Inventário Arbóreo da cidade de Bagé | Programa Arborização Urbana

Inventário Arbóreo da cidade de Bagé

Fonte: Árvore Ser Tecnológico
O que é um inventário arbóreo urbano?

É um levantamento das árvores da cidade, através da análise de características qualitativas e quantitativas dos exemplares, que leva em conta parâmetros botânicos, ecológicos, fitossanitários, manejo e relação com os equipamentos urbanos.

Qual a importância das árvores?

As árvores são fundamentais não apenas em ambientes naturais, mas também nas cidades, pois apresentam uma série de funções ecológicas como, sombreamento e amenização da temperatura ambiente; diminuição da poluição atmosférica; liberação de oxigênio e absorção de gás carbônico; redução na velocidade do vento; evitam erosão e melhoram as condições do solo; regulação do ciclo hidrológico; redução dos níveis de poluição sonora; alimentação e habitat para uma série de seres vivos, como pássaros .

Além disso, o homem utiliza há milhares de anos os diferentes componentes das árvores, isto é, suas folhas, madeira, casca, raízes, resinas, flores e frutos para o consumo in natura ou como matéria-prima para a elaboração de uma série de produtos. Por fim, as árvores também possuem um valor estético, cultural, histórico, contribuindo para a saúde física e mental da população, em especial em zonas urbanas.

O que motivou nosso trabalho?

Em agosto de 2014, a Comissão de Arborização Urbana (CAU), compostas por integrantes do poder público e da sociedade civil, discutia como gerenciar a arborização de nossa cidade. Foi proposto um inventário arbóreo das principais praças e malha viária da região central de Bagé, permitindo o conhecimento deste patrimônio ambiental como ferramenta/subsidio à elaboração do Plano Municipal de Gestão de Áreas Verdes e Arborização da Região Urbana do Município de Bagé, RS.

Quem realizou o inventário arbóreo?

O inventário arbóreo foi realizado de forma integrada por diferentes instituições de ensino (UNIPAMPA, Faculdades IDEAU, IFSUL), organizações não governamentais (ECOARTE), Instituto de Permacultura da Pampa (IPEP), integrantes da sociedade civil e poder público municipal (SEMAPA).

A elaboração do inventário arbóreo durou cerca de dois anos e meio e o mesmo foi realizado de forma espontânea e gratuita pelas instituições que envolvidas no projeto.

Como elaboramos e executamos o inventário?

O inventário foi do tipo censo nas praças e em parte da malha viária do perímetro urbano da cidade de Bagé. Foram avaliados parâmetros quali-quantitativos de todos os indivíduos arbóreos com diâmetro à altura do peito (DAP) igual ou maior do que 3 cm.

O projeto foi realizado em “Módulos de Avaliação e Intervenção”:

  • Módulo 1: As 10 principais praças da cidade (Figura 1).
  • Módulo 2: Norte/Sul: Av. General Osório até Av. João Telles (Figura 2).
  • Módulo 3: Leste/Oeste: R. Gen. Flores da Cunha até R. Tenente Pedro Fagundes Oliveira (Figura 2).

Na malha viária foram inventariadas árvores existentes nos dois lados de calçada e no canteiro central.


O Projeto contemplou três etapas de trabalho para cada Módulo:

Etapa 1: Inventário arbóreo do módulo trabalhado.

Etapa 2: Elaboração de relatório diagnóstico com indicação das intervenções necessárias para o módulo.

Etapa 3: Execução e acompanhamento dos procedimentos de intervenção a serem realizados pela prefeitura Municipal de Bagé.

 

1- Carlos Gomes (Colégio Silveira Martins)

Identificação e localização das praças avaliadas no inventário arbóreo.

2- Barão do Rio Branco (Desportos)

3- Silveira Martins (Coreto)

4- Das Bandeiras (Calçadão)

5- Carlos Telles (Catedral)

6- Dom Diogo de Souza (Cemitério)

7- João Pessoa (Carretas)

8- Dr. Albano (Estação Rodoviária Velha)

9- Júlio de Castilhos (Estação)

10- Santos Dumont (Colégio São Pedro)


O trabalho foi divido em equipes multidisciplinares e de professores, técnicos e estudantes designados pelas instituições participantes do projeto.

Foram formadas quatro equipes: UNIPAMPA/ECOARTE; IFSUL; IDEAU e SEMAPA.

Localização da malha viária amostrada no inventário arbóreo.

De cada exemplar arbóreo foram elencadas às seguintes características:

  • Localização através de croqui para as praças. Para a malha viária foi anotada a quadra e o nº da residência/comércio na qual o exemplar está na calçada ou a referência mais próxima no caso do canteiro central;
  • Identificação da espécie;
  • Medidas de tamanho;
  • Estado fitossanitário e medidas de manejo; e
  • Relação com os equipamentos urbanos.

O que encontramos?

Foram inventariados 3004 árvores. Nas dez praças avaliadas foram catalogadas 1090 árvores.

Na malha viária da região central foram avaliadas 1209 árvores no Módulo 2 e 705 árvores no Módulo 3, conforme indicado nas tabelas 2 e 3. Portanto, totalizou-se 1914 árvores inventariadas.

Foram encontradas cerca de 120 espécies. As dez espécies com maior abundância foram: cinamomo, ligustro, jacarandá mimoso, uva-do-Japão, palmeira-de-leque, extremosa, aroeira salsa, palmeira jerivá, Pinus sp. e canafístula. Cerca de 60 % das árvores inventariadas são representadas pela referidas espécies.

Destaca-se a espécie palmeira-de-leque, que corresponde a 30,72% (N=90) das árvores amostradas na Av. Marechal Floriano.

E a saúde das árvores?

As saúdes das árvores da nossa cidade não vai muito bem…

Verificou-se que cerca de 21% das árvores inventariadas apresentam-se saudáveis, sem problemas nos sistemas radicular, caulinar, copa e presença de pragas e doenças. Com isso, observou que aproximadamente 79% das árvores apresentam problemas fitossanitários.

 Os principais problemas foram encontrados no caule, copa, pragas e doenças e raízes nesta ordem. Para o caule os problemas estiveram associados principalmente a injúrias, como cortes, vandalismo, presença de pregos e problemas decorrentes de podas mal realizadas, com apodrecimento do caule e consequente formação de buracos. Evidenciou-se a necessidade de manejo no caule envolvendo impermeabilização com fungicida nos locais de poda recente, dendrocirurgia e retirada de pregos ou fios.

Considerando a copa, cerca de 36% das árvores não foram podadas. Das 64% de árvores podadas, a maioria exibiu poda inadequada ou poda drástica. O manejo da copa, quando necessário, inclui poda de limpeza, poda de condução, poda de adequação à rede elétrica e poda de levantamento.

 As pragas e doenças envolveram principalmente a presença de erva-de-passarinho, cochonilhas e formigueiro no caule.

Para sistema radicular verificou-se que a maioria das árvores apresentou-se saudável, em especial nas praças avaliadas. Grande parte das árvores apresentou raízes profundas e que não causavam dano ao passeio público. O manejo envolve principalmente o aumento da permeabilidade da calçada.

E como as árvores de nossa cidade se relacionam com os equipamentos urbanos e edificações?

Como não existe nenhuma orientação sobre a adequação de árvores ao ambiente urbano no município, foi consultada uma série de manuais e legislações de outras cidades do país.

Verificou-se que cerca de 30% dos exemplares foram plantados na calçada e aproximadamente 70% das árvores encontravam-se no canteiro central da avenida. Observou-se também que cerca de 30% das árvores estão inadequadas com relação ao porte, isto é, isto é, tais árvores tem porte maior do que o recomendado para as calçadas.

Com relação a rede elétrica cerca de 27% das árvores encostam na fiação, contudo observou-se que apenas aproximadamente 6% das árvores podem causar problemas a fiação elétrica.

Verificou-se que cerca de 68% das árvores foram em frente a construções sem recuo predial, o que no futuro pode trazer uma limitação de espaço para o crescimento dessas árvores, em especial as árvores de porte grande. Outras inadequações de árvores para outras construções e equipamentos foram rampas de acesso a veículos ou cadeiras de rodas; distância de canos de drenagem; distância da caixa de inspeção; distância de placas de trânsito; distância de parada de ônibus, táxi, mototáxi.

Além disso, também se analisou a distância que as árvores foram plantadas entre si e verificou-se que a grande maioria, cerca de 80% estão muito próximas, principalmente no canteiro central, o que poderá dificultar o desenvolvimento pleno do vegetal, além de exibir um efeito estético indesejado.

O que concluímos com o nosso trabalho?

Atualmente os planos de arborização urbana dão preferência pelo plantio de espécies nativas, principalmente por nativas regionais, pois são estas são mais adaptadas às condições ecológicas de um determinado local. Com isso, projetos de plantios futuros devem utilizar preferencialmente espécies nativas e uma maior riqueza de espécies, a fim de aumentar a diversidade arbórea na região urbana de Bagé.

A fitossanidade das árvores analisadas tem sido afetada negativamente, devido principalmente às podas inadequadas, que não permitem a cicatrização dos galhos cortados, expondo o tecido lenhoso à umidade, ataque de fungos, podendo inclusive causar a mortalidade dos exemplares. Ações de manejo de árvores jovens e adultas devem incluir a realização de podas adequadas; instalação de calçadas verde, a fim de aumentar a área permeável às raízes; controle de erva-de-passarinho; campanhas informativas à população sobre maus-tratos e cuidados às árvores entre outras medidas, a fim de reverter a situação preocupante do parque arbóreo urbano de Bagé.

Há a necessidade urgente de um planejamento na arborização urbana, a fim de que as árvores sejam plantadas em locais adequados, que permitam seu desenvolvimento integrado à cidade. Para as árvores já existentes, alguns equipamentos urbanos podem ser realocados, quando possível, como placas de trânsito. Para a rede elétrica, podas menos invasivas e instalação de redes subterrâneas de luz podem ser opções para minimizar os danos ao patrimônio arbóreo da cidade.


Elaboração do texto: Vanessa Rosseto (coordenadora do projeto de pesquisa Inventário Arbóreo de Bagé)