tecnologia, só assim seria válida a utilização da expressão “Nova Globalização”. Afinal, como o próprio Milton Santos afirmava, “a cultura popular e a crescente capacidade de se comunicar impulsionada pelas novas tecnologias da informação dariam resultados […]”, se atingirem não só aqueles que utilizam o mercado financeiro como também englobarem aqueles não têm acesso a tais conhecimentos e tecnologias; parcela essa da população que é obrigada a aceitar serviços financeiros com taxas abusivas.

No que tange ao curso da tendência da qual trato aqui, vale a pena refletirmos a partir da análise de seu aspecto nacional. O Relatório de Cidadania Financeira publicado em 2018 pelo Bacen, o Banco Central do Brasil, apresenta o número dos pontos de atendimento por instituição financeira:

Imagem 1
Imagem 1 Fonte: Banco Central do Brasil
Imagem 2 Fonte: Banco Central do Brasil

 

 

 

 

 

 

Na IMAGEM 1 vemos que há 257.570 pontos de atendimento de instituições financeiras diversas, com expressiva vantagem ao segmento bancário, os bancos comuns.  A IMAGEM 2 apresenta a quantidade de transações em canais de acesso. Contudo, a IMAGEM 2 mostra o crescimento significativo dos pontos de acesso remoto, ao passo que o número de canais de atendimento físico tem se reduzido com o tempo. “As transações realizadas em canais presenciais – agências e postos tradicionais, caixas de autoatendimento e correspondentes bancários – diminuíram em 5% de 2015 a 2016 e voltaram a crescer 7% de 2016 a 2017. Já as transações por meio de canais não presenciais (home e office banking, call centers, smartphones e PDAs) registraram expansão significativa – de 20%, de 2015 a 2016, e de 21%, de 2016 a 2017 – e representam 66% do total das transações realizadas (remotas e presenciais). Nesse avanço, o destaque fica com as transações via smartphone, que vêm crescendo de maneira acentuada e, em 2017, já ultrapassaram aquelas feitas por meio do computador (internet, home e office banking).” (BACEN, 2020.) A propósito, a IMAGEM 3 apresenta o alcance em 2016 da posse de celular e do uso de internet no Brasil por região.

“Esse cenário é corroborado pelos resultados da edição 2017 da pesquisa mundial Global Findex Database. A sondagem é considerada uma das mais importantes com relação à inclusão financeira e usa como metodologia uma pesquisa por amostragem com a população acima de 15 anos. De acordo com dados do Global Findex, o percentual de pessoas que utilizaram a internet, no Brasil, tanto para pagar contas quanto para fazer compras subiu de 8,7% em 2014 para 17,6% em 2017. Para a mesma amostra da pesquisa, o percentual de pessoas que usaram o celular para pagar contas de serviços, como água e energia elétrica, aumentou de 0,8% para 3,9% no mesmo período. A análise desses dados confirma o rápido crescimento no acesso a canais remotos para serviços financeiros, porém os percentuais de uso ainda são baixos” (BACEN, 2020).

Com as informações acima, fica notável alguns aspectos da revolução financeira e que a mesma é acompanhada pela revolução tecnológica. Apesar do baixo percentual, é possível que boa parte da população se adeque a tais práticas tecnológicas e automaticamente se insira no SFN, o Sistema Financeiro Nacional, e, consequentemente, nessas práticas. “A implementação de soluções digitais poderia atender ao segmento da população que considera alto o custo de manutenção de uma conta bancária, uma vez que essas soluções tendem a ter custos mais baixo” (BACEN, 2020). Tendo isso em vista, no momento passamos a fase de conhecimento e adequação à nova plataforma. Portanto, para que ocorra uma revolução financeira saudável é extremamente necessária a aplicação de medidas educativas financeiras e tecnológicas para que a população em um contexto geral possa desfrutar de um ambiente melhor.

O futuro do dinheiro em si é algo muito incerto. Note-se, porém, que algumas possiblidades podem favorecer de forma positiva a população, considerando-se que a “Nova Economia” tem a principal característica a adaptabilidade ao perfil do usuário num curto espaço de tempo. Os bancos convencionais e os digitais, as cooperativas, as fintechs, dentre outros e outras, sempre vão buscar acompanhar as mudanças para não perder espaço de mercado. Por mais que exista o monopólio bancário, futuramente, com a educação financeira e tecnológica, as pessoas encontrarão um cenário muito mais favorável.

Gabriel Vicente de Oliveira é discente do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Pampa. Já atuou como pesquisador e líder de projetos na área tecnológica do Sesi e Senac, e por dois anos permaneceu ativo na carreira bancária no ramo de cooperativas de crédito. Atualmente, atua no setor administrativo em uma empresa do ramo plástico no Rio grande do Sul, além de ocupar o cargo de tesoureiro no Diretório Acadêmico Geraldo Crossetti.

Referências bibliográficas e Bibliografia:
PELLINI, Rudá. O futuro do dinheiro: banco digital, fintechs, criptomoedas e blockchain: entenda de uma vez por todos esses conceitos e saiba como a tecnologia dará liberdade e segurança para você gerar riqueza. São Paulo: Gente, 2019.
CORTELLA, Mario Sergio. Viver em paz para morrer em paz: se você não existisse, que falta faria?. São Paulo:  Planeta, 2017.
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2008.
KRETZER, Maria Clara. Resenha: “Por uma outra globalização”, de MILTON SANTOS. Florianópolis: UFSC, 2020.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. 15ª ed.. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de cidadania financeira. Brasília: BACEN, 2018.

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Revisão e edição de Walker Douglas Pincerati.