Contos Lygianos
Com diferentes vozes que nos constituem (Bakhtin) -e aqui, nos referimos, sobretudo, como futuros professores de língua, materna ou não- retomamos as reflexões do pesquisador Larrosa no que toca à experiência no processo de formação docente. Para esse autor, […] É incapaz de experiência aquele quem nada lhe passa, a quem nada lhe sucede, a quem nada lhe toca, nada lhe chega, nada lhe afeta, a quem nada lhe ameaça, a quem nada lhe fere (LARROSA, 2004, p.161). Dessa forma, supomos que, como num conto de Lygia Fagundes Telles, podemos ser tanto o caçador quanto a caça perante o texto, em especial o literário. Porém, o importante no momento da leitura é a exposição, nossa maneira de ex-por-nos, com tudo o que isso tem de vulnerabilidade e de risco (Larrosa, 2004, p.164).
Posto isso, acreditamos que a última edição do projeto Clube do Livro, de 2021, que ocorreu na última sexta-feira, 04 de março, intitulada “Contos Lygianos”, nos lançou ao diálogo -despidos de teorias rígidas, estruturalistas, etc, que nos perseguem- com as reflexões de Larrosa e outros autores como Giorgio Agamben. Estas reflexões nos permitiram, a partir da leitura dos contos “Venha ver o pôr do sol” e “Natal na Barca”, ambos da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, um momento de partilha genuína entre os participantes que comentaram suas impressões, dúvidas e possíveis interpretações que perpassam desde a construção da heroína feminina, representada por Raquel em “Venha ver o pôr do sol”, até a presença da morte de si versus a do outro, em “Natal na barca”. Vale ressaltar que, a atividade foi encerrada com mais de uma hora de duração e contou com um número expressivo de participantes.
Por Icaro Cesar
Referência
LARROSA, J. Linguagem e educação depois de Babel. Tradução de Cynthia Farina. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
TELLES, Lygia Fagundes. Pomba enamorada ou Uma história de amor e outros contos escolhidos. L&PM Pocket. Porto Alegre, 2013.